|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Félix e Lola" frustra ao criar um jogo vazio
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Certos filmes provocam reações de algum modo piores
que outras. Existem os péssimos, dos quais a gente aconselha os leitores a fugir, e os
ruins, que são irritantes, mas
pelo menos têm a utilidade
de nos ajudar a distinguir os
bons por contraste. Já os médios ganham cotação regular
e provocam no espectador
aquela sensação de não ter
ganhado muita coisa assistindo aquilo. A esta classe
pertencem os títulos assinados pelo francês Patrice Leconte.
Regular em outro sentido é
a presença dos filmes dirigidos por este cineasta no mercado exibidor brasileiro há
quase duas décadas, quando
por aqui aportou o seu "Um
Homem Meio Esquisito" e
conquistou um inexplicável
sucesso de estima. Com sete
anos de atraso é a vez de "Félix e Lola", filme de 2001 cujo
ineditismo poderia ter se
mantido sem produzir abalos no rumo da vida de nenhum de seus fãs.
Como sempre no artesanato sem pretensões de Leconte, "Félix e Lola" pode
agradar alguns com a história de uma mulher misteriosa que desperta a atenção e o
coração do modesto funcionário de um parque de diversões.
Charlotte Gainsbourg é
Lola, que aparece do nada,
meio assustada por um passado que passeia em cena na
pessoa do cultuado cantor
francês Alain Bashung. A indefinição do caráter da personagem aproxima o filme
dos truques do cinema noir,
acentuado pelo cenário do
parque, com seus brinquedos que inclinam a ficção
mais para o irreal que para o
realismo.
A sucessão de climas, mantido com relativa habilidade
por Leconte, acaba se revelando como um jogo vazio de
esconde-esconde, no qual
nada se apresenta. Ao espectador resta a sensação de ter
sido vítima de uma trapaça
ao embarcar numa história
que promete muito e entrega
nada mais que um prosaico
caso de amor recheado com
diálogos de telenovela. Um
caso típico de "faux-semblant", como dizem os franceses, que, no nosso português, equivale a comprar gato por lebre.
FÉLIX E LOLA
Produção: França, 2001
Direção: Patrice Leconte
Com: Charlotte Gainsbourg , Philippe Torreton e Alain Bashung
Onde: estréia no Cinesesc
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular
Texto Anterior: Crítica/"Um Conto de Natal": Filme surpreende com humor e poesia Próximo Texto: Comida: Depois da comilança Índice
|