São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Félix e Lola" frustra ao criar um jogo vazio

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Certos filmes provocam reações de algum modo piores que outras. Existem os péssimos, dos quais a gente aconselha os leitores a fugir, e os ruins, que são irritantes, mas pelo menos têm a utilidade de nos ajudar a distinguir os bons por contraste. Já os médios ganham cotação regular e provocam no espectador aquela sensação de não ter ganhado muita coisa assistindo aquilo. A esta classe pertencem os títulos assinados pelo francês Patrice Leconte.
Regular em outro sentido é a presença dos filmes dirigidos por este cineasta no mercado exibidor brasileiro há quase duas décadas, quando por aqui aportou o seu "Um Homem Meio Esquisito" e conquistou um inexplicável sucesso de estima. Com sete anos de atraso é a vez de "Félix e Lola", filme de 2001 cujo ineditismo poderia ter se mantido sem produzir abalos no rumo da vida de nenhum de seus fãs.
Como sempre no artesanato sem pretensões de Leconte, "Félix e Lola" pode agradar alguns com a história de uma mulher misteriosa que desperta a atenção e o coração do modesto funcionário de um parque de diversões.
Charlotte Gainsbourg é Lola, que aparece do nada, meio assustada por um passado que passeia em cena na pessoa do cultuado cantor francês Alain Bashung. A indefinição do caráter da personagem aproxima o filme dos truques do cinema noir, acentuado pelo cenário do parque, com seus brinquedos que inclinam a ficção mais para o irreal que para o realismo.
A sucessão de climas, mantido com relativa habilidade por Leconte, acaba se revelando como um jogo vazio de esconde-esconde, no qual nada se apresenta. Ao espectador resta a sensação de ter sido vítima de uma trapaça ao embarcar numa história que promete muito e entrega nada mais que um prosaico caso de amor recheado com diálogos de telenovela. Um caso típico de "faux-semblant", como dizem os franceses, que, no nosso português, equivale a comprar gato por lebre.


FÉLIX E LOLA
Produção: França, 2001
Direção: Patrice Leconte
Com: Charlotte Gainsbourg , Philippe Torreton e Alain Bashung
Onde: estréia no Cinesesc
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular



Texto Anterior: Crítica/"Um Conto de Natal": Filme surpreende com humor e poesia
Próximo Texto: Comida: Depois da comilança
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.