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Comida
Depois da comilança
Barmen renomados ensinam receitas de drinques digestivos, próprios para consumir depois dos excessos das comemorações natalinas
LUIZA FECAROTTA
DO GUIA DA FOLHA
Diante da irresistível oferta
das mesas natalinas, controlar
a gula é uma missão difícil. Para
ao menos aliviar os efeitos decorrentes do excesso, há um caminho igualmente prazeroso.
Como parte do ritual, uma idéia
é seguir os hábitos de antigamente e apelar para um bom digestivo depois das refeições.
Nesta página, a convite da reportagem, quatro renomados
barmen de São Paulo ensinam
receitas de drinques digestivos
e fáceis de fazer em casa, com
ingredientes como conhaque,
café e sucos cítricos.
Das bebidas puras, o conhaque deve ser ingerido logo após
a comilança. "É uma bebida
muito alcoólica e inibe as papilas gustativas agindo como se
fosse uma anestesia e prejudica
o sabor do que será comido ou
bebido em seguida. Por isso, o
ideal é servi-lo depois da refeição", explica o sommelier Dionísio Chaves, 35, do Fasano Al
Mare, que já deu palestra sobre
bebidas digestivas no Rio de Janeiro. "O vinho do Porto, um
tinto doce e fortificado, além de
harmonizar com a sobremesa,
pode ser um bom digestivo para acompanhar o charuto."
Normalmente, no final de
uma refeição é comum ingerir
bebidas envelhecidas em carvalho, com teor alcoólico entre 40
a 45% -e o ápice, segundo o especialista, é a companhia de
charutos encorpados. Também
pertence a essa ala o calvados,
destilado de maçã produzido
na Normandia, na França.
Se houver desconforto estomacal no dia seguinte, porém,
Chaves sugere digestivos de outra natureza: "Nesses casos, os
amargos são melhores, pois
têm uma função mais medicinal do que os destilados puros.
Os vermutes italianos, o Underberg e o fernet sofrem infusões de ervas e, em conjunto
com o álcool, favorecem a digestão e melhoram a azia".
Sabor diferente
Preparada na coqueteleira, a
mistura de uva-rubi macerada
e conhaque passa por um processo de oxidação e ganha um
sabor diferente. É assim que o
barman Henrique Medeiros,
do restaurante Kinoshita, descreve sua criação batizada como "Hikari". "Até brinco porque ninguém consegue identificar os ingredientes. Acham
que tem banana, pêssego..."
Aromatizado com raspas de
casca de tangerina, gotas de suco de limão e cravo, o drinque
"Esch Caramel", do barman
Derivan Ferreira de Souza, 53,
é servido tampado para, na hora de degustá-lo, emanar o perfume de forma intensa. "Escolhi o xarope de caramelo porque o uísque envelhecido em
barril de carvalho solta aromas
de baunilha ou caramelo. Assim, eu alcanço um toque mais
adocicado, sem perder a característica do uísque", explica.
Segundo o barman, que tem
livros publicados e hoje é o titular no Esch Café, os digestivos
costumam ser drinques mais
curtos, que podem combinar
destilados e especiarias. Para
reforçar, relembra a eficiência
dos amargos para o dia seguinte
do exagero à mesa.
O "Atleta do Século" foi criado em homenagem a Pelé na
década de 1980. Na época em
que Kascão, 40, atual barman
do Dry, trabalhava na clássica
boate Gallery, o ex-jogador costumava pedir uma dose de conhaque francês ou uma dose de
licor de pêssego nas madrugadas. "Em uma noite fria, ele
apareceu e eu me inspirei no
irish coffee para criar um drinque especial, com café quente,
chantilly e conhaque. Depois,
isso resultou na minha demissão, pois criei uma bebida
quando o barman principal estava ausente", conta Kascão.
Preparado especialmente
para a Folha, Souza, 34, um dos
barmen mais conhecidos da cidade, hoje no comando do bar
Veloso, nomeou seu drinque de
"Natalino" e, seguindo a proposta de criar uma bebida digestiva, aproveitou para usar
na receita brandy, licor de avelã (Frangélico), café quente e
canela em pó, para finalizar.
Servido em um copo "old fashion", o drinque ganha um arremate com uma cereja.
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