|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
Músico alcança ponto de equilíbrio ideal
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando se ouve um disco como "Futurismo",
uma das primeiras
perguntas a vir à mente é: como
não se fazem mais álbuns assim? Kassin, desta vez tomando a frente no projeto +2, é desses raros músicos que se situam
numa espécie de ponto de equilíbrio ideal.
Original e afeito a experimentações, bom compositor
pop sem se render a fórmulas e
clichês, tem um certo senso de
leveza e descontração que permeia tudo o que faz.
Depois do excelente "Máquina de Fazer Música" (em que o
+2 tinha à frente Moreno Veloso) e da obra-prima "Sincerely
Hot" (com o baterista Domenico Lancelotti como frontman),
este "Futurismo" já nasce com
expectativas invertidas: a única
coisa que se podia esperar é que
seria diferente dos dois primeiro discos do grupo.
A relação com os dois anteriores é clara, mas o disco segue
seu próprio caminho. O grande
talento de Kassin -em especial
neste disco solo- é sua capacidade de tirar o melhor de cada
universo pelo qual se interessa.
Assim, juntando sua experiência de produtor dos mais diversos artistas com seu bom gosto
de ouvinte, ele passa pela bossinha "Futurismo", pelo indie-rock climático de "Mensagem",
pela guitarrada good vibe de
"Água", pela singeleza de
"Quando Nara Ri", pelo quase-surf de "Homem ao Mar", pelo
suingue setentista de João Donato de "O Seu Lugar".
Donato participa do disco fazendo referência a seus próprios discos dos anos 70, como
"Quem É Quem". Jorge Mautner, Adriana Calcanhotto, Los
Hermanos também aparecem
no CD, que é a culminação de
tudo que Kassin fez em seus
trabalhos como músico e produtor, incluindo sua passagem
pela banda Acabou La Tequila e
a Orquestra Imperial.
Brincando com suas próprias
referências, criando arranjos
simples mas recheados de pequenas surpresas, com letras
sobre um mundo mais tranqüilo, calmo e devagar, o título do
álbum é acertado, mas obviamente não se sustenta sem ironia. O futurismo de Kassin é
um futurismo retrô, como o
próprio movimento artístico
que lhe dá nome, como se ele
estivesse buscando no passado
o ponto em que a música começou a se tornar menos interessante e dali retomou o caminho, criando um futuro alternativo em que a música pode
realmente existir sendo criativa, divertida e inteligente como
a sua.
FUTURISMO
Artista: Kassin+2
Lançamento: PingPong
Quanto: R$ 23
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Tom Jobim é tema de filmes e caixa de DVDs Índice
|