São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

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Crítica

Músico alcança ponto de equilíbrio ideal

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando se ouve um disco como "Futurismo", uma das primeiras perguntas a vir à mente é: como não se fazem mais álbuns assim? Kassin, desta vez tomando a frente no projeto +2, é desses raros músicos que se situam numa espécie de ponto de equilíbrio ideal.
Original e afeito a experimentações, bom compositor pop sem se render a fórmulas e clichês, tem um certo senso de leveza e descontração que permeia tudo o que faz.
Depois do excelente "Máquina de Fazer Música" (em que o +2 tinha à frente Moreno Veloso) e da obra-prima "Sincerely Hot" (com o baterista Domenico Lancelotti como frontman), este "Futurismo" já nasce com expectativas invertidas: a única coisa que se podia esperar é que seria diferente dos dois primeiro discos do grupo.
A relação com os dois anteriores é clara, mas o disco segue seu próprio caminho. O grande talento de Kassin -em especial neste disco solo- é sua capacidade de tirar o melhor de cada universo pelo qual se interessa.
Assim, juntando sua experiência de produtor dos mais diversos artistas com seu bom gosto de ouvinte, ele passa pela bossinha "Futurismo", pelo indie-rock climático de "Mensagem", pela guitarrada good vibe de "Água", pela singeleza de "Quando Nara Ri", pelo quase-surf de "Homem ao Mar", pelo suingue setentista de João Donato de "O Seu Lugar".
Donato participa do disco fazendo referência a seus próprios discos dos anos 70, como "Quem É Quem". Jorge Mautner, Adriana Calcanhotto, Los Hermanos também aparecem no CD, que é a culminação de tudo que Kassin fez em seus trabalhos como músico e produtor, incluindo sua passagem pela banda Acabou La Tequila e a Orquestra Imperial.
Brincando com suas próprias referências, criando arranjos simples mas recheados de pequenas surpresas, com letras sobre um mundo mais tranqüilo, calmo e devagar, o título do álbum é acertado, mas obviamente não se sustenta sem ironia. O futurismo de Kassin é um futurismo retrô, como o próprio movimento artístico que lhe dá nome, como se ele estivesse buscando no passado o ponto em que a música começou a se tornar menos interessante e dali retomou o caminho, criando um futuro alternativo em que a música pode realmente existir sendo criativa, divertida e inteligente como a sua.


FUTURISMO     
Artista: Kassin+2
Lançamento: PingPong
Quanto: R$ 23


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