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Crítica/"A Arquitetura do Novo Milênio"
Obra vê arquitetura de forma integrada
Leonardo Benevolo, autor do famoso "História da Arquitetura Moderna", deixa lacunas por seus julgamentos subjetivos
GUILHERME WISNIK
ESPECIAL PARA A FOLHA
A editora Estação Liberdade entra no mercado
editorial de arquitetura
com um título seguro e pertinente: o novo livro de Leonardo
Benevolo, cujo tema é a produção contemporânea. Pesquisador e professor de reconhecida
importância, Benevolo é autor
do famoso "História da Arquitetura Moderna" (escrito em
1960 e lançado no Brasil em
1976), até hoje o principal manual de história das faculdades
de arquitetura do país.
No livro novo, o próprio autor se resenha: não se trata
mais de uma "história", cuja
narrativa devesse buscar coerência e completude, mas de
uma certa visão da atualidade,
guiada por julgamentos necessariamente subjetivos e provisórios. Os propósitos, como se
vê, são bons. Mas é patente a
percepção de que, nesse caso, o
melhor do autor acaba se perdendo. É que a temática proposta pede um ensaísmo mais
afiado e rente à análise das
obras, enquanto Benevolo é (e
sempre foi) um craque em visões gerais. O resultado é um
manual cheio de lacunas.
Benevolo é uma espécie de
Fernand Braudel da arquitetura: sua "história" segue um curso linear e eurocêntrico, movida pela crença no sucesso inabalável do Movimento Moderno, posto em marcha desde a
Revolução Industrial. Assim,
ao tratar da produção contemporânea, elege "mestres" europeus cuja produção passa ao
largo das turbulências ideológicas dos anos 60 a 80: a revisão
crítica pós-moderna.
São eles Gino Valle, Vittorio
Gregotti, Giancarlo de Carlo,
Rafael Moneo e Álvaro Siza, italianos e ibéricos que mantêm
uma produção ainda próxima
da artesanal e que o autor chama de "herdeiros da tradição
moderna". E, na seqüência,
Norman Foster, Richard Rogers, Renzo Piano e Jean Nouvel, "os inovadores" ligados à
exploração tecnológica da
construção e ao gosto pela
"criação pura", que o autor diz
serem os arquitetos mais criativos da atualidade.
Entre os norte-americanos,
tratados em capítulo separado
(e marginal), elege o mais "clássico" de todos: Richard Meier.
Já Peter Eisenman e Frank
O.Gehry, por exemplo, são desprezados como excêntricos e
maneiristas. Julgamentos à
parte, fica a pergunta: faz sentido pensar ainda em termos de
"escolas nacionais" em plena
globalização?
Por outro lado, há uma virtude em sua abordagem que se
mantém no novo livro: o esforço de pensar a produção arquitetônica e o planejamento urbano e territorial de forma integrada. Assim, dedica um capítulo à transformação das cidades européias desde a reconstrução do pós-guerra até a criação das "cidades globais", além
de algumas páginas ao crescimento urbano da China.
Com base na compreensão
de uma necessária interface entre arquitetura e urbanismo,
explica de modo interessante a
sólida inovação formal da arquitetura holandesa (Herman
Hertzberger, Rem Koolhaas,
Ben van Berkel, Mecanoo e
MVRDV). Trata-se, segundo o
autor, de um resultado natural
da segurança dada pela eficiente gestão pública das suas cidades, que faz com que a arquitetura, naquele caso, não se descole da realidade como uma extravagância isolada.
GUILHERME WISNIK é arquiteto e autor de "Lucio Costa" (Cosac Naify, 2001)
A ARQUITETURA NO NOVO MILÊNIO
Autor: Leonardo Benevolo
Tradução: Letícia Martins de Andrade
Editora: Estação Liberdade
Quanto: R$ 86 (496 págs.)
Avaliação: bom
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