São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2008

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Crítica/"A Arquitetura do Novo Milênio"

Obra vê arquitetura de forma integrada

Leonardo Benevolo, autor do famoso "História da Arquitetura Moderna", deixa lacunas por seus julgamentos subjetivos

GUILHERME WISNIK
ESPECIAL PARA A FOLHA

A editora Estação Liberdade entra no mercado editorial de arquitetura com um título seguro e pertinente: o novo livro de Leonardo Benevolo, cujo tema é a produção contemporânea. Pesquisador e professor de reconhecida importância, Benevolo é autor do famoso "História da Arquitetura Moderna" (escrito em 1960 e lançado no Brasil em 1976), até hoje o principal manual de história das faculdades de arquitetura do país.
No livro novo, o próprio autor se resenha: não se trata mais de uma "história", cuja narrativa devesse buscar coerência e completude, mas de uma certa visão da atualidade, guiada por julgamentos necessariamente subjetivos e provisórios. Os propósitos, como se vê, são bons. Mas é patente a percepção de que, nesse caso, o melhor do autor acaba se perdendo. É que a temática proposta pede um ensaísmo mais afiado e rente à análise das obras, enquanto Benevolo é (e sempre foi) um craque em visões gerais. O resultado é um manual cheio de lacunas.
Benevolo é uma espécie de Fernand Braudel da arquitetura: sua "história" segue um curso linear e eurocêntrico, movida pela crença no sucesso inabalável do Movimento Moderno, posto em marcha desde a Revolução Industrial. Assim, ao tratar da produção contemporânea, elege "mestres" europeus cuja produção passa ao largo das turbulências ideológicas dos anos 60 a 80: a revisão crítica pós-moderna.
São eles Gino Valle, Vittorio Gregotti, Giancarlo de Carlo, Rafael Moneo e Álvaro Siza, italianos e ibéricos que mantêm uma produção ainda próxima da artesanal e que o autor chama de "herdeiros da tradição moderna". E, na seqüência, Norman Foster, Richard Rogers, Renzo Piano e Jean Nouvel, "os inovadores" ligados à exploração tecnológica da construção e ao gosto pela "criação pura", que o autor diz serem os arquitetos mais criativos da atualidade.
Entre os norte-americanos, tratados em capítulo separado (e marginal), elege o mais "clássico" de todos: Richard Meier.
Já Peter Eisenman e Frank O.Gehry, por exemplo, são desprezados como excêntricos e maneiristas. Julgamentos à parte, fica a pergunta: faz sentido pensar ainda em termos de "escolas nacionais" em plena globalização?
Por outro lado, há uma virtude em sua abordagem que se mantém no novo livro: o esforço de pensar a produção arquitetônica e o planejamento urbano e territorial de forma integrada. Assim, dedica um capítulo à transformação das cidades européias desde a reconstrução do pós-guerra até a criação das "cidades globais", além de algumas páginas ao crescimento urbano da China.
Com base na compreensão de uma necessária interface entre arquitetura e urbanismo, explica de modo interessante a sólida inovação formal da arquitetura holandesa (Herman Hertzberger, Rem Koolhaas, Ben van Berkel, Mecanoo e MVRDV). Trata-se, segundo o autor, de um resultado natural da segurança dada pela eficiente gestão pública das suas cidades, que faz com que a arquitetura, naquele caso, não se descole da realidade como uma extravagância isolada.


GUILHERME WISNIK é arquiteto e autor de "Lucio Costa" (Cosac Naify, 2001)

A ARQUITETURA NO NOVO MILÊNIO
Autor:
Leonardo Benevolo
Tradução: Letícia Martins de Andrade
Editora: Estação Liberdade
Quanto: R$ 86 (496 págs.)
Avaliação: bom


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