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NETVOX
Mais fundo na Internet
MARIA ERCILIA
do Universo Online
Os tecnófilos adoram dizer
que o livro acabou, mas o fato
é que nunca se escreveu tanto
sobre tecnologia -livros mesmo, de papel, com lombadas,
orelhas e noites de autógrafos.
É toda uma safra de livros
ruins, mal-acabados e mal-ajambrados. Sejam profecias
mirabolantes, como "A Vida
Digital", de Negroponte, ou
romancinhos de ocasião como
"Micro-servos", de Douglas
Coupland, a maioria cheira a
oportunismo e envelhece mal.
Não é o caso de "Deeper"
(Mais fundo), da Simon &
Schuster. Seu autor, John Seabrook, fez de seus passeios na
Internet uma boa e sólida narrativa, não uma cacofonia de
promessas e terrores.
Seabrook é repórter da revista "New Yorker". Em 95, escreveu um artigo que marcou
sua iniciação no cyberspace.
"E-mail com Bill" conta sua
troca de mensagens com Bill
Gates. Naquele texto já aparecia o personagem adotado por
ele em "Deeper": alguém com
quem o leitor se identifica facilmente, cheio de emoção com
o primeiro e-mail, a imaginar
possibilidades ilimitadas para
a Internet.
O artigo também marcou a
primeira incursão da "New
Yorker", revista séria e conservadora, no mundo da Internet. Em
"Deeper",
Seabrook
completa o
percurso que
começou com
"E-mail com
Bill". Passa
por uma série
de iniciações
no reino da
Internet. Experimenta -de leve- o sexo
on line, disfarçado de mulher.
Sua personagem se chama Bambi e às vezes vira um veado -o animal. Torna-se anfitrião de um grupo de discussão sobre literatura. Faz sua home
page. No percurso da inocência
à experiência, fica cada vez
mais à vontade com a tecnologia e desiludido com a
aventura.
Seabrook
tem um bom
e sólido texto
de revista.
Teve a sutileza de se colocar no lugar
daquele que
usa o computador -acompanhando os
movimentos de surpresa, de
decepção, de enfado etc. Sua
história poderia ser a de qualquer um, sozinho, a queimar a
vista diante do monitor.
Sua página fica em http://www.levity.com/seabrook/. Existem
outras, "escondidas":
http://www.levity.com/seabrook/revindex.html, http://levity.com/seabrook/homenet.html.
"The First US$ 20 Million
Are the Hardest" (Os primeiros US$ 20 milhões são os mais
difíceis") é praticamente o oposto de "Deeper". Seu autor, Po Bronson, escreve num
estilo vertiginoso de best seller.
É uma espécie de "roman à
clef" do Silicon Valley. Um
personagem lembra Jim Clark,
fundador da Netscape. Outro é
a cara de James Gosling, criador do Java. O protagonista
tem um quê de Steve Jobs.
A história gira em torno de
engenheiros envolvidos no
projeto de um computador, o
VWPC (PC-Fusca).
O romance é médio, mais para ruim, mas Bronson consegue captar a mistura de idealismo e venalidade que caracteriza o ambiente da indústria
da computação norte-americana, em que sonhos de garotos são submetidos a uma alquimia brutal. Sua metáfora
preferida é o loop infinito -o
que acontece quando um computador se põe a repetir as
mesmas instruções e "trava".
A página de Bronson no
http://members.aol.com/pobronson/hardest.htm.
Jam
Foi ontem o "show" de Paulinho da Viola e Sérgio Reis.
Via Internet, com Real Audio.
Confira no http://www.artbr.com.br.
E-mail: netvox@uol.com.br
"Eu passei horas demais em
amargas discussões com furiosos
antagonistas, quando num encontro face a face teríamos resolvido
nossas diferenças em cinco minutos, para acreditar ainda em promessas utópicas de tecnologia.
Qualquer que seja a capacidade
deste meio de reunir as pessoas,
ele tem uma igual capacidade de
abrir abismos entre elas." (...)
"Afinal, não interessa se o mundo on line representa progresso ou
não. O gigantesco cérebro eletrônico, meio humano, meio máquina, cresce e cresce. Mesmo Bill Gates é sua marionete. Não tem nenhum propósito moral que eu
consiga discernir mas, como eu,
muitos serão incapazes de recusá-lo, assim você pode muito bem
avançar confiantemente e esperançosamente na única direção
que faz sentido: mais fundo. Não é
progresso, mas é movimento."
Trechos de "Deeper".
TRECHOS
"Aquilo era outra coisa. Eles
odiavam ter que traduzir seu trabalho em metáforas aguadas para
a turma dos sapatos engraxados
-os advogados fuxiqueiros, os
escribas da mídia, os patrocinadores em potencial que apareciam
querendo "entender" sem fazer o
trabalho duro de prestar atenção.
Esta era apenas mais uma razão
para Francis Benoit estar feliz de
trabalhar no La Honda Research
Center e não em alguma empresa
nova, porque (...) trabalhar numa
empresa nova significava passar
80% do tempo fazendo merda
-indo atrás de capital de risco,
escrevendo documentação, contratando gente. E as reuniões! Participar daquele jogo seria um desperdício de talento concedido por
Deus, seria um crime contra sua
própria natureza."
Trecho de ``The First US$ 20 Million are
the Hardest''
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