São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 2006

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Senhores do Oscar


Rubens Ewald Filho e José Wilker expõem estilos diferentes para comentar a cerimônia na TV

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
O crítico Rubens Ewald Filho olha uma cópia da estatueta do Oscar, em sua casa, em SP; neste ano, ele apresenta a festa pela 22ª vez


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

No próximo domingo, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho estará dentro de um smoking, num estúdio de TV, em Los Angeles, pronto para a 22ª transmissão do Oscar em sua carreira. Ele comentará a festa pelo canal pago TNT.
O ator José Wilker usará "no máximo uma gravatinha", para fazer o mesmo, pela tela da Globo, instalado nos estúdios da emissora, no Rio de Janeiro.
Como nem o horário ingrato para os brasileiros (23h) nem a duração extensa da cerimônia (três horas) arrefecem o interesse do espectador pelo ápice do glamour de Hollywood, Ewald Filho e Wilker acabam bafejados por uma certa aura de estrelato.
Ewald Filho, 58, sente há tempos o efeito desses respingos. Ele é a própria cara do Oscar no Brasil, a fisionomia que o espectador mais identifica com o conhecimento do cinema norte-americano, os meandros de sua indústria e os bastidores da vida das grandes estrelas.
"O público acha que você é amigo dos artistas, freqüenta a casa de todos. Às vezes a gente até faz isso, mas não exatamente com o Tom Cruise", conta Ewald Filho.

Verdade
Ele diz que "não adianta tentar desmistificar" a imagem de conviva da alta-roda artística. "O público não quer ouvir a verdade. Não quer saber se estou com conta atrasada ou algum problema."
A constatação do crítico não é uma censura ao gosto pela ilusão, ao escape momentâneo para um mundo de sonho. Afinal, são esses os elementos que movem a máquina de Hollywood e que atraem o próprio Ewald Filho.
"Esse lado "gente como a gente" [dos astros] eu também não quero, pombas. Eu quero o glamour, como o público."
Para esse Oscar, ele fez um smoking sob medida nos EUA. Nem poderia usar traje diferente. Ao credenciar os jornalistas, a Academia avisa que expulsará da festa os que não se vestirem em gala.
Ewald Filho tornou-se crítico de cinema muito antes de assinar as primeiras resenhas na "Tribuna de Santos", o "jornal grande, mas muito quadrado" em que teve seu emprego inicial como jornalista.
"Com dez anos de idade, comecei a anotar num caderninho os filmes que vi", lembra Ewald Filho. A conta atual dos títulos a que assistiu ultrapassa 23.900 nomes.
O gosto pelo cinema nasceu desde a infância porque Ewald Filho foi aquele tipo de garoto "que jamais teve um amigo, que jamais jogou bola", que, enfim, acostumou-se a olhar a vida como um espectador distante.
Quando já era adulto e um crítico estabelecido, vivendo na cidade de São Paulo, Ewald Filho ensaiou seus passos no caminho que notabilizou Wilker -o de ator.
A carreira de Ewald Filho na arte da interpretação estacionou em 1982, depois de atuar em "Amor, Estranho Amor", o filme em que Walter Hugo Khouri desnudou Xuxa, para arrependimento dela, quando "rainha dos baixinhos".
A quem não se lembra, o crítico avisa: "Estou na cena do strip-tease [de Xuxa]". Talvez seja informação útil para a própria apresentadora. "Ao contrário da Vera Fischer [estrela do filme], a Xuxa nunca me olhou na cara durante as filmagens. E eu já era um crítico conhecido. Estava na Globo", diz.

Barreira ética
Foi precisamente a notoriedade como crítico da Globo, onde trabalhou durante 12 anos, comentando a cada um a premiação do Oscar, que fez Ewald Filho decidir abandonar sua porção ator.
"Eu fazer cinema e criticar ao mesmo tempo esbarrava numa barreira ética. Embora no Brasil ninguém leve isso a sério, eu levo. Iam dizer: "Ah, ele está elogiando fulano porque quer um papel"."
O estilo de transmissão que Ewald Filho consolidou na Globo e manteve nos outros canais em que trabalhou (HBO, SBT, Record) é o do evidente especialista.
Dono de prodigiosa memória, o crítico menciona filmes e profissionais do cinema a uma velocidade impressionante. Nos "pot-pourris" de cenas que o Oscar infalivelmente exibe, ele é capaz de citar cada pessoa e título que surge na tela, sem errar nenhum.

Descontração
Ocupando pela segunda vez o posto que foi de Ewald Filho na Globo, Wilker, 60, adota estilo diferente do de seu antecessor. "Aposto na descontração. A minha idéia é que se faça uma transmissão como se fosse uma conversa absolutamente informal."
Embora seja também um grande conhecedor de cinema, Wilker diz que se equipara sempre ao lugar do espectador. "Não me sinto confortável me comportando como enciclopédia. Eu me sinto confortável me comportando como espectador. Estou muito mais na sala de visitas do que na frente da sala de aulas", afirma.
Cada um dos mestres-de-cerimônia terá ao seu lado um par feminino. A jornalista Maria Cândida divide a cena com Ewald Filho. O diálogo de Wilker será com a apresentadora Maria Beltrão.
No TNT, Ewald Filho comentará desde a chegada dos artistas para a cerimônia, aquele feérico desfile de celebridades pelo "tapete vermelho" que, neste ano, terá a duração de uma hora, dobro do tempo habitual.
Wilker economizará seus palpites nesta etapa, ficando longe do microfone. "Não comento o "tapete vermelho". Só depois. Até porque, tudo o que se fala aí é sobre o vestido dessa, os óculos daquele e a certeza de que, no ano que vem, [o ator] Jack Nicholson vai ser indicado e, muito provavelmente, vai ganhar", ironiza.
Nas apostas sobre os vencedores do Oscar 2006, Ewald Filho e Wilker concordam discordando, como se vê no texto ao lado.


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