DA REPORTAGEM LOCAL

O esoterismo exacerbado, a excentricidade na hora de nomear a cria (como superar a trinca Riroca/Sarah Sheeva, Zabelê e Nana Shara?), a descrição dos contatos de terceiro grau com criaturas alienígenas e, mais recentemente, o anúncio de que se tornou evangélica garantiram a Baby do Brasil, ao longo das décadas, um lugar cativo no panteão da galhofa nacional. Por outro lado, a coleção de factóides ajudou a sedimentar uma injustiça musical: até hoje, pouca gente leva a sério a doce voz de "A Menina Dança".
Para quem está aberto a reconsiderar o julgamento, o "Repertório Popular" desta madrugada oferece uma boa chance. O especial, de 29 anos atrás, flagra Baby (Consuelo, à época) e Pepeu Gomes, então casados, engatinhando na carreira solo.
Os Novos Baianos eram folha virada e Baby, passeando entre o chorinho, o frevo e o jazz, fazia jus ao título de seu disco, "O Que Vier Eu Traço", enquanto Pepeu sondava as fronteiras da música instrumental.
No programa, ele ataca de "Frevo da Doideira" e "Malacaxêta". Ela vai de "Brasileirinha". Juntos, fazem "Samba Fenomenal", do compadre Moraes Moreira (com Fausto Nilo). Ressoando em uma chave diferente da teatralidade de Bethânia ou da voragem de Elis, o timbre peralta da fluminense mais baiana da MPB empolga. (LUCAS NEVES)