São Paulo, sábado, 26 de março de 2005

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14º FESTIVAL DE CURITIBA

Cena universitária ganha espaço

VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Formado por espetáculos que nascem nos cursos de artes cênicas (direção e ator), o segmento do teatro universitário conquista de vez território neste 14º Festival de Teatro de Curitiba.
Em oito anos de Fringe, a mostra paralela, pela primeira vez a programação reúne endereços fixos para essa ala jovem propícia ao experimento e risco que muitas vezes faltam à cena contemporânea -como se viu em 2002 na peça "Hysteria", do Grupo XIX de Teatro, que emergiu da USP.
Unicamp e USP estão representadas no Fringe por 20 produções dos respectivos departamentos de artes cênicas. Durante dez dias, até amanhã, cada uma delas ocupa uma "casa provisória": a Casa Hoffmann (USP), instituição que normalmente fornece residência para pesquisas em dança e artes plásticas, e o Espaço Cultural Falec (Unicamp), braço artístico de uma faculdade voltada para estudos teológicos.
O Teatro Universitário Candango (Tucan), ligado à Universidade de Brasília (UnB), teve cinco espetáculos na mostra paralela, um deles apresentado numa quadra de um batalhão de infantaria blindada do Exército.
"O Tucan foi criado há 15 anos para ser um espaço de troca fora da academia", diz o diretor Hugo Rodas, 65. "É como se fosse uma corrente sangüínea. Graças às novas cabeças, a minha permanece funcionando", diz Rodas, uruguaio radicado no Brasil há 30 anos que já trabalhou com Zé Celso e Antônio Abujamra.
O projeto Casa Provisória, da USP, apresentou nove espetáculos na Casa Hoffmann. Também privilegiou a reflexão, com debates, leituras dramáticas e vídeos. "O festival deveria investir mais nesse núcleo. O público e os artistas têm acesso a um agrupamento de linguagens que traça um panorama do pensamento construído dentro da universidade", diz o diretor e dramaturgo Ruy Filho, 32, um dos organizadores.
Na prática, diz ele, uma "casa" possibilita ainda mais profissionalismo às produções, inclusive com mais tempo para ensaios, um luxo dentro da apertada grade de horários no Fringe (o intervalo médio é de uma hora para desmontar, montar o cenário da peça seguinte e afinar luz e som).
"Também gostaria de conhecer o teatro que é feito na CAL [Centro de Artes de Laranjeira, no RJ], do [teatro escola] Célia Helena, da Escola Livre de Teatro [de Santo André]", diz Ruy Filho. Já a cena curitibana é concentrada pelos alunos da Faculdade de Artes do Paraná (FAP).
A gana dos universitários pelo fazer teatral é notada dentro e fora do palco. Foi o que moveu o elenco de "Catléia", da Cia. Apnéia (Unicamp), a cruzar o largo da Ordem, ponto de encontro do festival, com breves passagens de cena, com direito a figurinos, canto e violino. Tudo para divulgar a peça baseada no poema "A Dupla Chama", de Octávio Paz. E os relógios marcavam 2h07 da madrugada de sábado para domingo.


O jornalista Valmir Santos, o crítico Sergio Salvia Coelho e a repórter fotográfica Lenise Pinheiro viajam a convite da organização do 14º FTC


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