JOÃO PEDRO STEDILE

Quem não gostou nada da glorificação dos usineiros feita por Lula foi João Pedro Stedile, líder do MST. Por e-mail, ele respondeu à coluna e enviou uma poesia que "brinda" os novos heróis do presidente:  

FOLHA - Usineiros são heróis?
JOÃO PEDRO STEDILE - A frase do Lula foi muito infeliz. E foi sobretudo uma ofensa aos milhões de assalariados rurais, bóias-frias, superexplorados na monocultura da cana que votaram nele. Foi uma afronta às dezenas de viúvas de trabalhadores rurais que nas últimas décadas foram assassinados, no Nordeste e em Pernambuco, a mando de usineiros inescrupulosos. Se o presidente tivesse lido Josué de Castro, saberia que a monocultura da cana é a responsável pela pobreza e pela fome existentes no litoral nordestino há 400 anos.
 
Stedile enviou à coluna também uma mensagem que circula na internet, com a foto de um copo de cristal que se quebra: "Tim-tim!!! Brindando aos novos heróis de um presidente que abandonou os brasileiros que trabalham em canaviais à sua própria desdita". O "brinde" vem acompanhado da canção "Mentiras", de Adriana Calcanhotto: "Nada ficou no lugar/ Eu quero entregar suas mentiras/ Eu vou invadir sua aula/ Queria falar sua língua/ Eu vou publicar seus segredos/ Eu vou mergulhar sua guia/ Eu vou derramar nos seus planos/ O resto da minha alegria/ Que é pra ver se você volta/ Que é pra ver se você vem/ Que é pra ver se você olha pra mim".

USINEIRO BILIONÁRIO

"Lula é muito amigo nosso"

Uma semana depois de entrar para a lista de bilionários do mundo da revista americana "Forbes", Rubens Ometto entrou para a lista de heróis brasileiros elaborada por Lula. De acordo com o presidente, os usineiros, como Ometto, eram vistos no passado como "bandidos do agronegócio neste país" e hoje estão virando "heróis nacionais e mundiais".
 
Dono do grupo Cosan e de uma fortuna de US$ 2 bilhões, oitavo brasileiro mais rico e 488º do mundo, "o primeiro bilionário mundial do álcool", segundo a "Forbes", falou à coluna, por telefone:  

FOLHA - Vocês eram bandidos e hoje são heróis, como diz Lula?
RUBENS OMETTO - [Rindo] O setor mudou muito. A imagem que todo mundo tinha é muito antiga. O setor foi o primeiro negócio do Brasil. Um negócio de 500 anos atrás, que veio com a cultura de casa-grande e senzala. E isso não existe mais. Acabou o subsídio, os empresários que viviam de subsídio foram quebrando. Quem ficou é empresário sério, que trabalha de verdade. É um pessoal profissionalizado.

FOLHA - A empresa do senhor não tem subsídio...
OMETTO - [interrompendo] Não. Não tem.

FOLHA - Nem financiamento do BNDES?
OMETTO - Ah, mas isso tem para todos os setores, para todas as empresas que têm um plano de crescer, de investir.

FOLHA - E o presidente? Há alguns anos ele era visto como "bandido" pelos usineiros. Hoje ele é herói?
OMETTO - Bandido? Não, bandido nunca, de jeito nenhum. Nunca foi visto assim.

FOLHA - No sentido figurado, de radical, "demônio".
OMETTO - Ele é um bom presidente. É muito amigo nosso. Somos muito gratos a ele. O presidente Lula tem promovido o álcool, tem procurado representar o setor. Como, aliás, representa outros setores da economia. Ele vai para o Japão e fala do álcool, o [presidente americano George W.] Bush vem, ele fala do setor. Ele tenta nos introduzir em outros países. Tenta derrubar as barreiras internacionais contra o álcool e o açúcar, ajuda na OMC [Organização Mundial do Comércio]. Ele nos defende... Ele não defende a gente, ele defende o Brasil.

FOLHA - O senhor é amigo do presidente Lula?
OMETTO - Temos uma boa relação profissional, institucional.

FOLHA - O senhor já integrou comitivas oficiais em viagem ao exterior, não é?
OMETTO - É, fomos ao Japão, à China.

FOLHA - Como o senhor recebeu a notícia de que entrou para a lista de bilionários da "Forbes"?
OMETTO - Isso aí... Vamos falar de outra coisa.

FOLHA - Por quê? O senhor não gostou?
OMETTO - Não, isso aí, não. Vamos falar de outra coisa.

FOLHA - O senhor é um herói?
OMETTO - O presidente quis dizer que o álcool hoje é importante para o país, mais ainda do que foi no passado. A imagem do empresário mudou muito. Aliás, os empresários mudaram muito. Só ficou gente profissional no setor.

GIRATÓRIA
Lançada há um ano e meio, a agência MM, de Mônica Monteiro, ex-empresária de Gisele Bündchen, fechará as portas nas próximas semanas. Mônica está se associando a Gustavo Vicenzotto -que desmanchou parceria com a Mega Models- em uma nova agência.

BARRACO CHIQUE O governo de SP quer financiar recém-formados em arquitetura para que eles ajudem moradores de favelas a organizar os espaços internos de suas casas.
 
José Aristodemo Pinotti, secretário do Ensino Superior, é o autor da idéia, que será detalhada nos próximos dias para o governador José Serra.

BARRIGA ZERO
Depois de colocar cobertura na academia do Palácio do Planalto, a Presidência gastará R$ 12.295 em seis bicicletas ergométricas e cinco esteiras.

BARSA
Bruna Surfistinha prepara o terceiro livro sobre sua encerrada carreira de prostituta.

TORCICOLO
O Cine Bombril vai trocar as poltronas das salas de exibição no Conjunto Nacional. O público vinha reclamando da falta de conforto.

MÃO ABERTA
Paulo Autran estenderá a temporada de "O Avarento". A peça terminaria em abril. Mas teve os patrocínios renovados e ficará em cartaz até julho.


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