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Eu matei Paulo Ricardo
Superastro dos 80 conta como virou cantor brega nos 90 e o que
fez para sair dessa; ex-RPM tem novo show e ensina rock na escola
Marcelo Ximenez/Folha Imagem
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Em momento intimista, Paulo Ricardo canta algumas das músicas que fizeram a história do rock no curso da Casa do Saber |
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN
Paulo Ricardo foi assassinado. A tiros. Para fãs do RPM,
alívio: o morto não é o vocalista
da banda fenômeno dos anos
80, mas aquele romântico/brega do final dos 90.
Aos 44 anos, o astro do rock
oitentista reflete sobre a viagem que fez por TVs populares
e rádios sertanejas com cabelo
curto, gravatas e paletós coloridos: "Admito que surtei".
À Folha, conta ter eliminado
o personagem que criou, cantor das multidões que vendeu
mais de meio milhão de CDs
com baladas pegajosas e sucessos de Roberto Carlos.
A morte ocorreu em um retiro, quando ele abandonou também as drogas. Depois, quarentão zen, resolveu acabar com a disputa judicial contra Luiz
Schiavon e Fernando Deluqui
(tecladista e guitarrista do
RPM), iniciada após a tentativa
de retomar a banda, em 2002.
"Eu e o P.A [baterista] queríamos modernizar; eles, o RPM
clássico. Estavam certos."
Os quatro assinaram acordo
para lançar em 13 de julho, Dia
do Rock, uma caixa com os três
CDs do RPM, que venderam
mais de 3 milhões de cópias,
além de um quarto com raridades e o DVD da turnê Rádio Pirata, que lotou estádios em
1986. Negociam uma nova reunião da banda para shows de
lançamento desse material.
Enquanto isso, Paulo Ricardo, em carreira solo, pede, não
sem uma ponta de ironia, "pelo
amor de Deus" para entrar de
novo no universo pop rock. Ele
faz hoje, no Tom Jazz (av. Angélica, 2.331, tel. 0/xx/11/3255-3635), o segundo show da turnê do novo álbum, "Prisma".
Na primeira das quatro apresentações, na semana passada,
cantou sucessos do RPM para
uma platéia de 60 pessoas.
Abaixo, entre outras revelações, conta como abandonou o
"delírio de tentar derrubar o
muro de Berlim do preconceito
entre o rock e o popular".
BRIGAS DO RPM
A história do RPM teve final
feliz. Em 2006, depois de quase
três anos na Justiça, assinamos
um acordo. O motivo do segundo racha, após a volta do RPM
em 2002, foi a minha vontade
de impor uma modernização à
banda. Eu e o [baterista Paulo]
P.A [Pagni] achávamos que Revoluções por Minuto pressupunha constante movimento. O
[tecladista Luiz] Schiavon e o
[guitarrista Fernando] Deluqui
queriam continuar o RPM clássico. Após refletir, liguei para
eles: "Vocês estavam certos; eu
estava errado. Vamos fazer as
pazes". Não dá para o RPM não
ser classic rock brasileiro.
Aquela fase marcou muito.
Além disso, não houve continuidade. Querer retomar e pular do colegial para o mestrado
é impossível. O fã iria dizer que
o RPM estava traindo o RPM.
LENNON E McCARTNEY
O conceito do RPM foi desenvolvido por mim e pelo
Schiavon. Na época, dividimos
tudo meio a meio. Tivemos
uma briga na turnê de 86 e passamos a estabelecer porcentagens de acordo com a participação de cada um. Não foi ético eu
dizer o que disse [há dois anos,
Paulo Ricardo reclamou de
que, devido a um "acordo imbecil", Schiavon recebia direitos
autorais de sua "Rádio Pirata"].
Mesmo que eu tenha feito acordes ou desenvolvido a melodia,
não existiria o RPM sem ele.
ROMÂNTICO/BREGA
Essa fase veio quando me vi
embarreirado pelo pessoal do
pop rock, um pouco porque
consideraram que fui eu, com
meu ego imenso, que terminei
com o RPM, o que não foi verdade. Sei que vou sofrer sempre
esse negócio de fãs do RPM que
se sentiram traídos pelo vocalista megalômano que abandonou a banda egoisticamente
para se dedicar à carreira solo.
Encontrei o [compositor de
hits populares] Michael Sullivan, compusemos "Dois", que
ficou quatro meses no primeiro
lugar das paradas. O CD vendeu
meio milhão de cópias. Fizemos em espanhol para 36 países. Falei: "Quer saber, esse negócio de rock é um rótulo muito
pequeno. Vou experimentar".
O PERSONAGEM
Curti aquele personagem, o
cantor das multidões. Usava
paletó colorido, gravata, cada
aberração... Até casaco de zebra! Um dia, meu primo estava
num táxi e, no rádio, tocava
"Dois". Ele falou: "É meu primo, o Paulo Ricardo, do RPM".
E o taxista: "Não, esse Paulo Ricardo não é aquele do RPM,
não. É outro. É o Paulo Ricardo
Dois". Ele tinha razão.
DOIS BRASIS
Fui muito bem recebido por
um segmento que não costumava freqüentar, como rádios
sertanejas. São dois brasis completamente diferentes que não
se bicam. Muita gente ali nem
sabia que eu era do RPM e muita gente do mundinho aqui
nem soube o que eu fiz ali.
DROGAS
Como a experiência foi muito intensa nos anos 80, quem
sobreviveu entrou com cuidado
nos 90. No rock, convivemos de
perto com experiências pesadas. Fui visitar o Lobão em cana, Arnaldo [Antunes], [Tony]
Belloto. Teve Cazuza, Renato
[Russo]. Não se deve demonizar as drogas, mas vamos admitir: é uma puta perda de tempo.
No fim dos 90, fiquei quase sem
voz num período de shows.
O ASSASSINATO
Para recuperar a voz, tive que
passar um mês em silêncio no
sítio de um amigo. Foi quando
decidi parar com as drogas. Já
não usava mais cocaína e resolvi largar o baseado. Também
cheguei a outra conclusão:
"Vou assassinar o Paulo Ricardo Dois. Vem cá, Paulão, pá, pá,
pá [imita revólver com a mão].
Desculpe cara, era eu ou você".
Parte do problema da voz era
emocional. A minha voz falou:
"Se quer pagar esse mico, vai aí,
mas eu tô fora". Aquilo havia
passado do limite. Eu tinha um
delírio de unir os brasis, derrubar os muros de Berlim do preconceito do rock e do popular.
Isso não é fácil assim.
O SURTO
Aquele cara não existe mais,
e estou confortável sendo
quem sempre fui. Admito que
surtei. Tinha sido bem tratado
por todo mundo lá, principalmente pelo público. Mas, com o
tempo, eu me senti deslocado.
Liguei para o empresário e disse: "Não vou fazer mais nada".
E ele: "Você está louco? Temos
um CD para lançar". Respondi:
"Não, eu estava louco".
VOLTA AO POP ROCK
Pensei: "I wanna go home"
[quero voltar para casa]. Mas
me responderam: "Não, você
foi para o Afeganistão. Não volta mais para os EUA". Agora estou na sala de espera. Pelo amor
de Deus, deixa eu entrar! [risos]
NA INTERNET - Leia a íntegra da
entrevista com Paulo Ricardo
www.folha.com.br/070822
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