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Peças de Bonassi e Possolo falam de miséria e fracasso
Curitiba estréia montagens do monólogo "O Incrível Menino na Fotografia" e da tragicômica "Eu Odeio Kombi"
Festival segue até domingo na capital paranaense; peças, sobre a realidade brasileira, chegam a São Paulo nos próximos dias
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Três autores de São Paulo
têm peças inéditas montadas
na mostra principal do Festival
de Teatro de Curitiba, que vai
até domingo. Fernando Bonassi, Hugo Possolo e Newton Moreno tocam em temas que ora
se atraem, ora se repelem: a miséria, o fracasso e o canibalismo. O tripé de uma possível
contemporaneidade brasileira
estréia em São Paulo nos próximos dias.
Em "O Incrível Menino na
Fotografia", Bonassi, 44, leva
para o palco, também como diretor, uma das narrativas do
seu livro "Histórias Extraordinárias" (ed. Conrad).
É um monólogo sobre um
aluno de 14 anos paralisado
diante do rito de passagem da
foto obrigatória no grupo escolar, em 1936.
Ele tem de ocupar uma cadeira, atrás de uma mesa, cercada por bandeira e outros símbolos nacionais. O personagem interpretado por Eucir de Souza se vê paralisado no tempo.
Inércia à qual o autor associa o
presente. "É um registro que
simboliza muito do que o Brasil
fez consigo dos anos 40 até
aqui", diz Bonassi. Para ele, o
texto trata de um período "fundador" do estado de coisas a
que a sociedade chegou com a
falta de distribuição de renda.
"No início, pensava ter em
mãos um texto mais trágico,
amargo, mas o Eucir e a equipe
me ajudaram a descobrir também o viés cômico", afirma Bonassi. "O Incrível Menino na
Fotografia" tem apresentações
amanhã e quarta, às 20h30, no
teatro Paiol.
Antes de ser co-fundador do
grupo Parlapatões, no início
dos anos 90, Possolo, 44, chegou a rodar por muitas estradas
a bordo de uma perua Kombi,
num projeto mambembe de
teatro infantil. Parte do imaginário daquele veículo está em
"Eu Odeio Kombi", que Jairo
Mattos, justamente um dos
parceiros à época, dirige em
sessões na quarta e na quinta,
às 20h30, na Casa Vermelha.
Mote: dois homens empilham seus fracassos durante
uma viagem e, súbito, são acometidos pela dúvida hamletiana de continuar ou não a aventura. Passam a agir com sordidez e criam um campo de batalha para suas misérias pessoais.
Nonsense. Sobra até para a
Kombi, de cores verde e amarela. Eles tentam destruir o "terceiro personagem".
"Apesar de o humor estar
presente, como sempre ocorre
em meus textos, este não se
pretende uma comédia. Não há
aquela face do palhaço sob o eixo da alegria, mas do palhaço
que não se encaixa no mundo,
que usa roupas desajeitadas,
que tropeça. Parti um pouco
dessa idéia de desajuste", afirma Possolo.
Nova peça de Moreno
O canibalismo é trampolim
para as três históricas curtas de
"A Refeição", de Newton Moreno, 38. O texto foi amadurecido
durante intercâmbio, em São
Paulo e em Londres, em 2004 e
2005, com a equipe do Royal
Court Theatre, centro inglês de
fomento à dramaturgia.
A primeira se passa no quarto
de um hospital, quando o ato
canibal explode questões e vontades castradas de um casal.
A segunda, no centro da cidade, onde um mendigo e um executivo formam um casal improvável. A terceira, numa tribo indígena, quando um antropólogo se vê acuado pelo pedido de
um índio velho, último de sua
tribo, que morre lentamente e
quer empreender o movimento
de volta às raízes.
"A Refeição" é dirigida por
Denise Weinberg e fez sua última sessão ontem.
O jornalista Valmir Santos e a repórter-fotográfica Lenise Pinheiro viajaram a convite da organização do Festival de Teatro de Curitiba
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