São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 2008

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crítica

Filme encara o desastre com sobriedade

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

As situações no limite vividas pelos sobreviventes do desastre aéreo nos Andes em 1972 desafiam num tal grau a imaginação que já renderam pelo menos dois filmes de ficção e dois livros que reconstituem a tragédia. A dificuldade maior do trabalho de Gonzalo Arijon em "Stranded" não está, como para boa parte dos documentaristas, em reencontrar fatos, mas em forjar um modo equilibrado de abordar uma história a todo tempo ameaçada pelos riscos do sensacionalismo.
"Stranded" não se esforça tanto para reconstituir uma ação heróica, pois sua estratégia não é a de um filme-catástrofe. O que lhe importa é a tradução de uma experiência nos limites do humano, para o que conta com a memória dos protagonistas.
Seu principal trunfo é obter o depoimento direto dos que sobreviveram. Assim como em "Milagre nos Andes", livro do sobrevivente Nando Parrado, "Stranded" insiste na presença do fator humano, até mesmo na situação extrema da prática de canibalismo. Para isso, o foco se mantém na dimensão subjetiva da experiência. O diretor enfatiza essa perspectiva interna e pessoal, trazida pelos testemunhos que reconstituem os preparativos da viagem, as primeiras horas do vôo, a queda e os 72 dias de isolamento na neve em riqueza de detalhes.
Na falta de imagens documentais, Arijon não teme os riscos da reconstituição, e encena, com atores, momentos antes, durante e depois do acidente.
A vantagem de seu tratamento é a sobriedade com que usa estes e outros artifícios. Há um esforço constante para não forçar o tom, desde a música, onipresente, mas discreta, até o modo como registra as reações dos protagonistas durante um retorno ao lugar da tragédia.
O resultado não é frio e calculado. É só emocionante.


STRANDED
Produção:
França, 2007
Direção: Gonzalo Arijon
Quando: hoje (convidados), às 20h30, no Cinesesc (SP); amanhã, às 21h, no Cinesesc; dia 30, às 16h, no Unibanco Arteplex (RJ)
Avaliação: bom


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