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crítica
Filme encara o desastre com sobriedade
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
As situações no limite
vividas pelos sobreviventes do desastre
aéreo nos Andes em 1972 desafiam num tal grau a imaginação que já renderam pelo
menos dois filmes de ficção e
dois livros que reconstituem
a tragédia. A dificuldade
maior do trabalho de Gonzalo Arijon em "Stranded" não
está, como para boa parte
dos documentaristas, em
reencontrar fatos, mas em
forjar um modo equilibrado
de abordar uma história a todo tempo ameaçada pelos
riscos do sensacionalismo.
"Stranded" não se esforça
tanto para reconstituir uma
ação heróica, pois sua estratégia não é a de um filme-catástrofe. O que lhe importa é
a tradução de uma experiência nos limites do humano,
para o que conta com a memória dos protagonistas.
Seu principal trunfo é obter o depoimento direto dos
que sobreviveram. Assim como em "Milagre nos Andes",
livro do sobrevivente Nando
Parrado, "Stranded" insiste
na presença do fator humano, até mesmo na situação
extrema da prática de canibalismo. Para isso, o foco se
mantém na dimensão subjetiva da experiência. O diretor
enfatiza essa perspectiva interna e pessoal, trazida pelos
testemunhos que reconstituem os preparativos da viagem, as primeiras horas do
vôo, a queda e os 72 dias de
isolamento na neve em riqueza de detalhes.
Na falta de imagens documentais, Arijon não teme os
riscos da reconstituição, e
encena, com atores, momentos antes, durante e depois
do acidente.
A vantagem de seu tratamento é a sobriedade com
que usa estes e outros artifícios. Há um esforço constante para não forçar o tom, desde a música, onipresente,
mas discreta, até o modo como registra as reações dos
protagonistas durante um
retorno ao lugar da tragédia.
O resultado não é frio e calculado. É só emocionante.
STRANDED
Produção: França, 2007
Direção: Gonzalo Arijon
Quando: hoje (convidados), às
20h30, no Cinesesc (SP); amanhã,
às 21h, no Cinesesc; dia 30, às 16h,
no Unibanco Arteplex (RJ)
Avaliação: bom
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