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Antunes Filho adapta Lima Barreto
Diretor estreia "Policarpo Quaresma"; montagem dá continuidade à fase do dramaturgo dedicada a autores brasileiros
Encenador diz que quis fazer "teatro popular" e deixou de lado sofisticações para beber no teatro de revista e nos irmãos Marx
MARIA EUGÊNIA DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL
Um turbilhão verde e amarelo arrasta Antunes Filho, 80. O
diretor, que já recriou da Inglaterra vitoriana de Shakespeare
à Noruega cinzenta de Ibsen,
ultimamente não quer saber de
nada que não seja genuinamente brasileiro. Prova disso é sua
empreitada mais recente, a encenação de "Policarpo Quaresma", que estreia para convidados hoje, no Sesc Consolação.
Desde que encerrou seu ciclo
de tragédias gregas, em 2005,
Antunes dedica-se com afinco a
pôr o país em relevo. Passou pela literatura barroca de Ariano
Suassuna, voltou às tragédias
de Nelson Rodrigues e agora
desemboca no herói ingênuo
de Lima Barreto (1881-1922).
"É um personagem que tem a
estatura de Macunaíma e Riobaldo", diz ele, referindo-se ao
protagonista do clássico "Triste
Fim de Policarpo Quaresma".
Saudado pela crítica literária
como uma espécie de Dom Quixote nacional, Quaresma é um
homem pacato tomado por arroubos nacionalistas. Resolve
aprender tupi, pregar mudanças para engrandecer o Brasil,
mas termina desencantado.
Apenas para adaptar o livro a
uma estrutura teatral, Antunes
gastou seis meses. "Foi uma
trabalheira danada. Transformei todas as descrições em diálogos e também criei alguns
personagens para dar sustentação aos protagonistas", conta.
De resto, a tarefa de encenar
a trama -que se passa em três
momentos diferentes e será
contada em ato único- consumiu quase dois anos de preparação e ensaios.
Um percurso que foi interrompido, em 2009, por outras
duas montagens: "A Falecida
Vapt-Vupt" e "Lamartine Babo". Ambientadas no Rio de Janeiro, ambas compõem, ao lado
de "Policarpo Quaresma", aquilo que Antunes denominou de
trilogia carioca. O próximo trabalho, ele avisa, deve seguir por
trilha semelhante e se embrenhar pelo célebre conto de Machado de Assis "O Alienista".
Em cada linha do romance de
Lima Barreto, salta como pano
de fundo um corrosivo retrato
da sociedade carioca do século
20, em que a corrupção contamina a política e espraia-se por
todas as relações sociais.
Para transportar isso ao palco, o espetáculo do grupo Macunaíma e do CPT abriu mão
do cenário, dispensou os recursos de ambientação em uma
determinada época e tratou de
estabelecer um diálogo com o
Brasil de hoje, conta Lee Thalor, que interpreta o personagem-título da montagem. "A
crítica que o Lima Barreto fazia
ainda está latente hoje", diz.
Antunes acrescenta outra
preocupação: fazer um teatro
popular. E, para isso, tratou de
deixar de lado pretensas sofisticações e foi beber na fonte da
"commedia dell'arte", do teatro
de revista e dos irmãos Marx.
"Queria fazer um espetáculo
aberto, solto e dar de volta tudo
aquilo que eu recebi do teatro.
Tenho que me ajoelhar para
agradecer a meus mestres,
Ziembinski, Cacilda Becker.
Será que eu vou conseguir?"
Antunes promete que vai seguir tentando.
POLICARPO QUARESMA
Quando: estreia para convidados
hoje, às 21h; sex. e sáb., às 21h;
dom., às 19h; até 6/6
Onde: Sesc Consolação - teatro Sesc
Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel.
0/ xx/11/3234-3000)
Quanto: R$ 5 a R$ 20
Classificação: 12 anos
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