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ARTES PLÁSTICAS
Mostra de colecionadores "Afinidades Eletivas" abre hoje com 70 obras de artistas como Boi e Tunga
Kim Esteve apresenta acervo particular
Antônio Gaudério/Folha Imagem
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O colecionador Kim Esteve posa diante de quadro de Robert Yarber exposto na mostra "Afinidades Eletivas I"
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SÉRGIO MALBERGIER
da Redação
Kim Esteve, 57, é um dos maiores colecionadores de arte do Brasil. Ele inaugura hoje uma série de
mostras que pretende revelar ao
público um acervo fundamental e
desconhecido: o das grandes coleções particulares.
A iniciativa, do pintor e agitador
cultural José Roberto Aguilar, vai
levar uma coleção particular por
ano à Casa das Rosas. Esteve é o
primeiro convidado.
A mostra tem cerca de 70 obras
selecionadas entre as mais de 400
do acervo do colecionador. Logo
na entrada há um óleo de Iberê Camargo, "Maria" (90), raramente
visto, ladeado por duas salas temáticas: Wesley Duke Lee (dez
quadros) e Maciej Babinski (nove).
"Em vez de ser um chato enfurnado em casa, Kim abriu a sua casa para os artistas. Ele começou a
colecionar não só a arte, mas também os próprios artistas", diz o
polonês-brasileiro Babinski, 66.
Esteve começou a colecionar
após voltar de uma temporada em
Nova York, na década de 70, onde
estudou arte na Universidade de
Nova York.
Sua casa, na Chácara Flora (zona
sul de São Paulo), primeiro teve
uma sala adaptada como pequena
galeria. Com o crescimento da coleção, Esteve construiu uma galeria de proporções consideráveis
no seu jardim: um museu particular.
Foi lá, na semana passada, que
artistas como Claudio Tozzi, Antonio Peticov, Leda Catunda e
Ivald Granato, entre outros, exibiram uma exposição dedicada ao
futebol que vai rodar o mundo até
chegar à França na época da Copa.
É na casa do colecionador também que, há cerca de 15 anos, se
realiza um dos eventos paralelos
mais importantes da Bienal de São
Paulo: uma festa nababesca que
congrega artistas nacionais e internacionais no primeiro dia da
megaexposição.
Dando os últimos retoques na
primeira exibição pública de seu
acervo, que exibirá ainda Antônio
Henrique Amaral, Tomie Ohtake,
Tunga, Waltércio Caldas, Siron
Franco, Granato, Boi e muitos outros, Esteve recebeu a Folha para
falar do ofício de colecionador.
Folha - Quanto vale a sua coleção?
Kim Esteve - Nunca dei tanta
bola para isso. Compro, aprecio.
Mas não calculo quanto vale. Acho
que eventualmente vou doar a coleção, não vou vendê-la.
Folha - O sr. tem a intenção de
transformar sua coleção particular
em museu, como aconteceu com
Guggenheim em Nova York?
Esteve - É difícil porque é preciso mais respaldo financeiro do que
eu tenho para fazer algo assim. Você morre e depois tem de bancar o
jogo depois da sua morte. É preciso muito dinheiro. Eu sou mais
propício a eventualmente fazer
uma doação a algum museu ou entidade. Ainda não tenho pensado
muito nisso, apesar de estar ficando velho.
Folha - O sr. comprou muita coisa
nos anos 70. Era barato?
Esteve - Para dar um exemplo,
um Babinski na década de 70 não
passava de US$ 5.000. Hoje deve
estar entre US$ 35 mil e US$ 40
mil.
Folha - O dinheiro foi bem empregado?
Esteve - É uma outra maneira
de empatar o capital. Pode-se ganhar ou perder muito dinheiro
com isso.
Folha - Arte brasileira é um bom
investimento?
Esteve - Essa questão tem a ver
com a conjuntura do país. Como o
país agora está sendo mais respeitado lá fora, as coisas devem melhorar. Foi isso que levou a arte
americana lá para cima e é isso que
vai levar a arte brasileira também.
A arte é a manifestação do que está
acontecendo. É um bom momento
de comprar. Mas o momento sempre é bom, quando aparece uma
boa oportunidade.
Folha - Comprar arte é um ato
compulsivo?
Esteve - Muitas vezes quase
vendi carro para comprar arte. Um
bom trabalho você coloca na parede e, depois de 30 dias, continua
olhando porque ele ainda lhe passa
coisas. É um prazer incomparável.
Folha - Falta cultura de mecenato e apoio aos artistas no Brasil?
Esteve - O artista sempre enfrentou dificuldades. Mas, se ele é
bom e dedicado, vai achar o seu
caminho. Acredito nisso. O governo pode ajudar um pouquinho,
mas dentro dos regimes comunistas, por exemplo, não surgiu grandes obras de arte interessantes.
Folha - O que o sr. espera passar
ao público com essa mostra de seu
acervo?
Esteve - Quero que as pessoas
olhem um pouco para trás e vejam
um traço recente que nem sempre
está exposto. Foi uma grande idéia
do Aguilar fazer essa série com colecionadores. No começo relutei,
mas depois percebi a importância
de revelar esses acervos. Só ficar
num armário fechado é desperdício. É preciso arejar as obras e sua
relação com o público.
Mostra: Afinidades Eletivas I - O Olhar do
Colecionador; Coleção Kim Esteve
Quando: abertura hoje, às 20h; de ter a
dom, das 12h às 20h; até 10 de maio
Onde: Casa das Rosas (av. Paulista, 37, tels.
011/251-5271, 288-9447)
Quanto: entrada franca
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