São Paulo, quinta, 26 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Exposição marcou colecionador

da Redação

Brooklin, zona sul de São Paulo, 1976. Num galpão enorme no então remoto bairro paulistano, uma exposição-evento sinalizou novos tempos na arte contemporânea brasileira e mergulhou Kim Esteves na condição compulsiva de colecionador.
Helio Oiticia, Ivald Granato, Claudio Tozzi, Ligia Pape, Wesley Duke Lee e Rubens Gerchman estavam entre os artistas reunidos na exibição do Galpão Espaço Alternativo.
A noção de "happening" e performance como intervenção artística começava a chegar do hemisfério norte a um país em acomodação com o regime militar.
"A exposição foi o maior sucesso. Dela nasceu no Brasil o conceito de artes plásticas como temperatura do ambiente", lembra Granato. Um dos organizadores da mostra, Granato diz que o cenário artístico andava "completamente morto" num momento pós-guerrilheiro.
Sua contribuição para reavivá-lo foi uma performance em que amarrava duas pessoas dentro de um quadrado de plástico, jogava tinta sobre elas e simulava tortura.
Oiticica na época morava na casa de Esteve. Sua instalação no Galpão Espaço Alternativo chamava-se "Penetrável": um quartinho quente penetrado pelo público, cheio de madeira e areia em volta, sugerindo um morro carioca.
"O Oiticica era muito louco. Fez a gente trazer água engarrafada do mar de Copacabana. Ele dizia que, se não realizássemos suas exigências, iria pegar uma navalha e retalhar os outros quadros", recorda Esteve.
Wesley Duke Lee exibiu telas na exposição. Ele lembra do espírito pouco mercantil da empreitada, bancada por Leo Laniado, dono do espaço, e, em menor escala, por Esteve e pelo artista Martin Penrose, hoje em Nova York.
"Se fôssemos fazer algo semelhante hoje, teríamos de ter no mínimo 12 patrocinadores", brinca Wesley.
O Galpão abrigou também no mesmo espaço livraria, floricultura, restaurante e shows de músicos de verve contracultural, como Jorge Mautner. Durou cerca de dois anos. Deu uma arejada transformadora na arte local e consolidou em Kim Esteves o desejo caro e quase incontrolável de conviver com obras de arte e artistas.
O galpão ainda está de pé, no mesmo endereço, no Brooklin: rua Princesa Isabel, 379. Ainda é possível apreciar a arquitetura do lugar. Só o molho está bem diferente: tintas e atitude deram lugar à pimenta e ao curry do restaurante indiano Govinda. (SM)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.