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Exposição marcou colecionador
da Redação
Brooklin, zona sul de São Paulo,
1976. Num galpão enorme no então remoto bairro paulistano, uma
exposição-evento sinalizou novos
tempos na arte contemporânea
brasileira e mergulhou Kim Esteves na condição compulsiva de colecionador.
Helio Oiticia, Ivald Granato,
Claudio Tozzi, Ligia Pape, Wesley
Duke Lee e Rubens Gerchman estavam entre os artistas reunidos
na exibição do Galpão Espaço Alternativo.
A noção de "happening" e performance como intervenção artística começava a chegar do hemisfério norte a um país em acomodação com o regime militar.
"A exposição foi o maior sucesso. Dela nasceu no Brasil o conceito de artes plásticas como temperatura do ambiente", lembra Granato. Um dos organizadores da
mostra, Granato diz que o cenário
artístico andava "completamente
morto" num momento pós-guerrilheiro.
Sua contribuição para reavivá-lo
foi uma performance em que
amarrava duas pessoas dentro de
um quadrado de plástico, jogava
tinta sobre elas e simulava tortura.
Oiticica na época morava na casa
de Esteve. Sua instalação no Galpão Espaço Alternativo chamava-se "Penetrável": um quartinho
quente penetrado pelo público,
cheio de madeira e areia em volta,
sugerindo um morro carioca.
"O Oiticica era muito louco. Fez
a gente trazer água engarrafada do
mar de Copacabana. Ele dizia que,
se não realizássemos suas exigências, iria pegar uma navalha e retalhar os outros quadros", recorda
Esteve.
Wesley Duke Lee exibiu telas na
exposição. Ele lembra do espírito
pouco mercantil da empreitada,
bancada por Leo Laniado, dono
do espaço, e, em menor escala,
por Esteve e pelo artista Martin
Penrose, hoje em Nova York.
"Se fôssemos fazer algo semelhante hoje, teríamos de ter no mínimo 12 patrocinadores", brinca
Wesley.
O Galpão abrigou também no
mesmo espaço livraria, floricultura, restaurante e shows de músicos
de verve contracultural, como Jorge Mautner. Durou cerca de dois
anos. Deu uma arejada transformadora na arte local e consolidou
em Kim Esteves o desejo caro e
quase incontrolável de conviver
com obras de arte e artistas.
O galpão ainda está de pé, no
mesmo endereço, no Brooklin:
rua Princesa Isabel, 379. Ainda é
possível apreciar a arquitetura do
lugar. Só o molho está bem diferente: tintas e atitude deram lugar
à pimenta e ao curry do restaurante indiano Govinda.
(SM)
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