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CRÍTICA
Falta "ridículo" a "Ivanov"
do enviado a Curitiba
Começou quando Sasha, a
amante tornada noiva de Ivanov,
vira-se para ele e passa a dizer,
"você está arruinado" etc. Era uma
cena melodramática, mas o público riu. Um riso incontinente, deslocado, chato. Mais à frente, "você
é um canalha!" e mais risadas. Ivanov se suicida, no fim da apresentação, e o público ri à larga.
Tudo bem que "Ivanov" seja
uma peça menor, no entender do
próprio autor, o russo Anton
Tchecov, que a escreveu "por acaso" em apenas duas semanas. Mas
a reação absurda no final da apresentação de estréia, anteontem no
Festival de Curitiba, aponta problemas na montagem.
O texto, na verdade, pode ser
imperfeito, mas é cortante em seu
retrato do estado tchecoviano que
o crítico Robert Brustein qualificou de "tedium vitae".
São personagens amesquinhados da Rússia do fim de século, envolvidos em relações de interesse,
em decadência financeira. Um redemoinho de relativização moral
que leva Ivanov.
Ele se casou com uma judia, Sarah, que deixou de amar e agora
está morrendo de tuberculose. Envolve-se então com Sasha, a filha
de uma usurária.
Por todo lado, acusam-no de ter
se casado com Sarah de olho no
dinheiro da família, de ter fugido
dela quando o dinheiro não veio e
de, no limite, causar sua doença e
morte. De querer se casar com
Sasha para escapar das dívidas
com o dinheiro da sogra.
Ser tratado como "o Hamlet russo" é exagero, mas Ivanov não é
qualquer personagem, por melodramático que seja.
O problema da interpretação de
Zecarlos Machado, tão séria e encerrada em si mesma, enquanto à
sua volta a montagem de Eduardo
Tolentino aproveita as deixas farsescas, é que ela se quer trágica e
não melodramática.
Nikolai Ivanov é, como tanto
proclama na própria peça, "ridículo". Ele sabe que não é, o que
também repete, "um segundo
Hamlet". Para o melodrama, parece faltar a Zecarlos Machado a
aceitação do ridículo.
E trata-se de uma montagem
com não poucas belas interpretações -sem temor das explosões
emocionais do gênero- para personagens até menos promissores
do que Ivanov, como nos casos de
Shabelsky e de Lebedev.
A encenação, como é regra no
grupo Tapa, é bastante tradicional, sem maior risco nas marcações e com mínimo desenvolvimento na coreografia. Desta vez,
porém, é mais cuidada nos figurinos e cenários, com atenção a detalhes -e à beleza.
(NS)
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