São Paulo, quinta, 26 de março de 1998

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Parlapatões juntam Shakespeare a Oscarito

NELSON DE SÁ
enviado especial a Curitiba

Todo o início do espetáculo "ppp@wllmshkspr.br", talvez um terço da apresentação, é tomado por uma "encenação" resumida, farsesca, irresponsável de "Romeu e Julieta".
Alexandre Roit e Hugo Possolo interpretam Romeu e Julieta, respectivamente -e remetem à outra dupla de comediantes que fez algo semelhante, décadas atrás: Oscarito e Grande Otelo.
Julieta como travesti, as perucas, toda a graça do entra-e-sai da personificação, que alguém poderia chamar de distanciamento. As grosserias que se confundem entre a ingenuidade e a esperteza. Aqui um sotaque português, ali caretas, ao fundo, música brega.
O humor dos Parlapatões, que conseguem com "ppp" seu espetáculo de maior alcance comercial, atingiu a maioridade. É excessivo, por vezes ofensivo, até desrespeitoso -mas é preciso, com domínio do ritmo e do palco.
Hugo Possolo, Alexandre Roit e Raul Barreto, após dez anos de teatro de rua, sempre cômico, sabem o que têm que fazer para o público rir.
Se quiserem, como em "ppp", sabem fazê-lo gargalhar, descontrolar-se -e até entrar na ação, participar da peça.
O título estranho é a mistura do nome do grupo com o de William Shakespeare, em forma de endereço eletrônico (e-mail), remetendo ao Brasil. A peça original leva o título traduzido de "As Obras Completas de William Shakespeare, Condensadas" e é um sucesso do West End, de Londres.
As 37 peças do dramaturgo inglês e até os seus sonetos, ou seja, a "obra completa", são "condensados" em apenas uma hora e meia, ainda que só com o título ou com uma referência breve.
As comédias shakespearianas, que os autores consideram bem menos engraçadas (para a condensação cômica) do que as tragédias, são reunidas num quadro único -e histérico, com uma criativa reunião de palhaçadas com sonoplastia, bonecos e objetos.
De todas as demais, "Romeu e Julieta", a peça mais popular de Shakespeare, e "Hamlet", talvez a maior peça já escrita, como aliás proclama o próprio espetáculo, são as únicas que recebem um tratamento mais extenso.
A última, "Hamlet", chega a ganhar uma encenação "condensada" com menos de um minuto e até uma versão de trás para a frente. E também, no que é talvez a justificação de "ppp", uma longa fala representada com toda a seriedade -a da "quintessência do pó", que exalta o homem, mas conclui que pouco se importa com ele.
O resultado pode ser superficial, mas é comédia de grande efeito, ninguém vai questionar. Levando espectadores ao palco, avançando pelo público, com o público, "ppp" revive o humor nacional, para o bem e para o mal.



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