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Parlapatões juntam Shakespeare a Oscarito
NELSON DE SÁ
enviado especial a Curitiba
Todo o início do espetáculo
"ppp@wllmshkspr.br", talvez um
terço da apresentação, é tomado
por uma "encenação" resumida,
farsesca, irresponsável de "Romeu
e Julieta".
Alexandre Roit e Hugo Possolo
interpretam Romeu e Julieta, respectivamente -e remetem à outra dupla de comediantes que fez
algo semelhante, décadas atrás:
Oscarito e Grande Otelo.
Julieta como travesti, as perucas,
toda a graça do entra-e-sai da personificação, que alguém poderia
chamar de distanciamento. As
grosserias que se confundem entre
a ingenuidade e a esperteza. Aqui
um sotaque português, ali caretas,
ao fundo, música brega.
O humor dos Parlapatões, que
conseguem com "ppp" seu espetáculo de maior alcance comercial,
atingiu a maioridade. É excessivo,
por vezes ofensivo, até desrespeitoso -mas é preciso, com domínio do ritmo e do palco.
Hugo Possolo, Alexandre Roit e
Raul Barreto, após dez anos de
teatro de rua, sempre cômico, sabem o que têm que fazer para o
público rir.
Se quiserem, como em "ppp",
sabem fazê-lo gargalhar, descontrolar-se -e até entrar na ação,
participar da peça.
O título estranho é a mistura do
nome do grupo com o de William
Shakespeare, em forma de endereço eletrônico (e-mail), remetendo
ao Brasil. A peça original leva o título traduzido de "As Obras Completas de William Shakespeare,
Condensadas" e é um sucesso do
West End, de Londres.
As 37 peças do dramaturgo inglês e até os seus sonetos, ou seja, a
"obra completa", são "condensados" em apenas uma hora e meia,
ainda que só com o título ou com
uma referência breve.
As comédias shakespearianas,
que os autores consideram bem
menos engraçadas (para a condensação cômica) do que as tragédias, são reunidas num quadro
único -e histérico, com uma
criativa reunião de palhaçadas
com sonoplastia, bonecos e objetos.
De todas as demais, "Romeu e
Julieta", a peça mais popular de
Shakespeare, e "Hamlet", talvez a
maior peça já escrita, como aliás
proclama o próprio espetáculo,
são as únicas que recebem um tratamento mais extenso.
A última, "Hamlet", chega a ganhar uma encenação "condensada" com menos de um minuto e
até uma versão de trás para a frente. E também, no que é talvez a
justificação de "ppp", uma longa
fala representada com toda a seriedade -a da "quintessência do
pó", que exalta o homem, mas
conclui que pouco se importa com
ele.
O resultado pode ser superficial,
mas é comédia de grande efeito,
ninguém vai questionar. Levando
espectadores ao palco, avançando
pelo público, com o público,
"ppp" revive o humor nacional,
para o bem e para o mal.
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