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"Se for pior que a primeira, estamos fritos"
da Reportagem Local
Antonio Ermírio de Moraes iniciou a entrevista narrando longamente a história da protagonista
de "S.O.S. Brasil", uma paciente,
Terezinha de Jesus.
Na sequência da entrevista, ele
discorre sobre a experiência como
autor, ao lado do diretor Marcos
Caruso, que também encenou
"Brasil S.A." em 96. (NS)
Folha - O sr. gosta de contar histórias. Por que escolheu o teatro?
Antonio Ermírio de Moraes - É
um derivativo. Tem gente que no
fim-de-semana vai jogar tênis, nadar. (ri) Eu fico escrevendo umas
bobagens por aí.
Marcos Caruso - Foi a pergunta
que eu fiz quando você me mostrou a primeira peça. Por que teatro? Por que não romance?
Moraes - Mas o teatro é mais gostoso.
Caruso - Eu lembro que você respondeu que era uma arte viva.
Moraes - Eu acho que no teatro,
ao vivo, a pessoa que vai não esquece mais. Sempre falo: "Marcos,
é importante fazer uma peça que o
sujeito veja e, sendo medíocre ou
boa, ele vá se lembrar um, dois
anos depois". É isso que nós tentamos em "Brasil S.A." e agora, em
"S.O.S. Brasil".
Caruso - Eu achava que "Brasil
S.A." não iria interessar tanto
quanto interessou. Não só em bilheteria, que foi bastante alta, quase 90 mil pessoas, mas até em termos de qualidade, para o seu público, que vai pelo empresário, o
político. Esse público saía do teatro comovido, com todos os problemas que a peça tinha.
Moraes - A gente ficava com água
nos olhos. Porque era tanta receptividade.
Caruso - E atingia aquele público.
Agora esta peça, "S.O.S. Brasil", é
muito mais universal.
Moraes - Do pobre ao rico, mexe
com todo mundo. (Um assessor
traz textos de "Brasil S.A.". Moraes
diz, rindo: "Nós vamos levar "Brasil S.A." em Brasília".)
Caruso - Talvez a gente faça uma
semana. (ri) Ele (Moraes) quer
uma companhia de repertório.
Moraes - É porque foi uma coisa
muito boa, um clima gostoso. O
elenco se deu tão bem.
Folha - Não houve conflito entre
diretor e autor?
Moraes - É muito comum esse
negócio de conflito, mas entre diretor e atriz e atores, de maneira
geral. Eu sempre fiquei fora. "Me
respeitem, por favor." (ri)
Folha - Tem muito diretor que sai
cortando o texto.
Moraes - Não, não. Nós temos total harmonia. O segredo é o entrosamento. O Marcos diz "isso aqui
vai dar barriga" e ele tem experiência teatral. Eu não tenho. Nós trocamos idéias num clima de muita
harmonia.
Folha - O sr. está participando
das leituras da peça?
Moraes - Claro. Mas eu sou observador, só. É preciso observar,
pelo seguinte: para mim, em "Brasil S.A.", logo que eu escrevi, a esposa do empresário seria a grande
figura. Quando fizemos a primeira
leitura, ela ficou metade da peça
calada. (ri) Foi também o caso do
general, agora.
Caruso - Mas é engraçado porque, em "Brasil S.A.", ele (Moraes)
não deixava mudar nada, nem vírgula. Com a leitura, ele começou a
mexer. E aí, a gente ensaiando, ele
ia lá botar "caco".
Moraes - Não, com um diretor
competente, eu não iria bancar...
Eu falei, "a meta está lá, foi cumprida, e com o resto a gente tem flexibilidade".
Folha - Até porque era a sua primeira peça.
Moraes - A segunda é pior ainda,
porque a responsabilidade aumenta. (ri) Se for pior do que a primeira, nós estamos fritos.
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