São Paulo, Segunda-feira, 26 de Abril de 1999
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"Se for pior que a primeira, estamos fritos"

da Reportagem Local

Antonio Ermírio de Moraes iniciou a entrevista narrando longamente a história da protagonista de "S.O.S. Brasil", uma paciente, Terezinha de Jesus.
Na sequência da entrevista, ele discorre sobre a experiência como autor, ao lado do diretor Marcos Caruso, que também encenou "Brasil S.A." em 96. (NS)
Folha - O sr. gosta de contar histórias. Por que escolheu o teatro?
Antonio Ermírio de Moraes -
É um derivativo. Tem gente que no fim-de-semana vai jogar tênis, nadar. (ri) Eu fico escrevendo umas bobagens por aí.
Marcos Caruso - Foi a pergunta que eu fiz quando você me mostrou a primeira peça. Por que teatro? Por que não romance?
Moraes - Mas o teatro é mais gostoso.
Caruso - Eu lembro que você respondeu que era uma arte viva.
Moraes - Eu acho que no teatro, ao vivo, a pessoa que vai não esquece mais. Sempre falo: "Marcos, é importante fazer uma peça que o sujeito veja e, sendo medíocre ou boa, ele vá se lembrar um, dois anos depois". É isso que nós tentamos em "Brasil S.A." e agora, em "S.O.S. Brasil".
Caruso - Eu achava que "Brasil S.A." não iria interessar tanto quanto interessou. Não só em bilheteria, que foi bastante alta, quase 90 mil pessoas, mas até em termos de qualidade, para o seu público, que vai pelo empresário, o político. Esse público saía do teatro comovido, com todos os problemas que a peça tinha.
Moraes - A gente ficava com água nos olhos. Porque era tanta receptividade.
Caruso - E atingia aquele público. Agora esta peça, "S.O.S. Brasil", é muito mais universal.
Moraes - Do pobre ao rico, mexe com todo mundo. (Um assessor traz textos de "Brasil S.A.". Moraes diz, rindo: "Nós vamos levar "Brasil S.A." em Brasília".)
Caruso - Talvez a gente faça uma semana. (ri) Ele (Moraes) quer uma companhia de repertório.
Moraes - É porque foi uma coisa muito boa, um clima gostoso. O elenco se deu tão bem.
Folha - Não houve conflito entre diretor e autor?
Moraes -
É muito comum esse negócio de conflito, mas entre diretor e atriz e atores, de maneira geral. Eu sempre fiquei fora. "Me respeitem, por favor." (ri)
Folha - Tem muito diretor que sai cortando o texto.
Moraes -
Não, não. Nós temos total harmonia. O segredo é o entrosamento. O Marcos diz "isso aqui vai dar barriga" e ele tem experiência teatral. Eu não tenho. Nós trocamos idéias num clima de muita harmonia.
Folha - O sr. está participando das leituras da peça?
Moraes -
Claro. Mas eu sou observador, só. É preciso observar, pelo seguinte: para mim, em "Brasil S.A.", logo que eu escrevi, a esposa do empresário seria a grande figura. Quando fizemos a primeira leitura, ela ficou metade da peça calada. (ri) Foi também o caso do general, agora.
Caruso - Mas é engraçado porque, em "Brasil S.A.", ele (Moraes) não deixava mudar nada, nem vírgula. Com a leitura, ele começou a mexer. E aí, a gente ensaiando, ele ia lá botar "caco".
Moraes - Não, com um diretor competente, eu não iria bancar... Eu falei, "a meta está lá, foi cumprida, e com o resto a gente tem flexibilidade".
Folha - Até porque era a sua primeira peça.
Moraes -
A segunda é pior ainda, porque a responsabilidade aumenta. (ri) Se for pior do que a primeira, nós estamos fritos.


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