São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2000


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Escritores prezam a diversidade

DA REDAÇÃO

Os interesses de alguns dos escritores do Trem Literatura Europa 2000 podem ser bem diferentes, mas, se é possível que a Europa rume mesmo para uma Torre de Babel, isso está longe de ser um fato a lamentar. Pelo contrário.
Ana Luísa Amaral, poeta e professora de literatura inglesa na Faculdade de Letras do Porto, usa o fato de o "diário de bordo" da viagem ser traduzido em várias línguas para mostrar o valor da pluralidade. "Com a tradução dos textos para as várias línguas européias tenta-se, penso, evitar um idioma comum -o inglês- e defender a relevância de várias línguas. Assim, terá um novo efeito a Torre de Babel: o reverso do castigo."
Quanto ao que espera encontrar na viagem com os escritores de 42 outros países, Ana Luísa diz que uma das maiores curiosidades que deseja ver saciadas é saber como se posicionam as mulheres do Leste Europeu. "Como mulher feminista -minha poesia não é feminista, eu sou-, esse é um assunto que me toca particularmente. Quero saber se é possível falar de uma identidade comum no que diz respeito às mulheres. Quero ver se temos preocupações idênticas ou não e se é possível encontrar respostas comuns aos nossos problemas", diz.
Jacques Jouet, poeta, autor teatral, romancista e ensaísta francês, outro participante do Trem Literatura, também é pela diversidade. "A Europa é, felizmente, uma Torre de Babel, na qual nos encontramos, nos compreendemos e também nos desentendemos. Como todo o mundo", diz.
Mas Jouet é bastante categórico quanto ao mito da Torre de Babel. "A Torre de Babel é, para mim, um mito antipático", diz. E explica: "A diversidade das línguas e a dispersão dos homens como duas punições de ordem divina é algo monstruoso. A Europa é uma Torre de Babel que não dá a mínima para a punição divina. A Europa se interessa pela tradução. O mundo também".
E a identidade européia? Se ela existe, existiria também um escritor que a traduzisse? "Não sei. Não acho que exista escritor a traduzir uma identidade européia. Nem me parece que seja desejável. Sou pela valorização das diferenças", diz Ana Luísa Amaral. (LAT)


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