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Na escola, Pessoa já era bom em línguas
Em duas temporadas em colégio de elite, poeta, ainda jovem, demonstrava interesse pelo ambiente literário
Segundo historiador Hubert Jennings, Pessoa não gostava de esportes e sofria com agressões de colegas de turma
DO ENVIADO A DURBAN
"Excelente. O garoto tem
grande habilidade e tem feito
um trabalho esplêndido no
semestre." O garoto é Fernando Pessoa, aos 12 anos, e
o comentário, no boletim datado de dezembro de 1900, é
do diretor da Durban High
School, Wilfrid Nicholas.
Nicholas, apreciador de latim, grego e cultura clássica,
desenvolveu interesse especial pelo garoto prodígio. Alguns estudiosos afirmam
que ele foi inspiração para
um dos heterônimos do poeta, o classicista Ricardo Reis.
No boletim do segundo semestre de 1900, o menino
tem conceito "muito bom
mesmo" em aritmética e latim, "excelente" em francês e
"muito bom" em inglês, história e redação.
Mas a nota em aritmética
despenca no semestre seguinte, o da primeira metade
de 1901. O desempenho é
considerado "fraco e errático", talvez um sintoma de
que o futuro poeta já mostrasse desinteresse por disciplinas sem ligação com o
mundo da literatura.
Em seu livro sobre Pessoa,
o historiador Hubert Jennings (já morto), ele próprio
um ex-aluno da escola, afirma que o poeta não era chegado a esportes e sofria com
o "bullying" (agressões) de
colegas. Seu interesse maior
era pelo estimulante ambiente literário, repleto de grupos
de estudos e debates.
Na edição de dezembro de
1904 da revista da escola, a
"Durban High School Magazine", Pessoa publicou um
longo ensaio sobre o poeta
britânico Thomas Macaulay
(1800-1859). Ao fim do artigo,
assina "F.A. Pessôa".
O poeta passou ali duas
temporadas: 1899-1901 e
1904-1905. Na época, havia
200 estudantes -hoje, são
900. O colégio funciona ainda no mesmo endereço, mas
onde era a sala do diretor, hoje um pátio, foi erguido um
busto de Pessoa.
"É proposital, para que ele
fique sempre olhando para
seu mentor", diz Jeremy
Oddy, arquivista da escola.
Visitantes distraídos teriam dificuldade em reconhecer o poeta, esculpido
sem óculos e chapéu. "Óculos numa estátua não iriam
durar muito num lugar com
tantos garotos", diz Oddy.
Uma placa, pinturas e um
mural de azulejos, com alguns de seus versos mais conhecidos, traduzidos para o
inglês, adornam as paredes
do colégio.
A Durban High School,
fundada em 1866, perdeu o
caráter elitista da época do
poeta. Hoje, há também negros, mestiços e indianos.
Mas algumas tradições se
mantêm: apenas meninos
podem estudar ali. Todos
vestem uniforme com gravata. Ao verem um professor,
repetem "sir".
(FÁBIO ZANINI)
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