São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2010

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Na escola, Pessoa já era bom em línguas

Em duas temporadas em colégio de elite, poeta, ainda jovem, demonstrava interesse pelo ambiente literário

Segundo historiador Hubert Jennings, Pessoa não gostava de esportes e sofria com agressões de colegas de turma


DO ENVIADO A DURBAN

"Excelente. O garoto tem grande habilidade e tem feito um trabalho esplêndido no semestre." O garoto é Fernando Pessoa, aos 12 anos, e o comentário, no boletim datado de dezembro de 1900, é do diretor da Durban High School, Wilfrid Nicholas.
Nicholas, apreciador de latim, grego e cultura clássica, desenvolveu interesse especial pelo garoto prodígio. Alguns estudiosos afirmam que ele foi inspiração para um dos heterônimos do poeta, o classicista Ricardo Reis.
No boletim do segundo semestre de 1900, o menino tem conceito "muito bom mesmo" em aritmética e latim, "excelente" em francês e "muito bom" em inglês, história e redação.
Mas a nota em aritmética despenca no semestre seguinte, o da primeira metade de 1901. O desempenho é considerado "fraco e errático", talvez um sintoma de que o futuro poeta já mostrasse desinteresse por disciplinas sem ligação com o mundo da literatura.
Em seu livro sobre Pessoa, o historiador Hubert Jennings (já morto), ele próprio um ex-aluno da escola, afirma que o poeta não era chegado a esportes e sofria com o "bullying" (agressões) de colegas. Seu interesse maior era pelo estimulante ambiente literário, repleto de grupos de estudos e debates.
Na edição de dezembro de 1904 da revista da escola, a "Durban High School Magazine", Pessoa publicou um longo ensaio sobre o poeta britânico Thomas Macaulay (1800-1859). Ao fim do artigo, assina "F.A. Pessôa".
O poeta passou ali duas temporadas: 1899-1901 e 1904-1905. Na época, havia 200 estudantes -hoje, são 900. O colégio funciona ainda no mesmo endereço, mas onde era a sala do diretor, hoje um pátio, foi erguido um busto de Pessoa.
"É proposital, para que ele fique sempre olhando para seu mentor", diz Jeremy Oddy, arquivista da escola.
Visitantes distraídos teriam dificuldade em reconhecer o poeta, esculpido sem óculos e chapéu. "Óculos numa estátua não iriam durar muito num lugar com tantos garotos", diz Oddy.
Uma placa, pinturas e um mural de azulejos, com alguns de seus versos mais conhecidos, traduzidos para o inglês, adornam as paredes do colégio.
A Durban High School, fundada em 1866, perdeu o caráter elitista da época do poeta. Hoje, há também negros, mestiços e indianos.
Mas algumas tradições se mantêm: apenas meninos podem estudar ali. Todos vestem uniforme com gravata. Ao verem um professor, repetem "sir". (FÁBIO ZANINI)

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