São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2010

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Poeta omite Durban e destila influência inglesa

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Não há, na obra de Pessoa, nenhuma menção direta a Durban, onde viveu por mais de nove anos -daí que muitos interpretem como revanchismo o desdém da cidade em relação a ele.
Mas, segundo analistas, é notória a influência da fase sul-africana na obra do autor. E, ao longo dos anos, foram descobertas menções indiretas ao período.
O americano Richard Zenith, que traduziu a obra de Pessoa para o inglês, conta que, pouco antes de morrer, o poeta ouviu a música "Un Soir à Lima" (uma noite em Lima), que a mãe costumava tocar no piano em Durban.
"Então, Pessoa escreveu um longo e inacabado poema com o mesmo título, evocando as noites com a família na sala, a mãe a tocar piano, e o jovem Fernando ao lado da janela, onde luzia "o grande luar da África". É comovente o poema [publicado pela primeira vez em 2000]", disse à Folha.
Zenith vê notória influência da literatura britânica na obra do poeta. Cita Shakespeare ("como ídolo e ideal, pelo seu poder de despersonalização e desdobramento"), Milton, Shelley, Byron, Keats e Robert Browning, além de Carlyle e Poe (na prosa). "Defendo, aliás, que a própria língua inglesa se sente na poesia de Alberto Caeiro e de Álvaro de Campos."
Professor aposentado da USP, Carlos Felipe Moisés lembra que, ao voltar a Portugal, Pessoa ambicionou ser reconhecido como autor de língua inglesa, lançando volumes no idioma e sonetos de inspiração shakespeariana. "A cultura dele é tão britânica quanto portuguesa."


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