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Poeta omite Durban e destila influência inglesa
FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO
Não há, na obra de Pessoa,
nenhuma menção direta a
Durban, onde viveu por mais
de nove anos -daí que muitos interpretem como revanchismo o desdém da cidade
em relação a ele.
Mas, segundo analistas, é
notória a influência da fase
sul-africana na obra do autor. E, ao longo dos anos, foram descobertas menções indiretas ao período.
O americano Richard Zenith, que traduziu a obra de
Pessoa para o inglês, conta
que, pouco antes de morrer,
o poeta ouviu a música "Un
Soir à Lima" (uma noite em
Lima), que a mãe costumava
tocar no piano em Durban.
"Então, Pessoa escreveu
um longo e inacabado poema com o mesmo título, evocando as noites com a família
na sala, a mãe a tocar piano,
e o jovem Fernando ao lado
da janela, onde luzia "o grande luar da África". É comovente o poema [publicado
pela primeira vez em 2000]",
disse à Folha.
Zenith vê notória influência da literatura britânica na
obra do poeta. Cita Shakespeare ("como ídolo e ideal,
pelo seu poder de despersonalização e desdobramento"), Milton, Shelley, Byron,
Keats e Robert Browning,
além de Carlyle e Poe (na prosa). "Defendo, aliás, que a
própria língua inglesa se sente na poesia de Alberto Caeiro e de Álvaro de Campos."
Professor aposentado da
USP, Carlos Felipe Moisés
lembra que, ao voltar a Portugal, Pessoa ambicionou ser
reconhecido como autor de
língua inglesa, lançando volumes no idioma e sonetos de
inspiração shakespeariana.
"A cultura dele é tão britânica quanto portuguesa."
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