São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2011 |
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Papa pop & mau Quarto volume do gibi "Bórgia" , publicado agora no Brasil, encerra saga de Milo Manara e do roteirista chileno Alejandro Jodorowsky sobre sexo, poder e corrupção na Igreja Católica DIOGO BERCITO DE SÃO PAULO O roteirista chileno Alejandro Jodorowsky, 82, está apaixonado por São Paulo. "É a cidade mais bonita do mundo!", ele diz à Folha. Depois de muitas outras loas, percebe o engano. "Não, não não! O Rio é a mais bonita. São Paulo é a mais feia de todas! É terrível! Desculpe, eu me confundi! Rarararara!" O rebuliço mental faz parte do charme do autor de "Bórgia", gibi cujo quarto e último volume é publicado agora no Brasil, encerrando a saga safada e violenta do papa Rodrigo Bórgia (1431-1503). Alternando entre o inglês (com um sotaque que seu secretário jura ser "delicioso") e o espanhol, Jodorowsky nem sempre fala lé com cré. Mas fala bem, e bastante. Prolífico, ele é cineasta, assinou roteiros de filmes ("El Topo", 1970) e de quadrinhos ("O Incal", 1981), além de peças de teatro e de livros sobre o tarô -paixão que denuncia a verve mística em sua obra. Ele não escreveu, porém, o roteiro da série "Os Bórgias", exibida na TV americana. Mas, jura, a ideia é dele. "Me roubaram", brinca, e em seguida diz-se honrado. Folha - O que chamou sua atenção na família Bórgia? Alejandro Jodorowsky - É a primeira manifestação da máfia. Era um negócio dirigido por uma família, feito não com drogas, mas com bulas [pontifícias]. Como hoje, misturava religião com política. Em "O Incal" e "Bórgia", os personagens vivem em situações em que não precisam lutar para sobreviver. É uma espécie de crítica social da abundância e do ócio? Os ricos, que são minoria, estão destruindo o mundo com o modo de vida deles. Como artista, vivo nesse momento histórico. Minhas HQs são retratos dessa época. O que podemos aprender a partir do comportamento dos personagens desses gibis? Por que você está me perguntando isso? Não é uma questão útil. Eu não faço livros para ensinar nada. Você sempre aprende, nem que seja de um cocô no meio da rua. Por que a abundância de cenas grotescas na HQ? Quero destruir a Igreja Católica! Quero matar todos os papas, violar os papas! Mesmo? Não! Estou brincando. Mas eles não podem me excomungar. Nem sou católico! Que me importaria isso? Você viu a série de televisão sobre os Bórgias? Eles copiaram meus gibis, estão seguindo meu esquema. Estou honrado. Quer dizer que você é bom. E, na TV, eles têm uma quantidade imensa de horas. Podem explorar mais os personagens. O que impulsiona os personagens de "Bórgia"? O poder. Eles não têm moral, não são religiosos. Como o gibi reflete sua visão particular da religião? "Bórgia" não é sobre religião. É um livro histórico. Você fala português e eu falo espanhol porque esse papa dividiu a América do Sul e deu o Brasil para Portugal. Então, ele está agindo entre nós, neste exato instante. Você é bastante ligado ao misticismo. Sua biografia oficial, por exemplo, se atém a detalhes como ter nascido no paralelo 22, que é também o número de arcanos no tarô... O misticismo está em tudo. A vida é um milagre. Você está cercado de milagres. Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Crítica/Quadrinhos: Final da saga repete elementos marcantes e acaba subitamente Índice | Comunicar Erros |
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