São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2011 |
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Aos 28 anos, autor brilha ao tratar de diferenças Também diretor, Leonardo Moreira busca arte na inadequação social Vencedor do Shell de melhor autor teatral de 2010 estreia seu novo espetáculo, "O Jardim", em São Paulo
GABRIELA MELLÃO DE SÃO PAULO Quando era menino, Leonardo Moreira construía histórias sobre si mesmo. O autor e diretor de 28 anos cresceu confinado numa cidade de pouco mais de 10 mil habitantes no interior de Minas Gerais. Aliviava a sensação de despertencimento observando a vida na terceira pessoa. Era uma criança diferente das outras. Tinha comportamento bastante introspectivo. Alguns parentes acreditavam que Moreira, que aprendeu a ler antes de falar, era surdo. "Se meus pais tivessem me levado para uma avaliação, poderia ter sido diagnosticado autista", diz. O menino seguiu transformando vivência em ficção, como sempre se diferenciando dos outros. Mudou-se para São Paulo. Com o tempo, deixou de ser seu único espectador e destacou-se como um dos mais talentosos dramaturgos que surgiu nos últimos anos. Após vencer o Prêmio Shell de melhor autor teatral de 2010 -por "Escuro", montagem da Cia. Hiato na qual também atua como diretor-, ele apresenta "O Jardim". O novo trabalho, que estreia amanhã, também nasce a partir de suas memórias. Conforme constatou após generosas doses de observação, a memória é manipulada por aquele que busca encontrar sentido e coerência para seu caminhar. "A gente acredita muito em memórias, mas elas são criações nossas", diz. Para ele, cada homem é múltiplo e dá uniformidade para sua vida graças à história que cria de si mesmo. Moreira diz não se obrigar a trafegar o caminho do teatro experimental. Sente-se atraído sobretudo por uma boa história. Sua obra, entretanto, conta outra coisa. Evidencia uma predileção pela investigação da temática do diferente e pela busca de novas linguagens. Com "Cachorro Morto", primeiro espetáculo do grupo, ele rompe com a dramaturgia convencional na temática e na forma. Aborda a síndrome de Asperger, desmembrando o protagonista em cinco atores. Trilha o caminho inverso em "Escuro". A peça discute a incomunicabilidade humana ao explorar diversos distúrbios, sem recorrer à despersonificação de sujeito. Com "O Jardim" fala sobre a memória, servindo-se dela como tema e linguagem. Moreira conta que nunca se sentiu vítima de qualquer síndrome. Na verdade, foi norteado por uma sensação de inadequação, consequência sobretudo de timidez. Por conta dela fez de sua obra uma ode às diferenças, destacando-se como um artista singular. O JARDIM QUANDO sex. e sáb., às 21h30; dom., às 18h30; de 27/5 a 3/7 ONDE Sesc Belenzinho (r. Padre Adelino, 100, tel.0/xx/11/2076-9700) QUANTO de R$ 6 a R$ 24 CLASSIFICAÇÃO 16 anos Texto Anterior: Fases de Miles Davis Próximo Texto: Memória serve como tema e linguagem Índice | Comunicar Erros |
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