LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Lá vai um balde de água fria para quem comemorou a extinção do "Cidade Alerta" (Record) no início deste mês: parte dos "órfãos" do líder de audiência do "mundo cão" migrou para o similar "Brasil Urgente" (Band), o que deu fôlego à sobrevivência do sensacionalismo na televisão.
A Bandeirantes contabiliza um crescimento de 32% de audiência no horário desde que o "Cidade Alerta" saiu do ar (3 de junho), em comparação com as três últimas semanas de existência do telejornal. Passou de 3,6 para 4,8 pontos de média no Ibope, enquanto a Record registrou queda de 24% no horário, de 9,7 para 7,4 (cada ponto equivale a 52,3 mil domicílios na Grande São Paulo).
Assim, qualquer plano de tirar José Luiz Datena das notícias policialescas do "Brasil Urgente" está completamente descartado por ora pela direção da Bandeirantes.
Ao contrário da Record, a Band diz não sofrer pressão do governo ou de anunciantes pelo fim do telejornal popular. Também afirma não considerar que o programa seja sensacionalista ou que prejudique a imagem de credibilidade jornalística da emissora.
"Ele é necessário diante de nossa realidade violenta. Se a Inglaterra tivesse 50 assassinatos em um final de semana, como acontece aqui, certamente a televisão inglesa teria um programa assim", diz Marcelo Parada, vice-presidente da Rede Bandeirantes.
Para ele, o "Brasil Urgente" possui um caráter de "serviço ao telespectador, utilidade pública".
A Rede TV!, apesar de não ter faturado no Ibope -ao menos por enquanto- com a extinção do "Cidade Alerta", descartou o antigo projeto de acabar com o seu representante do "mundo cão", o "Repórter Cidadão".
A decisão da Record de tirar o policial do ar só reforçou a análise da direção da Rede TV! de que há espaço para esse tipo de noticiário. "Acredito que o público do "Cidade Alerta" acabe migrando para o "Repórter Cidadão'", afirma José Emílio Ambrósio, diretor de jornalismo da Rede TV!.
Ele argumenta que o programa, apresentado por Ney Gonçalves Dias, "vem abandonando" o estilo policialesco, focando em prestação de serviço, e possui "uma função importante em uma realidade de desigualdade social".
O "Repórter Cidadão" tem mantido uma média de cinco pontos no Ibope. Somada à audiência do "Brasil Urgente", são mais de 512 mil domicílios sintonizados no "mundo cão" só na Grande São Paulo. Isso sem falar que o "Cidade Alerta" continua no ar no Rio de Janeiro, comandado por Wagner Montes, e que há vários similares regionais pelo Brasil. Todos exibidos em horário classificado como livre pelo governo federal, isto é, liberados para menores de 12 anos.

Baixaria
A "crise de identidade" do "mundo cão" na TV, que teve seu espaço reduzido na programação, é considerada uma vitória pela campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, da Câmara dos Deputados. Após obter destaque na mídia, a iniciativa ganhou adesão de anunciantes, como as Casas Bahia.


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