São Paulo, domingo, 26 de junho de 2005

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ERUDITO

Regida por João Maurício Galindo, "Così Fan Tutte" estréia quinta-feira no teatro São Pedro, em São Paulo

Ópera de Mozart ganha versão de músicos estreantes

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Não será apenas a estréia de uma encenação da ópera "Così Fan Tutte", de Mozart. Na próxima quinta, entram no palco do teatro São Pedro, em São Paulo, cantores líricos que pela primeira vez participam de uma ópera encenada "comme il faut", com orquestra, figurinos e cenários.
No fosso da orquestra em frente ao palco, os músicos da Banda Sinfônica Jovem também fazem sua primeira ópera. Os 70 integrantes vão se revezar em quatro apresentações (três na capital e uma no Festival de Inverno de Campos do Jordão).
"Così Fan Tutte" estreou em 1790 e é parceria entre Mozart (1756-91) e Lorenzo da Ponte (1749-1838), autor do libreto. Juntos, eles assinaram ainda "As Bodas de Fígaro" e "Don Giovanni".
Ópera bufa, cômica, "Così Fan Tutte" (assim fazem todas) pode ser considerada hoje pouco correta, por defender a idéia de que todas as mulheres são infiéis.
A tese da infidelidade feminina é do personagem Don Alfonso, que provoca dois jovens amigos a testar a fidelidade de suas namoradas, Fiordiligi e Dorabella. Eles inventam um motivo para se afastarem das moças e assumem identidades falsas, com as quais passam a cortejá-las, ajudados pela empregada Despina.
Pelo equilíbrio dos papéis -todos são protagonistas-, a ópera foi escolhida para inaugurar o projeto de ópera-estúdio da Escola Livre de Música Tom Jobim, que pretende encenar a cada ano uma nova ópera com seus alunos.
O orçamento da montagem é de R$ 180 mil -uma versão profissional sairia por R$ 900 mil. Ninguém ganha cachê, com exceção dos professores e dos maestros.
Mauro Wrona, 49, diretor cênico e coordenador do projeto, também é estudante. Com sólida carreira internacional como cantor lírico na Europa e nos EUA, ele decidiu estudar regência na Faculdade Santa Marcelina. Antes, porém, ele teve que completar o ensino médio (segundo grau) que havia abandonado.
"É um trabalho emocionante. Você pode estudar durante anos e quando vai cantar? Só se passar em uma audição", diz Wrona.
Segundo ele, as óperas-estúdio, feitas por novatos, são comuns fora do Brasil. "Faz parte da formação, é o celeiro de profissionais."
O objetivo é que esse modelo se reproduza aqui. Clodoaldo Medina, diretor da Universidade Livre de Música, convidou os principais produtores de ópera do país para assistir aos seus alunos.

Mercado
"Nossa escola é profissionalizante, e o projeto ajuda os alunos a ingressarem no mercado mais facilmente", afirma Medina.
Mercado, para Medina, não é problema. "Há sempre o público fanático por ópera e aquele ávido para entender esse universo."
Para completar a produção, foram firmados convênios com a Faculdade Santa Marcelina -as alunas do curso de moda idealizaram os figurinos- e com o Instituto Tomie Ohtake, onde o artista plástico Guto Lacaz realizou uma oficina especialmente para desenvolver a cenografia da peça.
As 18 figurinistas-aprendizes foram selecionadas em um concurso para o qual quase um terço dos alunos do curso de moda se inscreveu. Elas desenvolveram os figurinos a partir de um estudo das características dos personagens.
"Elas propuseram coisas fantásticas, encontraram soluções de cores impecáveis", elogia Paula Motta, uma das professora que acompanhou o processo.
"Os figurinos são clássicos, mas tentamos dar um ar contemporâneo", conta a estudante do terceiro ano Claudia Sanchez, 23.
Ela pretende ser estilista, mas depois da experiência passou a considerar o trabalho como figurinista como uma opção.
Como em uma produção profissional, elas passaram por problemas: planejavam vestir as protagonistas com saias que subiriam com o desenrolar da trama, mas, na prática, o recurso não funcionou e elas tiveram que readaptar.
Já a criação dos cenários envolveu gente com algum conhecimento técnico -havia no curso arquitetos e designers.
"Cada um fez uma maquete, uma proposta, e aproveitamos parte desses trabalhos. Há um pouco de cada um aqui", afirma a nova cenógrafa Renata Dallari.


Così Fan Tutte
Quando: dias 29 e 30/6, às 21h; 3/7, às 17h
Onde: teatro São Pedro (r. Barra Funda 171, Campos Elíseos, SP, tel. 0/xx/11/ 3667-0499)
Quanto: R$ 40 (estudantes e terceira idade pagam meia-entrada)



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