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ERUDITO
Regida por João Maurício Galindo, "Così Fan Tutte" estréia quinta-feira no teatro São Pedro, em São Paulo
Ópera de Mozart ganha versão de músicos estreantes
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Não será apenas a estréia de
uma encenação da ópera "Così
Fan Tutte", de Mozart. Na próxima quinta, entram no palco do
teatro São Pedro, em São Paulo,
cantores líricos que pela primeira
vez participam de uma ópera encenada "comme il faut", com orquestra, figurinos e cenários.
No fosso da orquestra em frente
ao palco, os músicos da Banda
Sinfônica Jovem também fazem
sua primeira ópera. Os 70 integrantes vão se revezar em quatro
apresentações (três na capital e
uma no Festival de Inverno de
Campos do Jordão).
"Così Fan Tutte" estreou em
1790 e é parceria entre Mozart
(1756-91) e Lorenzo da Ponte
(1749-1838), autor do libreto. Juntos, eles assinaram ainda "As Bodas de Fígaro" e "Don Giovanni".
Ópera bufa, cômica, "Così Fan
Tutte" (assim fazem todas) pode
ser considerada hoje pouco correta, por defender a idéia de que todas as mulheres são infiéis.
A tese da infidelidade feminina
é do personagem Don Alfonso,
que provoca dois jovens amigos a
testar a fidelidade de suas namoradas, Fiordiligi e Dorabella. Eles
inventam um motivo para se afastarem das moças e assumem
identidades falsas, com as quais
passam a cortejá-las, ajudados pela empregada Despina.
Pelo equilíbrio dos papéis -todos são protagonistas-, a ópera
foi escolhida para inaugurar o
projeto de ópera-estúdio da Escola Livre de Música Tom Jobim,
que pretende encenar a cada ano
uma nova ópera com seus alunos.
O orçamento da montagem é de
R$ 180 mil -uma versão profissional sairia por R$ 900 mil. Ninguém ganha cachê, com exceção
dos professores e dos maestros.
Mauro Wrona, 49, diretor cênico e coordenador do projeto,
também é estudante. Com sólida
carreira internacional como cantor lírico na Europa e nos EUA, ele
decidiu estudar regência na Faculdade Santa Marcelina. Antes,
porém, ele teve que completar o
ensino médio (segundo grau) que
havia abandonado.
"É um trabalho emocionante.
Você pode estudar durante anos e
quando vai cantar? Só se passar
em uma audição", diz Wrona.
Segundo ele, as óperas-estúdio,
feitas por novatos, são comuns fora do Brasil. "Faz parte da formação, é o celeiro de profissionais."
O objetivo é que esse modelo se
reproduza aqui. Clodoaldo Medina, diretor da Universidade Livre
de Música, convidou os principais
produtores de ópera do país para
assistir aos seus alunos.
Mercado
"Nossa escola é profissionalizante, e o projeto ajuda os alunos
a ingressarem no mercado mais
facilmente", afirma Medina.
Mercado, para Medina, não é
problema. "Há sempre o público
fanático por ópera e aquele ávido
para entender esse universo."
Para completar a produção, foram firmados convênios com a
Faculdade Santa Marcelina -as
alunas do curso de moda idealizaram os figurinos- e com o Instituto Tomie Ohtake, onde o artista
plástico Guto Lacaz realizou uma
oficina especialmente para desenvolver a cenografia da peça.
As 18 figurinistas-aprendizes foram selecionadas em um concurso para o qual quase um terço dos
alunos do curso de moda se inscreveu. Elas desenvolveram os figurinos a partir de um estudo das
características dos personagens.
"Elas propuseram coisas fantásticas, encontraram soluções de
cores impecáveis", elogia Paula
Motta, uma das professora que
acompanhou o processo.
"Os figurinos são clássicos, mas
tentamos dar um ar contemporâneo", conta a estudante do terceiro ano Claudia Sanchez, 23.
Ela pretende ser estilista, mas
depois da experiência passou a
considerar o trabalho como figurinista como uma opção.
Como em uma produção profissional, elas passaram por problemas: planejavam vestir as protagonistas com saias que subiriam
com o desenrolar da trama, mas,
na prática, o recurso não funcionou e elas tiveram que readaptar.
Já a criação dos cenários envolveu gente com algum conhecimento técnico -havia no curso
arquitetos e designers.
"Cada um fez uma maquete,
uma proposta, e aproveitamos
parte desses trabalhos. Há um
pouco de cada um aqui", afirma a
nova cenógrafa Renata Dallari.
Così Fan Tutte
Quando: dias 29 e 30/6, às 21h; 3/7, às
17h
Onde: teatro São Pedro (r. Barra Funda
171, Campos Elíseos, SP, tel. 0/xx/11/
3667-0499)
Quanto: R$ 40 (estudantes e terceira
idade pagam meia-entrada)
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