São Paulo, domingo, 26 de junho de 2005

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VIDA DE MÚSICO

Artistas sonham com profissionalização e carreira internacional

"Juniores" ganham bolsa para tocar

DA REPORTAGEM LOCAL

Caio Guatelli/Folha Imagem
Carolina Feuerharmel, 18, spalla da Banda Sinfônica Jovem


"A orquestra é como um time de futebol de moleque", compara o maestro João Maurício Galindo. Durante um ensaio com os cantores, na semana passada, o "técnico" deu bronca, parou e pediu para recomeçar. "Quando eles não estão tocando, eu brigo, mas a gente se ama."
É sob a batuta de Galindo -15 anos à frente da Banda Sinfônica Jovem e titular da Jazz Sinfônica- que o time de juniores da música clássica entra em campo em "Così Fan Tutte".
Formada sobretudo por jovens entre 14 e 27 anos (a maioria tem 20 e poucos), a banda, apelidada de "Estadualzinha", funciona em esquema de bolsa. Os 70 integrantes recebem um salário mínimo por mês para ensaiar três vezes por semana.
Não é um salário de profissional, mas é uma ajuda importante. Segundo o maestro, os músicos são em geral de famílias de classe média ou baixa.
"Quando eu era estudante, na década de 80, era gente de classe mais alta. Essas pessoas queriam que os filhos estudassem música, mas não se tornassem profissionais", conta Galindo. "Já para a classe mais baixa, ser músico é uma ascensão social."
Filho de um operário e de uma dona-de-casa, Tiago Maciel, 17, vive em São Bernardo, no ABC, e entrou para o grupo neste ano, mas estuda violino há três.
Como muitos outros colegas, Tiago tomou contato com a música na igreja. Ele freqüenta a Assembléia de Deus e não tem na família nenhum músico.
"Minha família não curte música, meus pais são advogados", conta Carolina Feuerharmel, 18, spalla (primeiro violino) da banda. O instrumento que ela usa é herança do avô.
"As pessoas pensam que músico erudito é nerd. Quando os meus amigos que não são músicos fazem festa dizem: "Leva um CD do Beethoven para a Carol"."
Neste ano, Carolina deu mais um passo para se profissionalizar: passou no vestibular de música da USP e entrou na orquestra de câmara da universidade. Ela estuda cinco horas por dia.
Entrar para uma grande orquestra brasileira na qual pode-se ganhar R$ 8.000 mensais é um desejo comum. Outra ambição é a carreira no exterior.
"A Alemanha é a Hollywood da ópera", diz o barítono Carlos Eduardo Vieira, 31, um dos cantores que vive Guglielmo.
Ele comemora o fato de que poderá fazer esse papel em qualquer outra montagem pelo mundo. Além de cantar, Vieira dirige um coro e se apresenta em casamentos. (TNO)


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