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Arrigo lança em disco sua homenagem a Itamar
Missa in memorian mantém gestual agressivo de vanguarda dos anos 70
Com texto em grego e latim, o CD de meia hora, regido pelo maestro Tiago Pinheiro, chega às lojas em agosto, com preço popular
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para celebrar o amigo e parceiro musical Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé escreveu
uma homenagem emocionada,
mas sem concessões. A "Missa
in Memorian Itamar Assumpção" mantém as principais características da linguagem musical de Arrigo -o gestual
agressivo que o projetou como
"vanguardista" nos anos 70, e
não o pop aquoso em que Arrigo ameaçou escorregar durante
um breve, e felizmente já distante, período de sua carreira.
Com meia hora de música, a
obra acaba de ser gravada com
patrocínio da Petrobras e produção do cantor e compositor
Carlos Careqa, para ser lançada
em agosto, pelo selo Thanx
God/Tratore. Careqa promete
um preço "mais popular" para o
CD, devido à pouca duração.
Não se trata da primeira incursão de Arrigo no gênero. Em
2003, o compositor fez uma
missa para acompanhar uma
mostra dedicada ao artista
plástico Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), no Centro Cultural Banco do Brasil.
"Nunca me imaginei escrevendo uma missa para o Itamar", diz o compositor. "Aliás,
sempre me pareceu mais lógico
o contrário, pois Itamar tinha
uma saúde de ferro, nunca
adoecia."
"Mas parece que, a partir dos
50 anos, de fato, começamos a
viver a experiência do luto e a
tomar consciência da finitude
humana, de uma forma muito
mais concreta", afirma. "Então
nosso olhar pode se voltar para
a espiritualidade -não falo de
seitas, religiões ou espíritos-,
para a vida que permanece,
aquela que não é absorvida no
ciclo biológico."
Com texto em grego e latim
-interpolado por discretas citações e alusões a Itamar, especialmente à expressão "Nego
Dito"-, a obra segue as seções
da liturgia católica: "Kyrie",
"Gloria", "Credo", "Sanctus" e
"Agnus Dei".
Para executá-la, foram arregimentados orquestra e coro de
12 vozes, com a feliz escolha de
regente recaindo sobre Tiago
Pinheiro -um intérprete que,
quer como maestro, quer como
cantor, tem a rara habilidade de
fazer dentro do estilo tanto o
repertório popular quanto o
erudito, sem jamais cair naquela mistura insípida habitualmente rotulada de "crossover".
Como orquestrador, o principal mérito de Arrigo é manter
texturas transparentes e predominantemente camerísticas,
nas quais o timbre parece ser
elemento não apenas colorístico, mas estrutural -os instrumentos se alternam ao longo da
partitura em engenhosos contrapontos sem, contudo, formar blocos sonoros maciços.
De resto, ele emprega uma
rítmica vigorosa, aliado a um
melodismo anguloso e pouco linear, e uma linguagem harmônica flertando constantemente
com a dissonância e a atonalidade. A "Missa in Memorian
Itamar Assumpção" projeta Arrigo como um compositor contemporâneo, no melhor sentido da expressão.
NA INTERNET - Ouça trecho de
"Kyrie", primeira faixa de "Missa in
Memorian Itamar Assumpção"
www.folha.com.br/061754
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