São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2006

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Arrigo lança em disco sua homenagem a Itamar

Missa in memorian mantém gestual agressivo de vanguarda dos anos 70

Com texto em grego e latim, o CD de meia hora, regido pelo maestro Tiago Pinheiro, chega às lojas em agosto, com preço popular

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para celebrar o amigo e parceiro musical Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé escreveu uma homenagem emocionada, mas sem concessões. A "Missa in Memorian Itamar Assumpção" mantém as principais características da linguagem musical de Arrigo -o gestual agressivo que o projetou como "vanguardista" nos anos 70, e não o pop aquoso em que Arrigo ameaçou escorregar durante um breve, e felizmente já distante, período de sua carreira.
Com meia hora de música, a obra acaba de ser gravada com patrocínio da Petrobras e produção do cantor e compositor Carlos Careqa, para ser lançada em agosto, pelo selo Thanx God/Tratore. Careqa promete um preço "mais popular" para o CD, devido à pouca duração.
Não se trata da primeira incursão de Arrigo no gênero. Em 2003, o compositor fez uma missa para acompanhar uma mostra dedicada ao artista plástico Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), no Centro Cultural Banco do Brasil.
"Nunca me imaginei escrevendo uma missa para o Itamar", diz o compositor. "Aliás, sempre me pareceu mais lógico o contrário, pois Itamar tinha uma saúde de ferro, nunca adoecia."
"Mas parece que, a partir dos 50 anos, de fato, começamos a viver a experiência do luto e a tomar consciência da finitude humana, de uma forma muito mais concreta", afirma. "Então nosso olhar pode se voltar para a espiritualidade -não falo de seitas, religiões ou espíritos-, para a vida que permanece, aquela que não é absorvida no ciclo biológico."
Com texto em grego e latim -interpolado por discretas citações e alusões a Itamar, especialmente à expressão "Nego Dito"-, a obra segue as seções da liturgia católica: "Kyrie", "Gloria", "Credo", "Sanctus" e "Agnus Dei".
Para executá-la, foram arregimentados orquestra e coro de 12 vozes, com a feliz escolha de regente recaindo sobre Tiago Pinheiro -um intérprete que, quer como maestro, quer como cantor, tem a rara habilidade de fazer dentro do estilo tanto o repertório popular quanto o erudito, sem jamais cair naquela mistura insípida habitualmente rotulada de "crossover".
Como orquestrador, o principal mérito de Arrigo é manter texturas transparentes e predominantemente camerísticas, nas quais o timbre parece ser elemento não apenas colorístico, mas estrutural -os instrumentos se alternam ao longo da partitura em engenhosos contrapontos sem, contudo, formar blocos sonoros maciços.
De resto, ele emprega uma rítmica vigorosa, aliado a um melodismo anguloso e pouco linear, e uma linguagem harmônica flertando constantemente com a dissonância e a atonalidade. A "Missa in Memorian Itamar Assumpção" projeta Arrigo como um compositor contemporâneo, no melhor sentido da expressão.


NA INTERNET - Ouça trecho de "Kyrie", primeira faixa de "Missa in Memorian Itamar Assumpção" www.folha.com.br/061754


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