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CECILIA GIANNETTI
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Não existe literatura on-line como gênero; fugiria pra tomar chope durante debates em torno do tema
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APESAR DE o brasileiro médio
só ler 1,8 livro ao ano e de, em
2006, termos sido chamados
pela revista britânica "The Economist" -finalmente, o reconhecimento internacional- de "nação de
não-leitores", as festas literárias
multiplicam-se com sucesso pelo
país.
No rastro da Flip, que acontece
em julho, em Paraty, surgiram eventos como o Off-Flip (também em Paraty, no mesmo período de julho),
Flap! (entre 29 de junho e 1º de julho, em São Paulo), Flop (Ouro Preto, Minas Gerais, novembro) e Fliporto (Porto de Galinhas, Pernambuco, setembro), entre outros.
Se eu pudesse iria a todos, é sempre divertido -os bastidores costumam ser uma versão mais aloprada
da WordFest de "Garotos Incríveis",
do Michael Chabon.
Mas fugiria pra tomar ar fresco
(também conhecido como chope)
durante qualquer debate em torno
do tema literatura on-line, literatura
de internet ou literatura de blog.
Apesar de tal coisa não existir, o assunto é recorrente.
Existem blogs literários; existem
sites jornalísticos dedicados à literatura; listas de discussão e fóruns on-line em que os usuários trocam opiniões sobre seus textos de ficção em
críticas informais.
Há ainda iniciativas como a da editora inglesa Penguin Books, que lançou o blog A Million Penguins, no
qual cada usuário cadastrado podia
escrever um capítulo ou pedaço dele, e também reescrever partes desenvolvidas por outros usuários, resultando numa história totalmente
criada pelos internautas.
Mas não existe uma "linguagem
de literatura de internet". Pode existir, por exemplo, uma história que se
desenvolve por meio de trocas de
e-mails.
Mas não passa de um romance
epistolar ambientado no século 21.
Ficções curtas em posts podem ser
publicadas em papel, permanecendo como ficções curtas, sem qualquer prejuízo em relação ao original.
E continuará não existindo a tal da
literatura de blog.
Por enquanto, o que existe é a internet como caminho para o escritor chegar ao leitor, às vezes antes
que possa publicar em papel.
Há dez anos, um autor jovem,
desconhecido, não tinha meia dúzia
de leitores fora de seu círculo de
amizades.
Hoje, se o que produz on-line é interessante, em pouco tempo seu
blog ganha pencas de leitores. Ou
ao menos mais do que meia dúzia
deles.
E tudo isso antes que tenha um livro lançado. Por outro lado, a web
não encurta o caminho até a publicação -a maioria dos editores não
tem o hábito de fuçar blogs literários
em busca de autores novos.
Não existe a literatura on-line como gênero.
Não existirá até que surjam histórias na web impossíveis de serem
contadas no suporte livro -sob o
risco de, impressas, virarem outra
coisa que não é absolutamente o que
se propunham ser na internet.
Aí, caso se reconheça e popularize
essa ocorrência extraordinária de literatura intransponível para o papel, valerá debater o surgimento de
um novo nicho.
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