São Paulo, terça-feira, 26 de junho de 2007

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CECILIA GIANNETTI

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Não existe literatura on-line como gênero; fugiria pra tomar chope durante debates em torno do tema

APESAR DE o brasileiro médio só ler 1,8 livro ao ano e de, em 2006, termos sido chamados pela revista britânica "The Economist" -finalmente, o reconhecimento internacional- de "nação de não-leitores", as festas literárias multiplicam-se com sucesso pelo país.
No rastro da Flip, que acontece em julho, em Paraty, surgiram eventos como o Off-Flip (também em Paraty, no mesmo período de julho), Flap! (entre 29 de junho e 1º de julho, em São Paulo), Flop (Ouro Preto, Minas Gerais, novembro) e Fliporto (Porto de Galinhas, Pernambuco, setembro), entre outros.
Se eu pudesse iria a todos, é sempre divertido -os bastidores costumam ser uma versão mais aloprada da WordFest de "Garotos Incríveis", do Michael Chabon.
Mas fugiria pra tomar ar fresco (também conhecido como chope) durante qualquer debate em torno do tema literatura on-line, literatura de internet ou literatura de blog. Apesar de tal coisa não existir, o assunto é recorrente.
Existem blogs literários; existem sites jornalísticos dedicados à literatura; listas de discussão e fóruns on-line em que os usuários trocam opiniões sobre seus textos de ficção em críticas informais.
Há ainda iniciativas como a da editora inglesa Penguin Books, que lançou o blog A Million Penguins, no qual cada usuário cadastrado podia escrever um capítulo ou pedaço dele, e também reescrever partes desenvolvidas por outros usuários, resultando numa história totalmente criada pelos internautas.
Mas não existe uma "linguagem de literatura de internet". Pode existir, por exemplo, uma história que se desenvolve por meio de trocas de e-mails.
Mas não passa de um romance epistolar ambientado no século 21. Ficções curtas em posts podem ser publicadas em papel, permanecendo como ficções curtas, sem qualquer prejuízo em relação ao original. E continuará não existindo a tal da literatura de blog.
Por enquanto, o que existe é a internet como caminho para o escritor chegar ao leitor, às vezes antes que possa publicar em papel.
Há dez anos, um autor jovem, desconhecido, não tinha meia dúzia de leitores fora de seu círculo de amizades.
Hoje, se o que produz on-line é interessante, em pouco tempo seu blog ganha pencas de leitores. Ou ao menos mais do que meia dúzia deles.
E tudo isso antes que tenha um livro lançado. Por outro lado, a web não encurta o caminho até a publicação -a maioria dos editores não tem o hábito de fuçar blogs literários em busca de autores novos.
Não existe a literatura on-line como gênero.
Não existirá até que surjam histórias na web impossíveis de serem contadas no suporte livro -sob o risco de, impressas, virarem outra coisa que não é absolutamente o que se propunham ser na internet.
Aí, caso se reconheça e popularize essa ocorrência extraordinária de literatura intransponível para o papel, valerá debater o surgimento de um novo nicho.


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