São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

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Vampiros e zumbis atacam SP

Festival internacional de cinema de horror apresenta 34 filmes na cidade até a próxima quinta-feira

"Deixe Ela Entrar", sobre a amizade entre um garoto solitário e uma menina vampira, é um dos principais destaques da programação


LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Evite caminhar sozinho pela avenida Paulista. Há monstros à solta na região, abrigados até a próxima quinta em duas salas do cine Reserva Cultural, palco do SP Terror - Festival Internacional de Cinema Fantástico.
Dos muitos zumbis, vampiros, fantasmas e outros seres do além-túmulo que estrelam os 34 filmes em cartaz, um dos mais interessantes é Eli, 12, garota pálida, de cabelos e olhos pretos, que devora pescoços alheios quando a fome aperta.
Eli é a protagonista de "Deixe Ela Entrar", filme sueco de sutileza incomum no cinema de horror e que abocanhou mais de 40 prêmios mundo afora. O longa gira em torno da amizade entre a minivampira e Oskar, também 12 anos, loirinho solitário, alvo de ataques físicos e morais dos valentões da escola.
Foi a identificação com o garoto que motivou o diretor Tomas Alfredson a transformar em filme o livro homônimo de John Lindqvist. "Li o romance de John em 48 horas e não conseguia tirá-lo da cabeça. O elemento que mais me tocou foi a descrição direta, sem sentimentalismo, de Oskar, o menino intimidado, porque eu também passei por tempos difíceis na escola", conta o cineasta, em entrevista à Folha por e-mail.

Dois personagens em um
No encontro dos dois "outsiders", Eli ensina a Oskar como reagir às agressões dos colegas, numa relação que o diretor vê como complementar. "Sempre os considerei os dois lados da mesma moeda. Em termos dramáticos, eles são o mesmo personagem. Ela é o que ele precisa ser, representa os sentimentos que ele não pode extravasar, por ser frágil fisicamente."
O cineasta relembra que o processo de seleção dos protagonistas durou cerca de um ano e que foi "uma decisão assustadora" escolher os estreantes Lina Leandersson e Kare Hedebrant para viver, respectivamente, Eli e Oskar.
O trabalho com os dois no set teve de ser cuidadoso, sob supervisão familiar. Os garotos não puderam ler o roteiro antes -a cada manhã, Alfredson entregava a eles uma cena e dizia o que esperava que fizessem.
"Dirigir crianças é um trabalho de desconstruir sequências em pedaços menores, mais compreensíveis. Trabalhando assim, com foco no dia a dia, o ator mirim não tem que assumir a responsabilidade de toda a construção [do personagem]", avalia o cineasta.

Neve e escuridão
Da história original, o diretor também manteve a ambientação seca, sem nostalgia, do subúrbio de Estocolmo no início dos anos 80, época em que a história se passa. A versão ao cinema apresenta uma cidade invernal, sob montanhas de neve, de dias curtos e noites longas, ideais para vampiros. Alfredson explora essa paisagem em belos planos longos, que se contrapõem a cenas de suspense.
O cineasta economiza nos jorros de sangue e na exposição de vísceras, recursos tão comuns em obras do gênero. O diretor explica que nunca foi um fã de terror e que evitou assistir a filmes de vampiros na preparação para "Deixe Ela Entrar".
"Se eu precisava de alguma informação sobre vampirismo, ligava para o autor [do romance original] e ele me explicava tudo", afirma Alfredson, acrescentando que, na época das filmagens, passava boa parte do tempo livre ouvindo música e estudando pinturas, especialmente o trabalho do artista renascentista alemão Hans Holbein (1497/98-1543).


DEIXE ELA ENTRAR
Produção: Suécia, 2008
Direção: Tomas Alfredson
Com: Lina Leandersson, Kare Hedebrant, Per Ragnar
Onde: amanhã, às 19h, e quarta, às 21h, na sala 3 do cine Reserva Cultural
Classificação: 16 anos
Avaliação: ótimo


NO BLOG - Leia a íntegra da entrevista com o diretor Tomas Alfredson folha.com.br/ilustradanocinema



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