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Vampiros e zumbis atacam SP
Festival internacional de cinema de horror apresenta 34 filmes na cidade até a próxima quinta-feira
"Deixe Ela Entrar", sobre a amizade entre um garoto solitário e uma menina vampira, é um dos principais destaques da programação
LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Evite caminhar sozinho pela
avenida Paulista. Há monstros
à solta na região, abrigados até
a próxima quinta em duas salas
do cine Reserva Cultural, palco
do SP Terror - Festival Internacional de Cinema Fantástico.
Dos muitos zumbis, vampiros, fantasmas e outros seres do
além-túmulo que estrelam os
34 filmes em cartaz, um dos
mais interessantes é Eli, 12, garota pálida, de cabelos e olhos
pretos, que devora pescoços
alheios quando a fome aperta.
Eli é a protagonista de "Deixe
Ela Entrar", filme sueco de sutileza incomum no cinema de
horror e que abocanhou mais
de 40 prêmios mundo afora. O
longa gira em torno da amizade
entre a minivampira e Oskar,
também 12 anos, loirinho solitário, alvo de ataques físicos e
morais dos valentões da escola.
Foi a identificação com o garoto que motivou o diretor Tomas Alfredson a transformar
em filme o livro homônimo de
John Lindqvist. "Li o romance
de John em 48 horas e não conseguia tirá-lo da cabeça. O elemento que mais me tocou foi a
descrição direta, sem sentimentalismo, de Oskar, o menino intimidado, porque eu também passei por tempos difíceis
na escola", conta o cineasta, em
entrevista à Folha por e-mail.
Dois personagens em um
No encontro dos dois "outsiders", Eli ensina a Oskar como
reagir às agressões dos colegas,
numa relação que o diretor vê
como complementar. "Sempre
os considerei os dois lados da
mesma moeda. Em termos dramáticos, eles são o mesmo personagem. Ela é o que ele precisa
ser, representa os sentimentos
que ele não pode extravasar,
por ser frágil fisicamente."
O cineasta relembra que o
processo de seleção dos protagonistas durou cerca de um ano
e que foi "uma decisão assustadora" escolher os estreantes Lina Leandersson e Kare Hedebrant para viver, respectivamente, Eli e Oskar.
O trabalho com os dois no set
teve de ser cuidadoso, sob supervisão familiar. Os garotos
não puderam ler o roteiro antes
-a cada manhã, Alfredson entregava a eles uma cena e dizia o
que esperava que fizessem.
"Dirigir crianças é um trabalho de desconstruir sequências
em pedaços menores, mais
compreensíveis. Trabalhando
assim, com foco no dia a dia, o
ator mirim não tem que assumir a responsabilidade de toda
a construção [do personagem]", avalia o cineasta.
Neve e escuridão
Da história original, o diretor
também manteve a ambientação seca, sem nostalgia, do subúrbio de Estocolmo no início
dos anos 80, época em que a
história se passa. A versão ao cinema apresenta uma cidade invernal, sob montanhas de neve,
de dias curtos e noites longas,
ideais para vampiros. Alfredson explora essa paisagem em
belos planos longos, que se contrapõem a cenas de suspense.
O cineasta economiza nos
jorros de sangue e na exposição
de vísceras, recursos tão comuns em obras do gênero. O diretor explica que nunca foi um
fã de terror e que evitou assistir
a filmes de vampiros na preparação para "Deixe Ela Entrar".
"Se eu precisava de alguma
informação sobre vampirismo,
ligava para o autor [do romance
original] e ele me explicava tudo", afirma Alfredson, acrescentando que, na época das filmagens, passava boa parte do
tempo livre ouvindo música e
estudando pinturas, especialmente o trabalho do artista renascentista alemão Hans Holbein (1497/98-1543).
DEIXE ELA ENTRAR
Produção: Suécia, 2008
Direção: Tomas Alfredson
Com: Lina Leandersson, Kare Hedebrant, Per Ragnar
Onde: amanhã, às 19h, e quarta, às 21h,
na sala 3 do cine Reserva Cultural
Classificação: 16 anos
Avaliação: ótimo
NO BLOG - Leia a íntegra da entrevista com o diretor Tomas Alfredson
folha.com.br/ilustradanocinema
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