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ANÁLISE
Mais radical dos abolicionistas teve uma biografia "pronta para o cinema"
LUÍS FRANCISCO CARVALHO FILHO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Em 1835, uma lei de exceção passou a vigorar no Brasil. A rebelião de escravos e o
homicídio de seus proprietários eram temas que assombravam elites e autoridades.
Draconiana, a lei criou facilidades processuais para a
condenação criminal e o enforcamento de escravos acusados de matar ou de tentar
matar seus senhores.
Na década de 1870, antes
de dom Pedro 2º adotar a política de comutar sistematicamente as condenações à pena de morte (o último registro
de enforcamento legal é de
1876, em Alagoas), Luiz Gama pregava o direito à revolta e defendeu, nos tribunais,
a presunção de legítima defesa do escravo que matasse o
seu senhor.
Luiz Gama foi o mais radical dos abolicionistas. Autodidata, republicano, jornalista, poeta e rábula (profissional que exerce a função de
advogado sem formação acadêmica), morreu em 1882
sem ver a extinção da escravidão com a chamada Lei Áurea. Seu funeral foi acompanhado por uma multidão.
No plano literário, Luiz Gama tem a reputação de ser o
primeiro poeta negro a cantar o amor pela mulher negra
e rejeitar o amor pela mulher
branca (Raymon Sayers, "O
Negro na Literatura Brasileira", edições O Cruzeiro, Rio
de Janeiro, 1958).
Em um de seus poemas,
relata o sonho de ter entre os
braços uma linda mulher,
"pescoço branco de neve",
mas ao acordar percebeu estar abraçado a uma "estátua
de mármore".
Sua vida é argumento
pronto para o cinema. Nasceu livre, mas foi vendido como escravo pelo próprio pai.
Filho da negra Luiza Mahin, nas suas palavras "pagã", "bonita" e "vingativa",
envolvida na Revolta dos Malês (1835) e na Sabinada
(1837), na Bahia, a última pista que dela se tem é a de uma
prisão no Rio de Janeiro.
O pai era "fidalgo". Gama
omitiria seu nome em carta
autobiográfica para "poupar
à infeliz memória, uma injúria dolorosa".
Escravizado, aos 10 anos
de idade percorreu a pé os caminhos entre Santos e Campinas. Aprendeu ofícios, alcançou a própria liberdade,
foi soldado-preso e processado por insubordinação. Fixou-se em São Paulo, onde
viveu da advocacia criminal
e de solucionar qualquer
pendência administrativa.
Em anúncio publicado no
"Radical Paulistano", em
1869, propunha-se a aceitar
gratuitamente todas as causas de liberdade que os interessados lhe quisessem confiar. Em ações judiciais, libertou cerca de 500 escravos.
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