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MÚSICA
Ícone pop, Gretchen vai à
axé music de trio elétrico
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Embora tenha se convertido há
sete anos em objeto exótico de culto em pistas "modernas" de dança, só agora a cantora e bailarina
Gretchen é pela primeira vez compilada em CD, em "20 Sucessos".
Assim, ganham formato digital
as versões originais dos clássicos
trash "Melô do Piripipi", "Conga, Conga, Conga" e "Freak le
Boom Boom".
"Não sei explicar até hoje por
que elas viraram moda de novo. É
um mistério. Devo ao DJ Mauro
Borges, então no clube Massivo",
diz. À época, até Marisa Monte incluiu "Conga, Conga, Conga" em
seu repertório.
Foram canções como as citadas
que consagraram Gretchen, ou
melhor, Maria Odete Brito de Miranda, 39, nascida no Rio de Janeiro e paulista desde os 4, como a
primeira estrela da "música de
bunda" no Brasil -a mesma vertente que hoje torna milionária
sua fã declarada Carla Perez.
"Nunca estive com ela pessoalmente, mas, pelo que vejo na TV, a
percebo muito parecida comigo
quando tinha a idade dela. Ela parece ingênua, como eu era. É a
Gretchen dos anos 90", compara.
Antes da volta das originais, andou -em meio a discos românticos e de lambada- regravando
esses mesmos temas em ritmo de
dance ou até, agora evangélica
(após uma peregrinação por igrejas que não queriam deixá-la continuar a rebolar), adaptando
"Freak le Boom Boom" para "Jesus é rei, ôôô, vai te salvar".
Sincronizada com a velocidade
própria do pop, a Gretchen 98 é,
ainda, outra. Funcionária da empresa de trios elétricos Sol Nascente, lidera banda homônima de axé.
Com a sobrinha e a filha ("acho
que ela não vai seguir meus passos, o negócio dela é mais ser atriz,
modelo", diz), sobe nos trios em
pontos estratégicos da cidade para
cantar covers de Daniela Mercury,
Banda Eva e Cheiro de Amor.
"Nunca gostei de coisa antiga, só
de coisa moderna", justifica.
"Nestes dias agora não estou
dançando, porque estou operada.
Tive uma gravidez de gêmeos, então fiz uma plástica de abdome e
busto. Já fiz quatro lipoaspirações,
mas plástica é a primeira. Enquanto meu médico existir, estou sempre nova."
Parque de diversões
Lembrada aqui de fora, a trajetória de Gretchen é um parque de diversões, em seu auge urdido pelo
produtor argentino Mister Sam, o
"homem por trás de Gretchen".
Ele compôs a panacéia de gemidos
e palavras desconexas em francês,
inglês, espanhol e português dos
maiores sucessos da cantora.
"Como produtor, ele foi responsável por tudo. De resto, foi
tudo muito natural. A coisa latina
veio daí, porque ele é argentino.
Sempre gostei muito de música latina, caí na mão da pessoa certa",
avalia.
Alguém lembra que ela integrou
o grupo feminino direcionado ao
público infantil As Melindrosas
-de que também participava sua
irmã Sula Miranda-, com o qual
gravou "Disco Baby" (78)?
Ela discorda que o conjunto já se
utilizasse de elementos "sensuais" para conquistar a criançada -a empatia entre os pequenos
tem sido um dado sempre presente na "música de bunda" (tanto
que os Três Patinhos -alguém
lembra?- regravaram seus sucessos com voz de Pato Donald).
"Não, não, não. Não era sensual. Era a época do "Dancin'
Days', era collant, meia e sandália,
uma coisa bem padrão da época,
todo mundo usava."
"Qual É a Música?"
Alguém lembra que ela venceu
25 semanas o programa televisivo
"Qual É a Música?", comandado
por um de seus maiores divulgadores, Silvio Santos?
"Fui a segunda campeã, ganhei
do Ronnie Von e empatei com ele
em número de vitórias. Quem me
venceu foi Nahim. No começo,
ouvi Silvio dizer ao produtor que
não sabia por que ele me pôs lá,
porque eu não entendia de música. Aí fui ganhando, acabou admitindo que eu entendia de música."
E Gretchen entendia de música?
"Eu tocava violão desde os 5 anos,
dançava desde os 3. Música sempre fez parte da minha vida o tempo todo. Fui crooner do conjunto
do Zaccaro, tive que aprender
umas 2.500 músicas. Eu tinha um
repertório vastíssimo. Fazíamos
casamentos hebraicos, eu cantava
até em iídiche."
Então ela cita os ídolos de quando começou a cantar solo, em 78:
"Olha, eu tinha cantores internacionais favoritos, Donna Summer,
James Taylor. Os nacionais da
época também, Dudu França,
Miss Lene, Peninha, Vanusa.
Nunca gostei de samba, MPB. Preferia música americana, porque
gostava muito de dançar o jazz".
E por que virou axé então? "Não
gostar de música brasileira era coisa de idade, vejo por minha filha,
que tem 15 anos. Mudei completamente, hoje eu amo música brasileira. Amo forró, música baiana.
Não sou fã de MPB, Gal, Caetano.
São pessoas maravilhosas, mas
não curto as músicas deles. É gosto musical, cada um tem o seu."
Vai adiante: "Gosto de Marisa
Monte, Vanessa Rangel. Para mim
tem que ter melodia, aquelas músicas muito subjetivas, muito dissonantes não me atraem. Bossa
nova não me atrai".
"Aluga-Se Moças"
Bem, após os anos de alta, Gretchen deixou de ser novidade.
Co-protagonizou -lembra?-
momento representativo da transição da pornografia ingênua para
os anos do sexo explícito: estrelou,
com Rita Cadillac, o pornô "Aluga-Se Moças" (assim mesmo,
com a gramática capenga), em 81.
"Eu não vi até hoje, nem o copião. O que sei, pelo que me contam, é que não tinha enredo, não
tinha texto. Mas não me lembro."
Ela não seguiria nessa linha, porém. "Eu nunca consegui fazer
aquele erotismo vulgar. Não teria
como eu fazer, meu trabalho era
dançante. Foi tido como erótico
porque era diferente."
Mas não era vulgar? "Até era.
Para o público era extremamente
vulgar você dançar de shortinho,
aparecendo o bumbum. Não era
vulgar para mim porque eu era
uma menina. Hoje minha filha colocar um short aparecendo a polpinha da bunda é maravilhoso, está na moda. Eu dançar do jeito que
dançava é ingênuo perto do jeito
da Carla Perez hoje."
E Carla, é vulgar? "Acho que é,
até por ser uma coisa que influencia as crianças, como aconteceu
comigo. Mas não acho errado, é a
lei da vida. O instinto sexual é visto como tabu, mas é natural."
E se Gretchen fosse empresária
de Carla Perez, que conselhos daria a ela? "Não a deixaria sair do
Tchan, acho um erro. E diria para
ela não fotografar em certas poses,
às vezes eles exageram", afirma,
com ar de quem não tivesse telhado de vidro.
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