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ARTES CÊNICAS
Solo dirigido pelo multiartista belga e cinco curtas-metragens são destaques do projeto Imagens da Dança
Jan Fabre encena dupla face em São Paulo
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O topete à la James Dean pode
ser o primeiro indício da vocação
esteta do belga Jan Fabre. Ao longo de duas décadas, ele forjou
uma produção cênica e visual
modulada na perseguição do conceito de beleza movido a rupturas
e estranhamentos.
Chegou a vez de São Paulo conferir duas faces desse multiartista
polêmico, epíteto colhido pela obsessão e pelo experimento: a dança e o cinema.
Fabre, 44, é um dos destaques
da programação do projeto Imagens da Dança, que, até o final do
mês, apresenta um painel contemporâneo com espetáculos, aulas, intervenções e performances
no Sesc Consolação.
Serão exibidos hoje cinco curtas-metragens dirigidos pelo belga, com durações de 6 a 35 minutos. O também artista plástico e
encenador de teatro e ópera não
vem à cidade. Participou do Festival Internacional de Teatro de São
José do Rio Preto, até anteontem,
mas retornou à Bélgica para outros compromissos.
A professora Christine Greiner,
coordenadora do curso de Comunicação e Artes do Corpo na PUC-São Paulo, comentará os filmes
que condensam um tanto da
transgressão estética de Fabre, ele
mesmo na pele de alguns personagens (ou de si próprio).
Em "A Meeting/Vstrecha" (98),
por exemplo, contracena com o
artista russo Ilya Kabakov. Fabre
veste figurino de escaravelho, inseto que, na sua percepção, equivale "ao primeiro computador na
terra, símbolo de transformação".
O colega surge como uma mosca,
ícone do "anonimato na sociedade russa".
"Body, Body on the Wall" (97)
ilustra a simbiose com a dança.
Fabre divide a direção do filme
com o coreógrafo conterrâneo
Win Vandekeybus, que trabalhou
com ele antes de fundar a companhia Última Vez.
As imagens do solo de Vandekeybus tratam da relação de um
dançarino com uma fotógrafa,
metáfora para o embate artista-platéia, segundo Fabre.
Após a exibição dos curtas,
acontecerá o lançamento simbólico da revista "Janus" no país, publicação internacional da qual Fabre é um dos fundadores -trimestral, bilíngue e com tiragem
de 10 mil exemplares.
O multiartista belga diz se tratar
de uma "plataforma para pensar e
refletir arte, cultura, filosofia e
ciência". Não é uma revista voltada para o circuito de galerias e
museus, ressalta o editor-chefe
Hendrik Tratsaert, que participa
do evento e deseja fazer intercâmbio com brasileiros.
Fabre veio à Bienal Internacional de Artes Plásticas de São Paulo
em 89 e 91. Diz admirar a obra do
pernambucano Tunga.
O espetáculo "My Movements
Are Alone like Streetdogs", com
sessões amanhã e no domingo,
completa a cota de Jan Fabre no
Imagens da Dança.
Interpretado pela islandesa Erna Omarsdottir, 29, o solo foi
apresentado nesta semana no
Festival do Rio Preto.
Como a belga Els Deceukelier,
de "She Was and She Is, Even", dirigido por Fabre -monólogo
que também passou pelo festival
do interior paulista, mas não vem
para a capital-, Omarsdottir já
atuou em outros projetos da companhia do multiartista, a Troubleyn, com sede em Antuérpia.
Os espetáculos constituem
exemplos da distinção de Fabre
para dança ("My Movements...")
e teatro ("She Was..."). Ou seja,
para ele dança é dança, teatro é
teatro. Afirma que o conceito de
dança-teatro, disseminado a partir da Alemanha, lhe soa "vago".
JAN FABRE - projeto Imagens da Dança.
Hoje, às 21h, exibição dos curtas-metragens "The Schelde" (88), "Tivoli"
(93), "Prometheus Landschaft" (88/95),
"Body, Body on the Wall" (97) e "A
Meeting/Vstrecha" (98). Entrada franca.
Em seguida, lançamento da revista
"Janus". Amanhã, às 21h, e dom., às 19h,
apresentação do solo de dança "My
Movements Are Alone like Streetdogs",
com Erna Omarsdottir. Quanto: R$ 15.
Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova,
245, Vila Buarque, São Paulo, região
central, tel. 0/ xx/11/3234-3000).
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