São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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ARTES CÊNICAS

Solo dirigido pelo multiartista belga e cinco curtas-metragens são destaques do projeto Imagens da Dança

Jan Fabre encena dupla face em São Paulo

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O topete à la James Dean pode ser o primeiro indício da vocação esteta do belga Jan Fabre. Ao longo de duas décadas, ele forjou uma produção cênica e visual modulada na perseguição do conceito de beleza movido a rupturas e estranhamentos.
Chegou a vez de São Paulo conferir duas faces desse multiartista polêmico, epíteto colhido pela obsessão e pelo experimento: a dança e o cinema.
Fabre, 44, é um dos destaques da programação do projeto Imagens da Dança, que, até o final do mês, apresenta um painel contemporâneo com espetáculos, aulas, intervenções e performances no Sesc Consolação.
Serão exibidos hoje cinco curtas-metragens dirigidos pelo belga, com durações de 6 a 35 minutos. O também artista plástico e encenador de teatro e ópera não vem à cidade. Participou do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, até anteontem, mas retornou à Bélgica para outros compromissos.
A professora Christine Greiner, coordenadora do curso de Comunicação e Artes do Corpo na PUC-São Paulo, comentará os filmes que condensam um tanto da transgressão estética de Fabre, ele mesmo na pele de alguns personagens (ou de si próprio).
Em "A Meeting/Vstrecha" (98), por exemplo, contracena com o artista russo Ilya Kabakov. Fabre veste figurino de escaravelho, inseto que, na sua percepção, equivale "ao primeiro computador na terra, símbolo de transformação". O colega surge como uma mosca, ícone do "anonimato na sociedade russa".
"Body, Body on the Wall" (97) ilustra a simbiose com a dança. Fabre divide a direção do filme com o coreógrafo conterrâneo Win Vandekeybus, que trabalhou com ele antes de fundar a companhia Última Vez.
As imagens do solo de Vandekeybus tratam da relação de um dançarino com uma fotógrafa, metáfora para o embate artista-platéia, segundo Fabre.
Após a exibição dos curtas, acontecerá o lançamento simbólico da revista "Janus" no país, publicação internacional da qual Fabre é um dos fundadores -trimestral, bilíngue e com tiragem de 10 mil exemplares.
O multiartista belga diz se tratar de uma "plataforma para pensar e refletir arte, cultura, filosofia e ciência". Não é uma revista voltada para o circuito de galerias e museus, ressalta o editor-chefe Hendrik Tratsaert, que participa do evento e deseja fazer intercâmbio com brasileiros.
Fabre veio à Bienal Internacional de Artes Plásticas de São Paulo em 89 e 91. Diz admirar a obra do pernambucano Tunga.
O espetáculo "My Movements Are Alone like Streetdogs", com sessões amanhã e no domingo, completa a cota de Jan Fabre no Imagens da Dança.
Interpretado pela islandesa Erna Omarsdottir, 29, o solo foi apresentado nesta semana no Festival do Rio Preto.
Como a belga Els Deceukelier, de "She Was and She Is, Even", dirigido por Fabre -monólogo que também passou pelo festival do interior paulista, mas não vem para a capital-, Omarsdottir já atuou em outros projetos da companhia do multiartista, a Troubleyn, com sede em Antuérpia.
Os espetáculos constituem exemplos da distinção de Fabre para dança ("My Movements...") e teatro ("She Was..."). Ou seja, para ele dança é dança, teatro é teatro. Afirma que o conceito de dança-teatro, disseminado a partir da Alemanha, lhe soa "vago".


JAN FABRE - projeto Imagens da Dança. Hoje, às 21h, exibição dos curtas-metragens "The Schelde" (88), "Tivoli" (93), "Prometheus Landschaft" (88/95), "Body, Body on the Wall" (97) e "A Meeting/Vstrecha" (98). Entrada franca. Em seguida, lançamento da revista "Janus". Amanhã, às 21h, e dom., às 19h, apresentação do solo de dança "My Movements Are Alone like Streetdogs", com Erna Omarsdottir. Quanto: R$ 15. Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo, região central, tel. 0/ xx/11/3234-3000).


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