São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

"CHARANGO"

Em seu quinto disco, trio londrino tenta sonoridade dos anos 60

Morcheeba traduz em balada frustração com São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL

Ai, o sucesso, esse bicho-papão que corrói e transforma a carreira de um artista. "Charango", quinto disco do trio londrino Morcheeba, faz pouco caso dos tempos em que os caras estavam por cima da carne-seca, como uma das bandas mais importantes do trip hop inglês.
Os irmãos Paul e Ross Godfrey e a vocalista Skye Edwards fizeram um dos discos mais bem-sucedidos do gênero, em 98, o ótimo "Big Calm".
Mais animado que Portishead, porém mais dark que Sneaker Pimps, o trio passou a ser nome do primeiro time da música eletrônica calminha com influências de jazz e hip hop, aquilo que acabou por levar o nome de trip hop.
Com três discos lançados, o Morcheeba havia vendido mais de 3 milhões de cópias, talvez sucesso demais para quem só pretendia fazer um sonzinho despretensioso.
O resultado é aquilo que você já desconfiava: o grupo resolveu mudar completamente de rumo. Se não queria mais sucesso, acertou a mão ao lançar o chatíssimo "Fragments of Freedom".
Com o disco, lançado em 2000, o grupo literalmente sumiu do mapa. E daí que acontece um fato curioso, o porquê de você estar lendo sobre o momentâneo fracasso do Morcheeba.
Nada melhor para promover um disco do que trazer o artista em pessoa para vendê-lo. Foi assim que o Morcheeba veio parar em São Paulo, em 2000.
Excitados com a viagem ao Brasil e com a possibilidade de aprofundar os conhecimentos sobre música brasileira, eles viajaram para... São Paulo. E só.
Fizeram algumas aparições em rádios, deram entrevistas e tocaram durante pouco mais de meia hora num show fechado, para pouquíssimos.
A decepção com a viagem ao país da Carmem Miranda você ouve agora na música "São Paulo", uma balada cool sobre uma viagem altamente frustrada. "Você disse que iríamos para o Rio/ E você disse com uma cara tão simpática/ Eu sei que o pesadelo aqui sou eu", canta, com a habitual voz doce, Skye.
OK, vieram para São Paulo, "homenagearam" a cidade com uma música. Mas alguma coisa eles devem ter aprendido com o "castigo".
Em "Charango", o Morcheeba não é mais trip hop. Mas nem por isso faz som de chill-out de quinta como havia feito antes.
Há faixas lindas e inspiradas, como "What New York Couples Fight about". A música, que tem participação de Kurt Wagner, líder do Lambchop, é uma balada docinha, com um quê de David Bowie. "Otherwise" tem elementos de música indiana e breques de guitarra que lembram Serge Gainsbourg. É sofisticada, mas não "over".
A tentativa de soar anos 60 está em várias faixas deste "Charango". "Public Display of Affection" tem camas e harpas que lembram pop francês daquela década. Em "The Great London Traffic" há teclados e guitarras retrôs. Quem disse que uma viagem a São Paulo não pode ser útil? (CLAUDIA ASSEF)


Charango    
Artista: Morcheeba
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 27, em média



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