São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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Artista de Curitiba troca o suporte tradicional das revistas em quadrinhos por versões em cubos, pôsteres, camisetas e luminárias da Candyland Comics

Quadrinhos desenquadrados

DIEGO ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Tudo é quadrinhos. Para o artista plástico curitibano Guilherme Caldas, 28, o hall de personagens de papel e balõezinhos já escapou das tradicionais revistas e fanzines há pelo menos três anos para fixar nova morada em pôsteres, cartões postais, camisetas, CDs e até em cubos recombinantes. Seja bem-vindo à Candyland Comics.
"Tudo começou em 1996, na lavanderia da casa da minha mãe, em São Paulo. Soube que teria uma festa de grafite e resolvi levar umas camisetas com histórias em quadrinhos para vender", lembra Caldas. "Já o nome Candyland vem de antes, de uma história bizarra que eu desenhava [com argumentos de Olavo Rocha" na época de faculdade."
Só para ter uma idéia, o zine que trazia a tal "Candyland" levava o nome (bobo) de "Luke Skywalker with Diamonds"!
Até aí nada de mais se o rapaz não tivesse conseguido atrair para a sua pequena "fábrica de idéias" nomes de peso (veja arte abaixo) como o do quadrinista Lourenço Mutarelli, o do porto-alegrense Fábio Zimbres, além de artistas internacionais como Lucas Nine (filho do grande ilustrador argentino Carlos Nine), o iugoslavo Aleksander Zograf e o norte-americano Pat Moriarty, da editora Fantagraphics.
"Eles [os profissionais das HQs" têm mostrado uma empatia muito grande com a nossa filosofia. O Mutarelli, por exemplo, foi o primeiro a apostar na idéia e nos cedeu uma história inédita", afirma Caldas, que -detalhe importante- não faz favor algum aos quadrinistas; na verdade, todas as imagens que usa em seus produtos são compradas... de uma forma ou de outra: "O Moriarty não quis dinheiro. Ele preferiu receber todo o pagamento em camisetas. O Gabriel Frugone [quadrinista radicado no Uruguai" pediu camisetas".
Segundo Caldas, o principal objetivo de seu trabalho é levar as histórias em quadrinhos para um outro público, o dos não-leitores. A tática: todos os produtos distribuídos ou ligados de alguma forma à Candyland levam etiquetas/ mini-HQs pregadas à peça, de forma que, querendo ou não, o menos curioso dos seres humanos não hesitaria em dar uma olhadinha "naquilo". Aí já era, estão lá, além de histórias curtas e inéditas, a explicação sobre o projeto e uma rápida biografia do artista relacionado.
"Vivemos em um país que lê muito pouco. Some-se a isso o fato de que artistas de qualidade dificilmente conseguem se destacar em meio ao universo mais popular dos personagens de Mauricio de Sousa, da Marvel ou mesmo dos mangá mainstream."

História em cubinhos
A interatividade e a idéia de que são as pessoas que precisam oferecer sua interpretação das histórias em quadrinhos fez com que Caldas produzisse a sua primeira versão de uma série de cubos cujos seis lados pudessem ser recombinados para compor narrativas diferentes.
Assim nasciam, ainda em 96, as histórias "Cotidiano Assassino", "O Ataque dos Orelhões Mutantes" ou, por que não, um "O Ataque do Cotidiano dos Orelhões"...
E, por falar em mutação, uma das outras e mais recentes idéias do autor foi a de imprimir pôsteres contendo ilustrações inéditas e coloridas de um lado e HQs em p&b e biografias dos autores de outro. Como não poderia faltar um nome pouco ortodoxo para a criação, Caldas batizou-a de "Projeto Rotor": "Pretendemos fazer com que as pessoas não saibam de que lado pregar. O da história, o da ilustração ou talvez os dois, um do lado do outro", brinca.

Novo staff
Apesar da constante experimentação com o formato (e talvez até justamente por isso), a Candyland conta hoje com um staff de apenas onze quadrinistas, entre brasileiros e estrangeiros.
Mas a idéia parece ter alcançado outras paragens e, segundo Caldas, pelo menos cinco outros profissionais já se interessaram em ter seus trabalhados reproduzidos pela "editora".
São eles: Sträkl (Eslovênia), Jorge Alderete (Argentina), a dupla Rui e Esgar (Portugal) e Leo Gibran (Brasil).
Aos interessados em contatar a Candyland, o telefone é 0/ xx/41/ 363-5784 e o e-mail, candy land@candyland.com.br.


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