São Paulo, segunda-feira, 26 de julho de 2004

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ARTE PÚBLICA

Trabalho do artista plástico Rui Amaral, iniciado em 1991, é localizado entre Paulista e Dr. Arnaldo, em SP

Mural entre avenidas ganha revitalização

ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

Uma contradição em si mesma, a obra de arte em espaços públicos é parte do dia-a-dia da população que por ela passa, ao mesmo tempo em que quase sempre é uma total desconhecida de quem a vê todo dia.
Quem fez, quando fez, por que fez? Se isso já é difícil no caso de obras compradas e mantidas -bem ou mal- pelos governos, no caso das intervenções realizadas por conta e risco próprios dos artistas a incógnita tende a se agigantar.
Um desses casos são os desenhos estampados nos muros da ligação subterrânea entre as avenidas Paulista e Doutor Arnaldo, em São Paulo, esboçados em 1991 pelo artista plástico Rui Amaral, e que hoje são parte da paisagem da região.
"Em forma de grafite mesmo, numa madrugada, com uma lata de tinta preta, um bambu com um rolo grande amarrado na ponta, sozinho rabisquei toda a parede, e ocupei pela primeira vez", lembra o artista.
Treze anos depois, o que hoje Rui prefere chamar de mural ("grafite para mim só é verdadeiro quando não é permitido; quando autorizado é um mural, o que é muito válido e necessário") ganha restauração apoiada pela Prefeitura de São Paulo e por empresas de tinta e pincéis.
O mural começou a estabelecer sua forma atual em 1994, quando Rui conseguiu pela primeira vez permissão da prefeitura para pintar o mural sobre o grafite já executado por ali. "A raiz do meu trabalho como artista é usar a cidade como suporte", diz.
Para a restauração de agora, foram recebidos mais 270 litros de tinta acrílica, dadas pela empresa Suvinil, que também emprestou os andaimes, além de pincéis doados pela Tigre, um pôster pago por um galerista de Nova York e dez voluntários do Liceu de Artes e Ofícios.
A mão-de-obra também inclui "amigos e voluntários que trabalham na minha produtora multimídia, a Artbr", segundo as contas de Rui Amaral.
A chancela oficial casa também com a Operação Belezura proclamada pela prefeita Marta Suplicy em 2001. Para o artista, no entanto, "o grafite, da forma como eu o denomino, nunca terá o apoio do poder público. Vejo o grafite como uma forma de protesto", esclarece. "A arte de rua ou arte pública ou arte ambiental é outra história", diz.
A reforma é realizada aos domingos. Estão previstos oito dias de trabalho, sendo que três deles já foram cumpridos. Toda a restauração está sendo registrada em vídeo e fotografada. Para Rui, o material caracteriza "um "reality show" com temática social, cultural e educativa".



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