São Paulo, segunda-feira, 26 de julho de 2010

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Teatro tenta se reinventar em 39 peças

Vídeo-instalação, espetáculo sonoro e antidrama com western são exemplos de estratégias cênicas exibidas no FIT

Festival terminou no sábado com estimados 80 mil espectadores para 33 obras nacionais e seis estrangeiras

Lenise Pinheiro/Folhapress
Cena de "Las Julietas", montagem uruguaia que desconstroi "Romeu e Julieta", escrita e dirigida por Marianella Morena

CHRISTIANE RIERA
LENISE PINHEIRO
MARCOS GRINSPUM FERRAZ

ENVIADOS ESPECIAIS A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Sem se ancorar em obras consagradas ou atores famosos, o 10º Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (FIT) acabou no último sábado, cumprindo com coerência sua proposta de apresentar obras singulares e estratégias originais de criação nas artes cênicas.
Com nova curadoria, o FIT se distingue dos outros grandes festivais nacionais, que nos últimos anos mais reuniram sucessos do que experimentaram linguagens.

PESQUISA CÊNICA
Durante nove dias, o festival apresentou 33 obras nacionais e seis estrangeiras e recebeu um público total de 80 mil pessoas na cidade do interior paulista, segundo dados da organização.
Ao eleger a pesquisa cênica como filtro, alguns espetáculos oscilaram em qualidade. Apesar do estranhamento gerado por certas experiências, a maioria das produções teve boa recepção do público em Rio Preto.
Pela primeira vez no Brasil, o americano Richard Maxwell e o canadense Denis Marleau se apresentaram com espetáculos radicalmente experimentais.
O primeiro utilizou-se dos gêneros "western" e "musical" em sua criação de uma atmosfera antidramática. O segundo se debruçou sobre o teatro simbolista por meio de uma vídeo-instalação, diluindo as fronteiras entre o teatro e as artes visuais.
No contexto nacional, Luiz Päetow apresentou, em "Abracadabra", proposta mais sonora que visual, ao iluminar sua montagem apenas por lanternas, sem uma história ou um personagem.
Um espaço cênico sem limites entre plateia e palco foi elaborado pela Cia. São Jorge de Variedades ao misturar teatro de câmara e rua. Ecos reiterados pelos espanhóis de "Kamchàtka" em suas invasões silenciosas pelas ruas e casas da cidade.
Sob direção de Enrique Diaz e Cristina Moura, "Otro" investigou o relacionamento entre as pessoas e as cidades com cenas fragmentadas, assimilando vídeo, dança, performance e música.
"Guerra Cega Simplex", do Coletivo Bruto, recorreu à mesma mistura na adaptação do texto do alemão Armin Petras.

DESTAQUES
Na reflexão para futuros caminhos do teatro destacam-se a companhia Espanca! e o Grupo XIX, ao propor recursos narrativos baseados em lapsos temporais.
A ruptura com a tradição pretendida pelo 10º FIT se fez notar em "Las Julietas", de Marianella Morena, em fusão de "Romeu e Julieta" com a realidade social uruguaia.
Com uma divisão um pouco desequilibrada na programação, o festival reuniu os principais destaques no começo, perdendo a força nos últimos dias.
Visando a fomentar o debate sobre a produção contemporânea, o FIT ajuda a apontar caminhos, em um laboratório de novas linguagens teatrais. Se seguir voltado ao terreno das experimentações cênicas, pode se consolidar como um festival singular no calendário do país.


Os jornalistas MARCOS GRINSPUM FERRAZ, LENISE PINHEIRO e CHRISTIANE RIERA hospedaram-se a convite do evento


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