São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 2002 |
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FESTIVAL DE EDIMBURGO Espetáculos, como o do britânico Steven Berkoff, decepcionam no circuito Fringe na Escócia 11 de setembro é mote de peças sem graça
CASSIANO ELEK MACHADO ENVIADO ESPECIAL A EDIMBURGO Quinta-feira, pouco mais do que 22h, Prince Street, uma das ruas centrais de Edimburgo. Um pequeno grupo de aparentemente turistas improvisa uma roda em torno de um rapaz magrela, barba rala e ruiva e cartola de pano escura. "Sabe como fazer um comediante de sucesso?", pergunta o sujeito, com os olhos vidrados. "Basta juntar uma piada, um desastre mundial e um presidente mundialmente desastroso", diz o pretenso comediante, vibrando consigo mesmo -muito mais do que os espectadores no entorno. OK, não foi engraçado. Mas ajuda a iluminar as características do Festival de Edimburgo 2002. Como nas últimas edições, o Fringe, braço do evento no qual se abrigam os espetáculos teatrais alternativos, foi gigantesco. Por todas as partes da capital escocesa estão pendurados cartazes com o formato daquelas placas de estradas dos EUA (estilo Rota 66) anunciando que o espaço em questão -teatros, hotéis, igrejas, zoológico e até um elevador- é um dos palcos do Fringe. E por esses 183 locais terão passado, do dia 4 de agosto até segunda-feira, mais de 20 mil apresentações de dança, teatro ou qualquer coisa com algum parentesco com as artes dramáticas. Se é que é possível achar algum tema sobressalente nessa enxurrada de eventos esse seria o assunto do cômico desengraçado da Prince Street: 11 de setembro. O ataque terrorista foi nutriente para os mais variados tipos de espetáculos. Foi base tanto para a amalucada performance da(o) drag queen cantor(a) de country Tina C até para o poema cênico do medalhão do teatro alternativo britânico Steven Berkoff. Em uma das participações mais aguardadas pela imprensa mundial nas previsões do que seria o "carnaval" escocês este ano, se destacava a leitura que o casal Hollywood Susan Sarandon e Tim Robbins faria de peça sobre o desastre das torres gêmeas. Também da América vinham, com holofotes nos rostos, sete jovens atores nova-iorquinos trazendo um espetáculo baseado em suas experiências pessoais nesse Dia D do início do século 21. Quais os resultados, colhidos ao final da festa? Fracos, bem fracos. Nem Steven Berkoff se salvou. O prestigiado jornal inglês "The Guardian" deu o tom: "O espetáculo de Berkoff sobre o ataque ao World Trade Centre seria maravilhoso se você estivesse voltando de férias na Lua começadas em 10 de setembro de 2001". "Requiem for Ground Zero", a performance-poema do ator, foi recebida como um amontoado de obviedades. Falta de originalidade E não foi só em Berkoff que a crítica rimou 11 de setembro com lugar-comum. Com a acusação "falta de originalidade" é que se castigou eventos como o que unia Sarandon, Robbins e a peça "The Guys", de Anne Nelson. O que se anunciava como uma leitura dramática ficou mesmo na leitura -sem o dramático em questão, que se limitou a uma cena em que Robbins, falando sobre bombeiros de NY, veste um capacete vermelho. Dramática, no sentido negativo, foi o espetáculo "Project 9/11", do grupo de estudantes da escola de teatro de Nova York Horizons. Generosamente anunciado em restaurantes e pubs de Edimburgo, naqueles cartões-postais gratuitos próximos a banheiros, o espetáculo que junta vivências de sete jovens atores foi recebido como uma "terapia de grupo" sem graça. Da diatribe dos jornais do Reino Unido só escapou ilesa a performance da drag Tina C (o comediante inglês Chris Green). Sua apresentação dos números musicais do CD "Tributo às Torres Gêmeas", canções como "Kleenex to the World", foi o único show com tema 11 de setembro estrelado em Edimburgo. De resto, no máximo sorrisos amarelados. Como os da platéia do comediante pedestre. O jornalista Cassiano Elek Machado viajou a convite do British Council. Texto Anterior: Diálogos Impertinentes: Astrólogo e antropóloga debatem "A Superstição" hoje na PUC-SP Próximo Texto: Ciclo aborda civilização pós-WTC Índice |
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