São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2005

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Festival terá celebrado tecno do DJ Carl Craig e o duo alemão Alter Ego

Tencno lógica

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

O destino é a Alemanha, mas a escala em Detroit é obrigatória.
Música criada tendo o futuro como sua parada final, o tecno fará uma espécie de viagem no tempo, conduzido pelas mãos de Carl Craig e da dupla Alter Ego, durante o festival Nokia Trends, que acontece em São Paulo e no Rio de Janeiro em 24 de setembro.
Craig, representante máximo da escola de Detroit, onde tudo começou, faz DJ set pela primeira vez no Brasil na perna carioca do evento. Já o duo Alter Ego, expoente da eletrônica alemã, país que hoje concentra os principais artistas do estilo, se apresentará em live PA (ao vivo) para os paulistas.
Ao lado de Jeff Mills e Kenny Larkin, entre outros, Carl Craig é produtor e DJ da segunda geração de Detroit, que apareceu no final dos 80/começo dos 90 -pouco antes, em meados dos 80, Kevin Saunderson, Juan Atkins e Derrick May haviam criado, a partir de Kraftwerk e do electro, o que ficou conhecido por tecno. Foi a partir daquela cidade que o gênero se espalhou pelo mundo.
Ainda mais do que seus antecessores, Craig é o principal difusor do chamado "Detroit tecno": gênero cujas batidas secas vêm acompanhadas de linhas melódicas, com bastante uso de cordas, e que guarda forte influência da soul music e do jazz americanos.
"Carl Craig é, ainda, o principal artista de eletrônica a ter saído de Detroit. Ninguém daquela cidade, ou mesmo dos Estados Unidos, chega perto. É o soulman do tecno. Mesmo suas faixas mais antigas soam frescas, pois ele sempre fez coisas que ninguém havia imaginado." Quem disse isso à Folha foi Roman Flügel, uma das metades do Alter Ego.
Se as canções de Craig ainda soam atuais, muito se deve a artistas do passado. "Detroit costumava ter rádios com forte programação de jazz e de soul. Ouvia Herbie Hancock, Miles Davis, até Deodato...", conta, e diz que levou o que aprendeu para suas próprias produções, principalmente a improvisação jazzística.
"Herbie já usava aparelhos eletrônicos, e Miles tinha todo um conceito que era, na verdade, tecno. Você não precisa de um instrumento eletrônico para soar tecno. É uma idéia, uma atitude. "Para Was a Rolling Stone" é completamente tecno."
Craig é um idealista e afirma que se sente quase isolado. "A idéia sempre foi a de andar para a frente. Não há mais a procura por uma idéia futurista, parece que todo o mundo se contenta em soar igual ao cara ao lado. A música deve dizer algo para permanecer para sempre, senão vira algo que é encaixado num set e depois de seis meses ninguém se lembra. No começo dos 90, queríamos buscar o futuro. Hoje o objetivo é o agora, a realidade. Devemos ter sempre a fantasia de estar produzindo algo vindo de outro mundo."
Algumas das faixas ainda atuais de Craig podem ser encontradas em dois álbuns fundamentais: "Landcruising" (95) e "More Songs about Food and Revolutionary Art" (97).
Muitas das suas canções foram feitas sob pseudônimos -e muitos deles lançados por meio de seu selo, Planet E-: Psyche, 69, Designer Music, Paperclip People, Innerzone Orchestra... Foi com este último que ele criou "Bug in the Bassbin". Em 1992, alguns DJs londrinos começaram a tocar esta música com a velocidade dobrada. E, assim, a faixa ajudava a criar o drum'n'bass. Era, na época, a fantasia futurista de Carl Craig.
Há outras tão importantes quanto, como "The Beggining of the End", "Programmed", "At les", "Throw", e "Architecture", feita com Richie Hawtin. "Quando faço canções, tento criar algo que tenha um conceito. É o mesmo processo de um roteirista: a partir de uma idéia, tenta-se apresentar uma história significativa."


Carl Craig
Quando:
24 de setembro
Onde: Nokia Trends - Rio (galpões 5 e 6 do Cais do Porto, praça Mauá)
Quanto: R$ 60 (até 31/8) e R$ 90


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