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Festival terá celebrado tecno do DJ Carl Craig e o duo alemão Alter Ego
Tencno lógica
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
O destino é a Alemanha, mas a
escala em Detroit é obrigatória.
Música criada tendo o futuro
como sua parada final, o tecno fará uma espécie de viagem no tempo, conduzido pelas mãos de Carl
Craig e da dupla Alter Ego, durante o festival Nokia Trends, que
acontece em São Paulo e no Rio
de Janeiro em 24 de setembro.
Craig, representante máximo
da escola de Detroit, onde tudo
começou, faz DJ set pela primeira
vez no Brasil na perna carioca do
evento. Já o duo Alter Ego, expoente da eletrônica alemã, país
que hoje concentra os principais
artistas do estilo, se apresentará
em live PA (ao vivo) para os paulistas.
Ao lado de Jeff Mills e Kenny
Larkin, entre outros, Carl Craig é
produtor e DJ da segunda geração
de Detroit, que apareceu no final
dos 80/começo dos 90 -pouco
antes, em meados dos 80, Kevin
Saunderson, Juan Atkins e Derrick May haviam criado, a partir
de Kraftwerk e do electro, o que ficou conhecido por tecno. Foi a
partir daquela cidade que o gênero se espalhou pelo mundo.
Ainda mais do que seus antecessores, Craig é o principal difusor
do chamado "Detroit tecno": gênero cujas batidas secas vêm
acompanhadas de linhas melódicas, com bastante uso de cordas, e
que guarda forte influência da
soul music e do jazz americanos.
"Carl Craig é, ainda, o principal
artista de eletrônica a ter saído de
Detroit. Ninguém daquela cidade,
ou mesmo dos Estados Unidos,
chega perto. É o soulman do tecno. Mesmo suas faixas mais antigas soam frescas, pois ele sempre
fez coisas que ninguém havia
imaginado." Quem disse isso à
Folha foi Roman Flügel, uma das
metades do Alter Ego.
Se as canções de Craig ainda
soam atuais, muito se deve a artistas do passado. "Detroit costumava ter rádios com forte programação de jazz e de soul. Ouvia Herbie
Hancock, Miles Davis, até Deodato...", conta, e diz que levou o que
aprendeu para suas próprias produções, principalmente a improvisação jazzística.
"Herbie já usava aparelhos eletrônicos, e Miles tinha todo um
conceito que era, na verdade, tecno. Você não precisa de um instrumento eletrônico para soar
tecno. É uma idéia, uma atitude.
"Para Was a Rolling Stone" é completamente tecno."
Craig é um idealista e afirma
que se sente quase isolado. "A
idéia sempre foi a de andar para a
frente. Não há mais a procura por
uma idéia futurista, parece que todo o mundo se contenta em soar
igual ao cara ao lado. A música
deve dizer algo para permanecer
para sempre, senão vira algo que é
encaixado num set e depois de
seis meses ninguém se lembra. No
começo dos 90, queríamos buscar
o futuro. Hoje o objetivo é o agora, a realidade. Devemos ter sempre a fantasia de estar produzindo
algo vindo de outro mundo."
Algumas das faixas ainda atuais
de Craig podem ser encontradas
em dois álbuns fundamentais:
"Landcruising" (95) e "More
Songs about Food and Revolutionary Art" (97).
Muitas das suas canções foram
feitas sob pseudônimos -e muitos deles lançados por meio de seu
selo, Planet E-: Psyche, 69, Designer Music, Paperclip People,
Innerzone Orchestra... Foi com
este último que ele criou "Bug in
the Bassbin". Em 1992, alguns DJs
londrinos começaram a tocar esta
música com a velocidade dobrada. E, assim, a faixa ajudava a criar
o drum'n'bass. Era, na época, a
fantasia futurista de Carl Craig.
Há outras tão importantes
quanto, como "The Beggining of
the End", "Programmed", "At
les", "Throw", e "Architecture",
feita com Richie Hawtin. "Quando faço canções, tento criar algo
que tenha um conceito. É o mesmo processo de um roteirista: a
partir de uma idéia, tenta-se apresentar uma história significativa."
Carl Craig
Quando: 24 de setembro
Onde: Nokia Trends - Rio (galpões 5 e 6
do Cais do Porto, praça Mauá)
Quanto: R$ 60 (até 31/8) e R$ 90
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