GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O multiinstrumentista André Abujamra parece estar com a cabeça solta no mundo. É dele a confecção da trilha sonora de "Mundo Perfumado", coreografia apresentada pelo grupo mineiro 1º Ato há menos de um mês; é dele a canção "Mundo" -ainda dos tempos de Karnak-, interpretada na semana passada ao lado de Pedro Luis e a Parede no festival Via Mundi. Agora, a saga continua: hoje Abujamra estréia à frente da criação e direção da ópera "O Meio do Mundo", no Sesc Consolação.
"Eu poderia dizer que é coincidência, mas acho que não... a questão é mesmo recorrente na minha cabeça", contou o músico em entrevista à Folha.
O convite para criar a ópera surgiu no começo deste ano, por iniciativa do Sesc. A idéia era que Abujamra criasse um espetáculo para integrar os cerca de 150 alunos do Centro Experimental de Música (CEM).
"Eles são estudantes, mas eu quis dar um ar profissional para o espetáculo. Chamei a Camila [Lima] para fazer o trabalho de corpo e o Eduardo Leão para ficar a meu lado na co-direção. Mas mais difícil é mesmo coordenar tanta gente no palco."
A ópera narra a história do planeta Copérnico, dividido apenas em dois reinos. Como cada rei governa um dos lados, ambos entram em guerra para saber quem governará o meio do mundo. Um romance entre os filhos dos dois reis serve para acentuar o conflito. "Eu nasci nesse lado do mundo cortado no meio/ E quando lembro dos seus olhos me sinto inteiro", diz um dos versos da cena romântica.

Qual Mediterrâneo?
Apesar da temática, o espetáculo está na Mostra Sesc de Artes Mediterrâneo. "A gente ia fazer a apresentação com ou sem mostra, inclusive porque a história se passa em outro planeta, mas o Sesc achou interessante encaixar na programação do evento. Um dos reinos tem uma cara medieval e temos figurinos que por sorte lembram vestimentas mediterrâneas", contou Abujamra.
Com ensaios desde março, Abujamra afirma que ficou contente com o resultado, apesar do nervosismo da estréia. "O espetáculo é como o Karnak: tem uma loucura enorme, mas tem poesia por trás. O problema é que tem gente que só vê a loucura", reclama o músico.