São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2005

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COUNTRY-FOLK

"Early 21st Century Blues", novo álbum da banda canadense, tem releituras de músicas que tratam da guerra

Cowboy Junkies leva o frágil à música de protesto

JULIANA ZAMBELO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O disco que o grupo canadense Cowboy Junkies acaba de lançar lá fora é mais do que um registro sonoro, carregado de protesto social que tem tudo a ver com sua música: é tímido e aparentemente frágil, mas carregado dos sentimentos mais intensos.
Formado em Toronto por uma trinca de irmãos da família Timmins e o baixista Alan Anton, o Cowboy Junkies há quase 20 anos transita entre o country e o folk, com ares entorpecidos.
"Early 21st Century Blues", 13º trabalho da banda, é um disco praticamente só de covers em torno de um tema principal -a guerra- e seus desdobramentos -o medo, a perda, a violência, a ignorância.
"Nós quisemos fazer um álbum que lidasse com a ausência de paz no mundo, certamente inspirados pela Guerra do Iraque, mas não só por causa dela", diz Anton.
Mas a crença dos Junkies na capacidade da música pop de resolver os problemas do planeta é modesta. Para Anton, "a música tem pouca ou nenhuma influência direta em questões políticas e sociais, mas pode ajudar a espalhar uma idéia de mobilização e apoio a certos problemas".
A gravação do disco foi feita em apenas dez dias. Como ponto de partida, usaram duas canções compostas para o álbum anterior ("One Soul Now", de 2004). E, para completar, cada membro da banda fez uma lista com algumas de suas canções favoritas.
O resultado é pouco variado e um tanto previsível, prendendo-se ao cancioneiro norte-americano, mas tudo é rearranjado com competência, incorporando tais músicas ao universo particular do Cowboy Junkies.

Risos no início
O álbum começa com uma gargalhada da vocalista. Anton explica que o ambiente no estúdio era dos mais tranqüilos. "Acabamos captando essa risada na gravação e resolvemos deixá-la abrindo o disco como um contraponto ao tema das canções."
O clima muda assim que entram os primeiros versos de "License to Kill", sobre o poder de destruição do homem, gravada por Bob Dylan em 1983.
A morte no campo de batalha, o sofrimento das famílias, o envolvimento de inocentes, a falta de respeito entre as pessoas nas formas mais básicas de relacionamento, um a um os flagelos vão sendo expostos.
Entre os momentos mais tensos, "December Skies", com seu refrão quase cruel ("Vamos matar nossas crianças e cantar sobre isso"), e "You're Missing", canção de Bruce Springsteen, encharcada pela dor da família que perde alguém na guerra.

Conflitos no final
Para fechar o álbum, "One", do U2, olha para os conflitos nas relações humanas. "Encaro essa canção como um hino espiritual universal", afirma Anton. "É o tipo de letra que pode ser interpretada de diversas formas e vai ser poderosa em qualquer uma delas."
O único equívoco do disco é a inclusão de trechos de rap na versão de "I Don't Want to Be a Soldier", de John Lennon, que interrompe a toada lenta do álbum e destoa da identidade da banda.


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