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ERIKA PALOMINO
OI, TCHAU! COLUNISTA SE DESPEDE COM FLASHBACK
Como se diz na noite, quando você encontra alguém
na hora de sair da festa, oi,
tchau. Explico: volto hoje,
depois de um mês de férias, para me despedir deste espaço.
Depois de 13 anos de coluna semanal, sempre às sextas-feiras,
depois de 17 anos de casa, deixo
os quadros desta empresa. O clichê de quem sai cabe aqui: vou
me dedicar a projetos pessoais,
como meu site e minhas consultorias, entre outras atividades
como empresária. Parece chique, mas é muito trabalho, e o
tempo estava sempre escorrendo entre minhas mãos. Por isso,
preferi continuar nestas páginas
como colaboradora eventual
-sempre que convidada for.
Saio feliz, olhando para trás
com alegria. Nesta casa entrei
aos 20 anos de idade e já mãe de
dois meninos, o mais novo com
apenas quatro meses. Ele se tornou uma imagem bastante palpável do meu tempo aqui na Folha: hoje Lucas é um homem de
1,87 m e faz vestibular ano que
vem. Leitor, difícil evitar o viés
excessivamente emotivo e pessoal da coluna de hoje. Como é a
última, espero ser desculpada.
Fiz tudo o que quis aqui. Mesmo. Entrei (sob concurso) como redatora da Ilustrada. Neste
caderno, que idolatro, fui também repórter e editora-assistente; editora-adjunta em alguns
períodos. Fui editora-assistente
do Folhateen, projeto que ajudei a implementar. Fui editora-assistente do "RedeFolha" (o
programete de TV do jornal);
editora de cadernos especiais de
moda e editora da revista trimestral Moda, projetos que orgulhosamente lancei, e desde o
ano passado atuava também como editora de moda da Revista
da Folha. Ganhei dois prêmios
Folha de edição e mais três como jornalista de moda.
Trabalhei com muita gente talentosa e criativa. Alguns deles,
brilhantes. Aprendi tudo o que
sei aqui, onde sempre transitei
com total liberdade -mesmo
quando vinha de minissaia, plataforma e os cabelos mais malucos- e escrevia coisas literalmente ininteligíveis pela maioria dos mortais.
Como se acostumaram meus
leitores e colegas, minha vida
profissional e pessoal há tempos andam juntas. Talvez porque eu trabalhe muito. Ou porque possa ter sido "a Madonna
da Redação", como já ouvi aqui,
de brincadeira, claro.
Nunca fiz colunismo social.
Faço jornalismo de comportamento. Sou maluca por novidades, onde quer que elas estejam.
Fui buscá-las na noite, na moda,
na música, depois nas artes, na
tecnologia. O que tentei fazer
aqui era tirar uma polaroid do
mundo ao meu redor, tentando
causar uma surpresa por dia.
Ao longo do tempo, conquistei o prêmio maior: a silenciosa
cumplicidade que conseguem
os colunistas. O leitor reclama
um dia, concorda com a gente
em outro, mas segue lendo. Tenho companheiros de anos,
pessoas as mais inusitadas que
se lembram de momentos ou
colunas específicas, que guardam recortes, imprimem textos. Gente que me aborda do
nada e fala: acompanho seu trabalho. É para eles esta coluna.
Tomando uma sopa gelada...
Vingança é um prato que se serve frio. É assim o ditado? Pois é
tomando sopa gelada que me sinto diante de alguns personagens
que apareceram aqui em minhas
páginas. Quantas e quantas vezes
ouvi que "eu só falo de meus amigos"? Pois em tantos anos, era para eu ter 1 milhão deles, como o
Rei. Nesta despedida, como prato
principal, tomo a liberdade então
de fazer isso: vejo fotos de amigos, de pessoas importantes para
mim, momentos pessoais e profissionais. Tive razão.
Johnny Luxo, por exemplo,
passou de freak do cursinho a celebridade nacional. Alexandre
Herchcovitch, que eu descobri
costurando roupa para a drag-queen Marcia Pantera e sempre
fui criticada por "promover", tornou-se (mérito dele) o mais importante estilista brasileiro dos
novos tempos, com recorde de
produtos licenciados. Será que
toda essa gente é amiga dele também?
Escrevendo sobre moda desde
89, tive o enorme prazer de cobrir, aqui, todas as temporadas
de desfiles da recente história
brasileira, desde o primeiríssimo
Phytoervas Fashion. E a oportunidade de assistir a momentos
fundamentais também para a
moda internacional, que cubro
desde 93, como o desfile hippie
da Gucci; a coleção das noivas de
Yohji Yamamoto; o carrossel do
terror de Alexander McQueen; as
mergulhadoras da Balenciaga de
Nicolas Ghesquière. E a despedida de Tom Ford, a estréia de Stella, a de Phoebe Philo, a de Stefano Pilatti. A da Marni. Muitos de
Marc Jacobs, que amo. Muitos de
Helmut Lang, que adoro. E os
históricos da Prada, claro.
Sem falar nas supermodels inacreditáveis que vi desfilar e que
entrevistei ao vivo: Linda, Cindy,
Claudia, Kate, Naomi... E Gisele,
claro, inesquecível para mim
num desfile da Versace, uma das
mais incríveis imagens femininas
que já vi. Nas páginas de "Atitude" (quem lembra?), trazíamos a
moda que mudava no planeta,
com novos fotógrafos, modelos e
estilos, quando a rua virou o jogo
e ficou mais importante que as
passarelas. Saber moda é ter tempo de janela: olhar o que se passa
e refletir. Só agora começo a entender. Por sorte ainda é cedo.
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