São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2005

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ERIKA PALOMINO

OI, TCHAU! COLUNISTA SE DESPEDE COM FLASHBACK

Como se diz na noite, quando você encontra alguém na hora de sair da festa, oi, tchau. Explico: volto hoje, depois de um mês de férias, para me despedir deste espaço. Depois de 13 anos de coluna semanal, sempre às sextas-feiras, depois de 17 anos de casa, deixo os quadros desta empresa. O clichê de quem sai cabe aqui: vou me dedicar a projetos pessoais, como meu site e minhas consultorias, entre outras atividades como empresária. Parece chique, mas é muito trabalho, e o tempo estava sempre escorrendo entre minhas mãos. Por isso, preferi continuar nestas páginas como colaboradora eventual -sempre que convidada for.
Saio feliz, olhando para trás com alegria. Nesta casa entrei aos 20 anos de idade e já mãe de dois meninos, o mais novo com apenas quatro meses. Ele se tornou uma imagem bastante palpável do meu tempo aqui na Folha: hoje Lucas é um homem de 1,87 m e faz vestibular ano que vem. Leitor, difícil evitar o viés excessivamente emotivo e pessoal da coluna de hoje. Como é a última, espero ser desculpada.
Fiz tudo o que quis aqui. Mesmo. Entrei (sob concurso) como redatora da Ilustrada. Neste caderno, que idolatro, fui também repórter e editora-assistente; editora-adjunta em alguns períodos. Fui editora-assistente do Folhateen, projeto que ajudei a implementar. Fui editora-assistente do "RedeFolha" (o programete de TV do jornal); editora de cadernos especiais de moda e editora da revista trimestral Moda, projetos que orgulhosamente lancei, e desde o ano passado atuava também como editora de moda da Revista da Folha. Ganhei dois prêmios Folha de edição e mais três como jornalista de moda.
Trabalhei com muita gente talentosa e criativa. Alguns deles, brilhantes. Aprendi tudo o que sei aqui, onde sempre transitei com total liberdade -mesmo quando vinha de minissaia, plataforma e os cabelos mais malucos- e escrevia coisas literalmente ininteligíveis pela maioria dos mortais.
Como se acostumaram meus leitores e colegas, minha vida profissional e pessoal há tempos andam juntas. Talvez porque eu trabalhe muito. Ou porque possa ter sido "a Madonna da Redação", como já ouvi aqui, de brincadeira, claro.
Nunca fiz colunismo social. Faço jornalismo de comportamento. Sou maluca por novidades, onde quer que elas estejam. Fui buscá-las na noite, na moda, na música, depois nas artes, na tecnologia. O que tentei fazer aqui era tirar uma polaroid do mundo ao meu redor, tentando causar uma surpresa por dia.
Ao longo do tempo, conquistei o prêmio maior: a silenciosa cumplicidade que conseguem os colunistas. O leitor reclama um dia, concorda com a gente em outro, mas segue lendo. Tenho companheiros de anos, pessoas as mais inusitadas que se lembram de momentos ou colunas específicas, que guardam recortes, imprimem textos. Gente que me aborda do nada e fala: acompanho seu trabalho. É para eles esta coluna.

Tomando uma sopa gelada...

Vingança é um prato que se serve frio. É assim o ditado? Pois é tomando sopa gelada que me sinto diante de alguns personagens que apareceram aqui em minhas páginas. Quantas e quantas vezes ouvi que "eu só falo de meus amigos"? Pois em tantos anos, era para eu ter 1 milhão deles, como o Rei. Nesta despedida, como prato principal, tomo a liberdade então de fazer isso: vejo fotos de amigos, de pessoas importantes para mim, momentos pessoais e profissionais. Tive razão.
Johnny Luxo, por exemplo, passou de freak do cursinho a celebridade nacional. Alexandre Herchcovitch, que eu descobri costurando roupa para a drag-queen Marcia Pantera e sempre fui criticada por "promover", tornou-se (mérito dele) o mais importante estilista brasileiro dos novos tempos, com recorde de produtos licenciados. Será que toda essa gente é amiga dele também?
Escrevendo sobre moda desde 89, tive o enorme prazer de cobrir, aqui, todas as temporadas de desfiles da recente história brasileira, desde o primeiríssimo Phytoervas Fashion. E a oportunidade de assistir a momentos fundamentais também para a moda internacional, que cubro desde 93, como o desfile hippie da Gucci; a coleção das noivas de Yohji Yamamoto; o carrossel do terror de Alexander McQueen; as mergulhadoras da Balenciaga de Nicolas Ghesquière. E a despedida de Tom Ford, a estréia de Stella, a de Phoebe Philo, a de Stefano Pilatti. A da Marni. Muitos de Marc Jacobs, que amo. Muitos de Helmut Lang, que adoro. E os históricos da Prada, claro.
Sem falar nas supermodels inacreditáveis que vi desfilar e que entrevistei ao vivo: Linda, Cindy, Claudia, Kate, Naomi... E Gisele, claro, inesquecível para mim num desfile da Versace, uma das mais incríveis imagens femininas que já vi. Nas páginas de "Atitude" (quem lembra?), trazíamos a moda que mudava no planeta, com novos fotógrafos, modelos e estilos, quando a rua virou o jogo e ficou mais importante que as passarelas. Saber moda é ter tempo de janela: olhar o que se passa e refletir. Só agora começo a entender. Por sorte ainda é cedo.


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