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ERIKA PALOMINO
GERACIONAL, NOITE ILUSTRADA AGORA É NOME DE TÚNEL
Nem sei por onde começar.
Como rever 17 anos em
duas páginas? Em vez de
tentar cronologias, datas,
retrospectivas, preferi seguir
flashes que espoucaram em minha cabeça nos últimos dias.
Além disso, memória clubber é
meio omelete mesmo...
Só sei que, em 88, a acid house
explodia, trazendo um novo
movimento de quadris ao mundo. Era uma tal de cultura club,
que lentamente começava a respingar por aqui com roupas extravagantes e comportamentos
mais liberados. O mundo
aprendia a conviver com a Aids.
Em São Paulo cabíamos, como
disse Marcelo Rubens Paiva
num texto histórico, numa
Kombi. Tempos difíceis para o
Brasil, e no ano de minha estréia
como colunista o presidente da
República sofria um impeachment. Lembramos do resto.
De lá para cá, 13 anos se passaram. Ainda não tenho o distanciamento necessário para análises inteligentes. Também deixo
isso para as dezenas de estudiosos que perdem tempo com teses acadêmicas sobre esta coluna e sobre sua linguagem tosca.
Da minha parte, tentando ao
máximo evitar sentimentos de
nostalgia, identifico a inexorável mudança dos tempos com a
perda de uma certa ingenuidade
-minha e do país. Conjugo da
tristeza geral diante de tudo,
ainda que minha esperança em
relação ao futuro siga brasileiramente impoluta.
De 88 até aqui, os 13 da Kombi
se transformaram em 2 milhões
na Parada Gay, em uns 200 mil
na parada eletrônica, em uns 80
mil nos festivais pagos. Mas sem
jornalismo de números. Prefiro
me ligar na importância do que
relatei aqui. Vieram gays, drag
queens, travestis e bolachas (as
lésbicas até então invisíveis).
Em seu hedonismo, vieram as
barbies descamisadas e os insones clubbers, atravessando madrugadas dançando gêneros
musicais que se modificavam a
cada fim-de-semana.
A juventude brasileira se tornava globalizada e, aos poucos,
passou a liderar o planeta em talento, "savoir-faire" e energia. E
Marky, um garoto vindo das periferias da cidade, transformou-se em herói.
São Paulo tornou-se referência internacional de música,
moda e noite. Nosso complexo
de povo colonizado se transformou em auto-estima. Esta coluna conseguiu, felizmente, prever e acompanhar a mudança
dos ventos, como a chegada do
electro, a poderosa entrada do
funk e, finalmente, a ascensão
do rock. Missão cumprida.
A premiação dos dez anos da
votação dos meus leitores, chamada Melhores da Noite Ilustrada, aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo em 2002.
Foi um dos momentos mais importantes da minha vida. Todo
mundo estava lá, incluindo o
sambista Noite Ilustrada, que
inspirou o nome da coluna. Recentemente, o túnel por onde
passo para chegar em casa, o
buraco da Rebouças para o Pacaembu, foi batizado com o nome dele. E eu sorrio toda vez que vejo a placa.
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