São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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"Layla" conta vida com lendas do rock

Pattie Boyd, musa de George Harrison e Eric Clapton, relata traições e alcoolismo dos ex-maridos em autobiografia

Aos 63, a ex-modelo que inspirou uma das canções mais famosas de Clapton descreve os 20 anos em que viveu com os guitarristas

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Eric amava Pattie que amava George, que perdeu o páreo depois que o amigo passou em sua mulher a mais notória cantada da história do rock'n'roll.
O triângulo amoroso desenhado no início dos anos 70 com os versos de "Layla" -que Eric Clapton compôs ao se apaixonar por Pattie Boyd, mulher de George Harrison- ganha, quase 40 anos depois, uma outra voz: a da própria musa.
Aos 63, a ex-modelo inglesa que foi casada com dois dos maiores guitarristas do mundo e inspirou clássicos do rock decidiu contar a sua versão em "Wonderful Tonight: George Harrison, Eric Clapton and Me", lançada neste mês nos EUA e no Reino Unido, em co-autoria com a jornalista Penny Junor.
Uma versão que derruba idéias como a que atribui a Clapton a culpa pelo fim do primeiro casamento de Harrison.
O ex-Beatle estava longe de ser um pobre rapaz abandonado, e, pelo que o livro deixa claro, conquistar Pattie não contribuiu em nada para "acalmar a mente angustiada" de Clapton, como sugeria a canção.
A autobiografia descreve parte do cenário que abrigou o melhor da produção musical daqueles anos na Inglaterra. É a visão de alguém que esteve perto dos Beatles até depois do fim (ela começou a namorar Harrison em 1964, casou-se em 1966 e deixou sua casa em 1974) e morou com Clapton durante boa parte da carreira solo do guitarrista, de 1974 a 1986. Pattie fala sobre a vida, as festas e as drogas na mansão do primeiro marido e relata como o alcoolismo interferiu na rotina de seu segundo companheiro.
"Parte do meu trabalho, após ler cartas e diários que ela reuniu desde os anos 60, foi convencê-la a contar coisas que a faziam se sentir desconfortável", conta a co-autora Penny à Folha, por telefone, de Londres. Um desses pontos foi a confirmação do caso entre Harrison e Maureen, mulher do colega Ringo Starr. Embora seja conhecido por fãs mais inteirados, a autora diz que a biografada relutou em tocar no assunto. Acabou contando porque foi esse, afinal, o real motivo do fim do casamento.
Torna a questão mais difícil o fato de tanto Maureen quanto Harrison não estarem vivos -ele morreu com câncer em 2001. "Muita gente sabe que aconteceu", defende Penny.
O casamento entrou em crise ainda nos anos 60, quando os Beatles voltaram de uma viagem à Índia e Pattie passou a estranhar o marido, "que alternava meses de sobriedade e meditação com outros em que bebia e usava muita cocaína".
O que era pouco se comparado ao que ela viveria ao lado de Clapton, a partir de 1974. Também infiel, ele "precisava de álcool", o que o tornava, às vezes, "amável e cuidadoso", e outras, "colérico e fechado".
"Eric saiu da heroína para o álcool sem piscar", relata a ex-modelo na autobiografia. "Ele começava de manhã e bebia até as quatro da tarde, quando Roger Forrester, o seu agente, o fazia parar." Forrester sabia que, se Clapton parasse de beber à tarde, teria tempo para ficar sóbrio até os shows. "Se tomasse chá àquela altura do dia, ele não saberia dizer a diferença", continua Pattie.
Para Penny, ficou a impressão de que, "de certa maneira", foi George o grande amor de Pattie. "Ela diz que não se arrepende de nada porque adorava o Eric. Mas sente que talvez pudesse não ter deixado George."
"Sobrevivente"
Pattie hoje vive sozinha em uma casa de campo. "É uma sobrevivente", define Penny. "Quando deixou Eric, estava muito machucada. Agora, ela se sente uma mulher completa", conta. Embora "ser uma mulher completa", aqui, inclua viver de contar o passado -em 2005, ela abriu em San Francisco a mostra "Through the Eye of a Muse" (pelo olhar de uma musa), com fotos de seus tempos com os dois ex-maridos.
De Clapton, é uma "amiga, não tão boa". "Decidimos que ele não leria no livro nada do que já não soubesse", diz a jornalista, que acredita que "ele será ainda mais crítico consigo em sua própria autobiografia".
O músico, que já teve uma biografia autorizada ("Clapton!", de Ray Coleman), lança, em outubro, "Clapton: the Autobiography". E, a julgar pela apresentação publicada no site Amazon.com, a autora está certa. "Descobri um padrão no meu comportamento que se repetiu por anos, até décadas. Más escolhas foram a minha especialidade", diz texto assinado pelo guitarrista.


WONDERFUL TONIGHT: GEORGE HARRISON, ERIC CLAPTON AND ME
Autoras:
Pattie Boyd e Penny Junor
Editora: Harmony (EUA) e Headline (Reino Unido)
Quanto: US$ 17 (R$ 34), mais taxas, em www.amazon.com; 336 págs.


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