|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Layla" conta vida com lendas do rock
Pattie Boyd, musa de George Harrison e Eric Clapton, relata traições e alcoolismo dos ex-maridos em autobiografia
Aos 63, a ex-modelo que inspirou uma das canções mais famosas de Clapton descreve os 20 anos em que viveu com os guitarristas
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
Eric amava Pattie que amava
George, que perdeu o páreo depois que o amigo passou em sua
mulher a mais notória cantada
da história do rock'n'roll.
O triângulo amoroso desenhado no início dos anos 70
com os versos de "Layla" -que
Eric Clapton compôs ao se
apaixonar por Pattie Boyd, mulher de George Harrison- ganha, quase 40 anos depois, uma
outra voz: a da própria musa.
Aos 63, a ex-modelo inglesa
que foi casada com dois dos
maiores guitarristas do mundo
e inspirou clássicos do rock
decidiu contar a
sua versão em "Wonderful Tonight: George Harrison, Eric
Clapton and Me", lançada neste mês nos EUA e no Reino
Unido, em co-autoria com a
jornalista Penny Junor.
Uma versão que derruba
idéias como a que atribui a
Clapton a culpa pelo fim do primeiro casamento de Harrison.
O ex-Beatle estava longe de ser
um pobre rapaz abandonado, e,
pelo que o livro deixa claro,
conquistar Pattie não contribuiu em nada para "acalmar a
mente angustiada" de Clapton,
como sugeria a canção.
A autobiografia descreve parte do cenário que abrigou o melhor da produção musical daqueles anos na Inglaterra. É a visão de alguém que esteve perto dos Beatles até depois do fim
(ela começou a namorar Harrison em 1964, casou-se em 1966
e deixou sua casa em 1974) e
morou com Clapton durante
boa parte da carreira solo do
guitarrista, de 1974 a 1986. Pattie fala sobre a vida, as festas e
as drogas na mansão do primeiro marido e relata como o alcoolismo interferiu na rotina
de seu segundo companheiro.
"Parte do meu trabalho, após
ler cartas e diários que ela reuniu desde os anos 60, foi convencê-la a contar coisas que a
faziam se sentir desconfortável", conta a co-autora Penny à
Folha, por telefone, de Londres. Um desses pontos foi a
confirmação do caso entre Harrison e Maureen, mulher do colega Ringo Starr. Embora seja
conhecido por fãs mais inteirados, a autora diz que a biografada relutou em tocar no assunto.
Acabou contando porque foi
esse, afinal, o real motivo do
fim do casamento.
Torna a questão mais difícil o
fato de tanto Maureen quanto
Harrison não estarem vivos
-ele morreu com câncer em
2001. "Muita gente sabe que
aconteceu", defende Penny.
O casamento entrou em crise
ainda nos anos 60, quando os
Beatles voltaram de uma viagem à Índia e Pattie passou a
estranhar o marido, "que alternava meses de sobriedade e
meditação com outros em que
bebia e usava muita cocaína".
O que era pouco se comparado ao que ela viveria ao lado de
Clapton, a partir de 1974. Também infiel, ele "precisava de álcool", o que o tornava, às vezes,
"amável e cuidadoso", e outras,
"colérico e fechado".
"Eric saiu da heroína para o
álcool sem piscar", relata a ex-modelo na autobiografia. "Ele
começava de manhã e bebia até
as quatro da tarde, quando Roger Forrester, o seu agente, o
fazia parar." Forrester sabia
que, se Clapton parasse de beber à tarde, teria tempo para ficar sóbrio até os shows. "Se tomasse chá àquela altura do dia, ele não saberia dizer a diferença", continua Pattie.
Para Penny, ficou a impressão de que, "de certa maneira",
foi George o grande amor de
Pattie. "Ela diz que não se arrepende de nada porque adorava
o Eric. Mas sente que talvez pudesse não ter deixado George."
"Sobrevivente"
Pattie hoje vive sozinha em
uma casa de campo. "É uma sobrevivente", define Penny.
"Quando deixou Eric, estava
muito machucada. Agora, ela se
sente uma mulher completa",
conta. Embora "ser uma mulher completa", aqui, inclua viver de contar o passado -em
2005, ela abriu em San Francisco a mostra "Through the Eye
of a Muse" (pelo olhar de uma
musa), com fotos de seus tempos com os dois ex-maridos.
De Clapton, é uma "amiga,
não tão boa". "Decidimos que
ele não leria no livro nada do
que já não soubesse", diz a jornalista, que acredita que "ele
será ainda mais crítico consigo
em sua própria autobiografia".
O músico, que já teve uma
biografia autorizada ("Clapton!", de Ray Coleman), lança,
em outubro, "Clapton: the Autobiography". E, a julgar pela
apresentação publicada no site
Amazon.com, a autora está certa. "Descobri um padrão no
meu comportamento que se repetiu por anos, até décadas.
Más escolhas foram a minha
especialidade", diz texto assinado pelo guitarrista.
WONDERFUL TONIGHT:
GEORGE HARRISON, ERIC
CLAPTON AND ME
Autoras: Pattie Boyd e Penny Junor
Editora: Harmony (EUA) e Headline
(Reino Unido)
Quanto: US$ 17 (R$ 34), mais taxas,
em www.amazon.com; 336 págs.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Guitarristas foram amigos até a morte de Harrison, em 2001 Índice
|