São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2008

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Livro destaca Segall decorador e cenógrafo

Produção feita por artista nas décadas de 20 e 30 é analisada por sociólogo

Decoração de pavilhão de Olívia Guedes Penteado e cenografia de bailes de Carnaval da Spam são estudos da publicação


MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Cada época criou a sua arquitetura própria e daí vem que a pintura decorativa é, como a arquitetura, a expressão do momento." A importância que Lasar Segall (1891-1957) dá ao seu trabalho em decoração é um dos "achados" que o sociólogo Fernando Antonio Pinheiro Filho registra em "Lasar Segall -Arte em Sociedade", livro da Cosac Naify que ganha lançamento amanhã, em São Paulo. Celebrado como um grande nome do expressionismo no país e, recentemente, visto ainda como um pintor adepto do realismo -na mostra "Segall Realista", com curadoria de Tadeu Chiarelli-, o artista nascido na Lituânia e naturalizado brasileiro tem sua produção dos anos 20 e 30 em decoração e cenografia estudada com profundidade, que ajuda a entendê-la de modo mais completo. "Os trabalhos de decoração foram estratégicos para que Segall se aproximasse das frações da elite paulistana que cultivavam as artes e que já tinham se aproximado dos modernistas", diz Pinheiro Filho, professor de sociologia da USP. "No interior desse circuito e dessa rede de interdependências ele obterá as condições necessárias para sua consagração no Brasil." A decoração do Pavilhão de Arte Moderna de Olívia Guedes Penteado, em 1924 e 1925, e a cenografia para os bailes da Spam (Sociedade Pró-Arte Moderna), em 1933 e 1934, são projetos esmiuçados pelo autor que, segundo ele, foram fundamentais para que Segall se tornasse um "artista brasileiro". "Quando ele chega ao Brasil, já é um artista seguro de seus enormes recursos, mesmo na situação difícil de emigrado. Ele é obrigado a fazer uma tradução de seu repertório técnico para o ambiente brasileiro. Aí ganha sentido a valorização da pintura decorativa associada ao moderno, que combinou com o desejo de renovação simbólica do público", conta o autor. Nesse caso, o público deve ser entendido como "os amigos das artes", frações da elite paulistana que desejavam legitimar seus gostos com o moderno em voga, mas que ainda lidavam de maneira contraditória com as "novidades". Penteado, por exemplo, construiu seu pavilhão moderno como um anexo do seu palacete nos Campos Elíseos. A nova edificação abrigaria trabalhos de Brancusi e Léger, entre outros, além da decoração especialmente feita por Segall na entrada, nas paredes e nos tetos, enquanto a residência permaneceria ornada com obras acadêmicas.

Spam
Segall atestaria sua total inserção na elite intelectual e econômica paulistana com a criação da Spam, entidade que organizaria uma série de atividades (exposições, concertos, bailes) de arte moderna na cidade e que tinha o artista como um dos fundadores. A sociedade duraria pouco, de 1932 a 1934, e tinha composição variada: modernistas de 22, músicos como Camargo Guarnieri (1907-1993) e Francisco Mignone (1897-1986), e egressos de famílias tradicionais (Penteado, Almeida e Silva Telles etc). O ponto alto da Spam eram os bailes carnavalescos, eventos nos quais Segall tinha papel crucial. Da escolha do tema à divisão de tarefas, passando por coreografia e, em especial, cenografia, ele era o maior organizador das festas de Carnaval. Em 1934, na rua Martinico Prado, coordenou o baile "Expedição às Matas Virgens de Spamolândia", com cenografia inspirada na arte primitiva e na arte africana. Com animais exóticos e disformes, a decoração investiu em tons de ocre, terra, amarelo e laranja, criando um ambiente bastante particular.

LASAR SEGALL - ARTE EM SOCIEDADE
Autor: Fernando Antonio Pinheiro Filho
Editora: Cosac Naify
Quanto: R$ 42 (272 págs.)
Lançamento: amanhã, às 19h, no Canto Madalena (r. Medeiros de Albuquerque, 471, SP, tel. 0/xx/11/3813-6814)



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