São Paulo, quarta, 26 de agosto de 1998

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Howard Johnson vem ao Brasil mostrar o que a tuba tem

EDSON FRANCO
Editor de Veículos

Entre a minoria formada pelos jazzistas que se apresentam no Free Jazz deste ano, Howard Johnson -que toca no Rio em 17 de outubro e em São Paulo no dia seguinte- é o mais surpreendente.
E a surpresa acontece muito menos pelo estilo do músico-calcado no jazz mainstream, com toques de funk e fusion-, mas mais pela escolha do instrumento, a tuba, baixo de sopro que no Brasil é conhecido como bombardino.
Apesar de não ser pioneiro do uso que faz do instrumento -Red Callender, professor de Charles Mingus, goza desse privilégio-, Johnson abriu novos horizontes para a tuba, principalmente no que diz respeito aos arranjos.
Falando por telefone à Folha, de Hamburgo (Alemanha), Johnson diz que aprendeu a tocar de ouvido. "Nunca tive professores. Precisei desenvolver o ouvido e a curiosidade. Quando ouvia arranjos de Gil Evans, eu dizia: "Uau! Como ele faz isso?'. Então eu decifrava o arranjo nota por nota."
Como um músico interessado nas sutilezas harmônicas de Evans pôde escolher um instrumento grave e -antes de Johnson- limitado como a tuba?
"Eu sempre quis ser um músico de jazz e amava a tuba. Então quis tocar a música que amo no instrumento que amo. Na época, eu não sabia que tantas pessoas podiam gostar disso."
Intuitivamente, Johnson passou a usar a tuba numa função pouco usual no jazz, como um instrumento solista. E é aí que reside a importância e o ineditismo de Johnson. Ele toca tuba com a agilidade e a clareza dos trompetistas.

Racismo
Johnson nasceu em Montgomery, Alabama, uma das cidades onde os conflitos raciais no sul dos EUA chegaram ao paroxismo. Apesar de ter sido criado em Ohio, o músico não escapou dos problemas raciais em sua cidade natal.
"Eu vivia no norte, onde havia mais liberdade. Quando ia a Montgomery para ver minha avó, sempre dizia as coisas erradas para as pessoas brancas. Meu maior problema foi não ter aprendido a ter medo dos brancos."
E, sem medo, Johnson começou a associar sua tuba a músicos que estavam dando passos adiante na história do jazz. Em 1963, ele mudou para Nova York e lá conheceu Charles Mingus.
"Conheci Mingus na minha primeira semana na cidade. Eu fui a um clube vê-lo tocar. Perguntei a ele se ainda havia lugar para um tocador de tuba em sua banda, e ele disse: "Don Butterfield é o meu tubista'."
Um ano e meio depois, Johnson conquistou um lugar na banda de Mingus e passou a ser convocado para acompanhar músicos que idolatrava na infância. Além de Mingus, ele se orgulha de ter tocado -e aprendido coisas novas- com Gil Evans e McCoy Tyner.
"Mingus e Evans queriam que eu superasse as limitações de um tocador de tuba. Com McCoy, era um desafio. Ele tem uma visão pessoal da música e compõe peças harmonicamente complicadas."
Sem preconceitos, Johnson já emprestou sua tuba e seu talento como arranjador para músicos pop como John Lennon, The Band, Paul Simon e Chaka Khan.
Apesar de se dizer aberto a outras sonoridades, ele afirma não estar satisfeito com o jazz que é produzido hoje. "Os músicos jovens têm muita técnica. Eu às vezes toco com esses músicos e me sinto démodé. Eles usam muito mais a cabeça do que o coração."

Show
Um festival como o Free Jazz não propicia o tipo de show que mais agrada a Johnson. "Gostamos de dar duas entradas. Como teremos pouco tempo, vamos tocar as melhores músicas dos últimos discos e algumas coisas inéditas."
Entre as inéditas, estão algumas músicas de Nedra Johnson, que canta e toca tuba, como o pai.



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