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Howard Johnson vem ao Brasil mostrar o que a tuba tem
EDSON FRANCO
Editor de Veículos
Entre a minoria formada pelos
jazzistas que se apresentam no
Free Jazz deste ano, Howard Johnson -que toca no Rio em 17 de
outubro e em São Paulo no dia seguinte- é o mais surpreendente.
E a surpresa acontece muito menos pelo estilo do músico-calcado no jazz mainstream, com toques de funk e fusion-, mas mais
pela escolha do instrumento, a tuba, baixo de sopro que no Brasil é
conhecido como bombardino.
Apesar de não ser pioneiro do
uso que faz do instrumento -Red
Callender, professor de Charles
Mingus, goza desse privilégio-,
Johnson abriu novos horizontes
para a tuba, principalmente no
que diz respeito aos arranjos.
Falando por telefone à Folha, de
Hamburgo (Alemanha), Johnson
diz que aprendeu a tocar de ouvido. "Nunca tive professores. Precisei desenvolver o ouvido e a curiosidade. Quando ouvia arranjos
de Gil Evans, eu dizia: "Uau! Como ele faz isso?'. Então eu decifrava o arranjo nota por nota."
Como um músico interessado
nas sutilezas harmônicas de Evans
pôde escolher um instrumento
grave e -antes de Johnson- limitado como a tuba?
"Eu sempre quis ser um músico
de jazz e amava a tuba. Então quis
tocar a música que amo no instrumento que amo. Na época, eu não
sabia que tantas pessoas podiam
gostar disso."
Intuitivamente, Johnson passou
a usar a tuba numa função pouco
usual no jazz, como um instrumento solista. E é aí que reside a
importância e o ineditismo de
Johnson. Ele toca tuba com a agilidade e a clareza dos trompetistas.
Racismo
Johnson nasceu em Montgomery, Alabama, uma das cidades
onde os conflitos raciais no sul dos
EUA chegaram ao paroxismo.
Apesar de ter sido criado em Ohio,
o músico não escapou dos problemas raciais em sua cidade natal.
"Eu vivia no norte, onde havia
mais liberdade. Quando ia a
Montgomery para ver minha avó,
sempre dizia as coisas erradas para
as pessoas brancas. Meu maior
problema foi não ter aprendido a
ter medo dos brancos."
E, sem medo, Johnson começou
a associar sua tuba a músicos que
estavam dando passos adiante na
história do jazz. Em 1963, ele mudou para Nova York e lá conheceu
Charles Mingus.
"Conheci Mingus na minha primeira semana na cidade. Eu fui a
um clube vê-lo tocar. Perguntei a
ele se ainda havia lugar para um
tocador de tuba em sua banda, e
ele disse: "Don Butterfield é o
meu tubista'."
Um ano e meio depois, Johnson
conquistou um lugar na banda de
Mingus e passou a ser convocado
para acompanhar músicos que
idolatrava na infância. Além de
Mingus, ele se orgulha de ter tocado -e aprendido coisas novas-
com Gil Evans e McCoy Tyner.
"Mingus e Evans queriam que
eu superasse as limitações de um
tocador de tuba. Com McCoy, era
um desafio. Ele tem uma visão
pessoal da música e compõe peças
harmonicamente complicadas."
Sem preconceitos, Johnson já
emprestou sua tuba e seu talento
como arranjador para músicos
pop como John Lennon, The
Band, Paul Simon e Chaka Khan.
Apesar de se dizer aberto a outras sonoridades, ele afirma não
estar satisfeito com o jazz que é
produzido hoje. "Os músicos jovens têm muita técnica. Eu às vezes toco com esses músicos e me
sinto démodé. Eles usam muito
mais a cabeça do que o coração."
Show
Um festival como o Free Jazz não
propicia o tipo de show que mais
agrada a Johnson. "Gostamos de
dar duas entradas. Como teremos
pouco tempo, vamos tocar as melhores músicas dos últimos discos
e algumas coisas inéditas."
Entre as inéditas, estão algumas
músicas de Nedra Johnson, que
canta e toca tuba, como o pai.
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