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CRÍTICA
Disco mistura rock progressivo, lounge e chorinho
da Reportagem Local
A quem sinta falta de consistência na atual MPB, o Mundo Livre
S.A. sempre andou fornecendo
tratados de consistência ao pop.
Pois bem, "Carnaval na Obra"
vem aprofundar um pouco mais
essa tendência.
É o CD mais complexo da banda,
após a estréia no tapa com "Samba Esquema Noise" (94) e o melódico "Guentando a Ôia" (96)
-por complexo, pode-se ler difícil, pesado, pouco palatável.
De cara (talvez para compensar
o atraso sempre colado nos calcanhares da banda), é um CD longuíssimo -70 minutos de duração, 14 faixas extensas. As melodias, por vezes, são menos fluentes que outras que o grupo já fez.
E há as sempre constantes preocupações políticas de Fred Zero
Quatro -as referências englobam
lobistas ("Negócio do Brasil"),
"imprensa livre" ("Novos Eldorados"), terrorismo ("Quem
Tem Bit Tem Tudo", com participação de Anónimo, da banda mexicana Café Tacuba), proletariado
terceiro-mundista ("Bolo de
Ameixa", "Carnaval na Obra").
Tudo isso torna o CD -e isso é
regra no pop pernambucano dos
90- passível de receber aquele rótulo infame de "álbum conceitual". "Carnaval na Obra" se encaixa no rótulo ainda mais por
flertar, em várias passagens, com
o antes aparentemente morto e
enterrado rock progressivo.
Há faixas climáticas, espaciais (a
belíssima "Quarta Parede",
"Compromisso de Morte", a
bem lounge "Meu Quinto Elemento"). Zero Quatro admite ter
ouvido Yes nos 70, confessa-se admirador do neoprogressivo Radiohead e diz ouvir elementos
progressivos em "Homogenic",
de Björk. É o dado novo (e neo-retrô) no trabalho da banda, mas
não o mais evidente, até porque a
gana pela fuga da pureza é questão
de honra para o Mundo Livre.
Há samba à Paulinho da Viola
-a faixa mais samba-choro tem o
provocativo título de "Ultrapassado", e é quase lounge. Há percussão baiana tipo Olodum, em
"Bolo de Ameixa", que Caetano
fase "Livro" podia ter inventado.
E há Jorge Ben, claro. "Maroca", da linhagem das canções de
mangue que exaltam nomes femininos -houve antes "Risoflora"
(da Nação Zumbi) e "Leonor"-,
parodia as mulheres de Ben (Domingas, Domênica, Tereza, Bebete, Luciana), com todos os vocalises e prolongamentos de sílabas
do fundador. E é drum'n'bass.
Mas, ainda que forrado de secas
bateria e percussão, "Carnaval na
Obra" é um disco de rock'n'roll
brasileiro, sem medo das implicações que isso pode trazer. Peitar
rock nacional a essa altura, com
cavaquinho, pandeiro e percussão, significa que a complexidade,
no país do axé, não é um bicho de
sete cabeças.
(PAS)
Disco: Carnaval na Obra
Grupo: Mundo Livre S.A.
Lançamento: Excelente/Abril Music
Quanto: R$ 18, em média
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