BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

No começo dos anos 90 existia um músico que liderava uma das mais bem-sucedidas bandas de rock dos EUA, dava vexames públicos em nome do consumo de doses cavalares de drogas e era visto com a também encrenqueira cantora Courtney Love.
A história do cantor norte-americano Evan Dando, 36, parecia seguir a mesma trilha do suicida Kurt Cobain (1967-94) [vocalista do Nirvana]. Como líder do Lemonheads, Dando encarnou a figura do perdedor alto-astral, irônico, que ria das próprias desgraças ao cantar tolas canções sobre camisetas e skates. Uma morte não tardou a vir: a artística, com o fim do Lemonheads.
Após um período de sete anos de reclusão, Dando retorna ao mundo dos astros pop vivos com "Baby I'm Bored", seu primeiro disco solo oficial.
"Estou limpo agora. Consigo me divertir muito mais; antes, precisava me drogar para fazer qualquer coisa", diz. "Comecei a cantar e a tocar guitarra aos dez anos, e comecei a usar drogas aos 11." Seja nas letras das músicas ou em entrevistas, Dando gosta de confundir o interlocutor.
"Baby", disco calmo, quase acústico, com letras que guardam semelhanças com episódios de sua vida, é descrito por ele como "uma coleção de barulhos". Diz ainda que o álbum não é tão confessional como parece, e que o título (Baby, estou entediado) não reflete seu estado de espírito.
A canção "Why Do You Do This to Yourself", por exemplo, traz versos como "Fiquei acordado por 14 dias/ depois dormi por uma semana/ por que você faz isso para você mesmo?".
Dando, no entanto, não quer adotar o discurso de um junkie arrependido. "Muitas pessoas fazem melhores músicas quando estão sob o efeito de drogas. Não estou dizendo que nunca mais volte a usar nada."
A reclusão e a "limpeza" fizeram bem à sua música. "Baby" I'm Bored" lembra os melhores momentos do Lemonheads, com um pouco mais de melancolia.
"Não há diferenças entre a minha carreira solo e o Lemonheads. Desde 1990 a banda [formada em 1984] era um projeto solo."
Dando nunca levou muito a sério sua carreira. No auge, chegou a ser eleito o homem mais sexy do planeta pela revista "People". "O excesso de fama prejudicou minha credibilidade como músico. Reagia às coisas como se tudo fosse uma grande piada."
Se no passado o músico era acusado de fútil, um "lemon head" (cabeça de limão), hoje ele ensaia opiniões políticas. "As coisas que os EUA fazem aos outros países em nome da guerra às drogas me fazem ter nojo de ser americano. Amo e odeio meu país."

Shows no Brasil
Foi no espírito inconsequente que aterrissou no Brasil, em 1994 e 1997, para séries de shows. "Não me lembro de quase nada. Peço desculpas aos brasileiros por estar tão bêbado naqueles dias." Promete que a trapalhada não se repetirá nos shows que fará no país em janeiro de 2004, em turnê que passará por SP e Rio de Janeiro, e talvez Curitiba e Santos.