São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2007

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Gueixa e maluca

Elza Soares, que lança seu primeiro DVD, recebe a Ilustrada em casa e diz ter uma face caseira e outra "doidcha"

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Elza Soares em seu apartamento em Copacabana; ela faz shows hoje no Rio e, em SP, em outubro


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Elza Soares aparece na sala de sua casa -um amplo apartamento com vista para a orla de Copacabana e paredes cheias de imagens da cantora- trajada de Elza Soares: vestido estampado curto, botas pretas longas e maquiagem pesada. Mas não é exatamente Elza Soares quem está ali.
Em primeiro lugar, ela ainda está alquebrada pela virose que a derrubou na semana passada. Em segundo lugar, está em casa, onde não canta nem no chuveiro. "Vou cantar para ninguém? Por quê?", pergunta.
O lugar mesmo de Elza Soares, a que o público conhece (ou devia conhecer), é o palco, como mostra seu primeiro DVD, "Beba-me", que chega às lojas na próxima semana.
O CD já chegou e tem shows de lançamento hoje no Canecão, no Rio, e entre os dias 5 e 7 de outubro no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.
"Existem duas Elzas diferentes. A de casa é sossegada, gosta de ir para a cozinha preparar comidinha para o maridão [o rapper Anderson Lugão, 31], é uma gueixa. A do palco é extrovertida, completamente "doidcha". Depois de um show, eu demoro muito a relaxar. Tenho que falar para a Elza: "vai embora, mulher, deixa a outra descer'", conta.
Elza fala de "Elza", a personagem, em algumas faixas do CD e do DVD, como "Dura na Queda", que Chico Buarque fez para ela ("na estrada d'Elza", improvisa), e "Lata d'Água", samba de Luís Antonio e Jota Jr. que é uma de suas marcas ("Lata d'água na cabeça/ Lá vai a Elza", canta, lembrando sua infância pobre na área que hoje é a favela da Vila Vintém, na zona oeste carioca).
O DVD oferece a possibilidade de se ter uma cópia de algo que é único: um show de Elza Soares.
Ela usa várias das suas vozes, samba, dança, improvisa, provoca a platéia. Nem dá para perceber que os shows de março deste ano no Sesc Vila Mariana foram gravados um mês depois de ela fazer, a contragosto, uma cirurgia para se tratar de uma diverticulite.

Sangue, suor e raça
"A gravação ia ser em fevereiro. Fui ao médico dois dias antes e disse a ele que não ia operar de jeito nenhum. Que doença era essa? Ele falou: "É a que matou o Tancredo [Neves]". "Então, opera agora, doutor'", conta ela, que fez os shows com colostomia (canal direto do intestino com o lado de fora do corpo) e uma cinta que lhe arrancava pedaços da pele ao ser tirada.
"Fiz os shows com sangue, suor, raça, muita raça. Se não tivesse tanta gana, não faria", diz ela, para quem cantar não é diversão: "Ou eu canto, ou eu morro".


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