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Pedido de corte ameaça 28ª Bienal
Entre outros itens, presidente da fundação quer cortar performances já anunciadas, programa educativo e traduções
Para secretário-adjunto de Estado da Cultura, obter recursos seria difícil com "falta de credibilidade" de Manoel Pires da Costa
Eduardo Knapp - 23.abr.08/Folha Imagem
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O curador da 28ª Bienal de São Paulo, Ivo Mesquita, no pavilhão onde acontece a mostra com abertura prevista para 26 de outubro
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A "Bienal do Vazio", programada para ser aberta ao público
em um mês, corre o risco de ficar ainda mais vazia. No último
dia 11, o presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Manoel Francisco Pires da Costa,
pediu ao curador da mostra, Ivo
Mesquita, que cortasse nada
menos que 40% do orçamento
do projeto, indicando inclusive
quais áreas deveriam sofrer redução ou mesmo ser eliminadas, entre elas as performances
de Fischerspooner e do coreógrafo Ivaldo Bertazzo.
Tal corte foi contestado num
e-mail enviado por Mesquita a
Pires da Costa, no dia 12, ao
qual a Folha teve acesso. "Agora é chegada a hora da presidência comparecer e fazer a
parte dela [...]. Não podemos
abrir a Bienal com ela parecendo desfalcada e mirrada", disse
o curador na longa correspondência, com nove itens.
"Ajustes e acertos são absolutamente normais nesse processo. Mais ainda em projetos
do porte e complexidade de
uma Bienal. [...] Praticamente
metade do orçamento previsto
para a realização da exposição
(R$ 8 milhões) já foi captado",
afirma Pires da Costa, em nota
enviada à Folha, ontem, após
ter recebido sete questões da
reportagem. Ao invés de responder as questões pontualmente, o presidente mandou
um texto genérico, deixando de
abordar alguns pontos, como o
que se referia à manutenção da
gratuidade da mostra para o
público mesmo frente aos problemas de captação. (Leia a nota na íntegra abaixo).
Verbas públicas
Nas últimas três edições, a
Bienal teve a maior parte de
seus gastos custeados pelo governo federal, por meio de
emendas da bancada paulista
no Congresso ao Orçamento da
União. Em 2002, por exemplo,
para a 25ª Bienal, foram alocados cerca de R$ 11 milhões dessa forma. Na Bienal passada, a
contribuição da União foi de
cerca de R$ 8 milhões -para
um orçamento divulgado de
cerca de R$ 12 milhões, que ainda não foram repassados na íntegra, segundo Pires da Costa.
Agora, em 2008, a Bienal não
conseguiu repasse por meio
desse dispositivo, já que ele foi
alocado para o Projeto Guri, da
Secretária de Estado da Cultura. "Isso não foi uma retaliação
contra a Bienal, talvez nosso
projeto fosse mais bem feito",
diz Ronaldo Bianchi, secretário-adjunto de Cultura do Estado de São Paulo. Contudo, no
ano passado, Bianchi enviou
correspondência aos conselheiros da Fundação Bienal na
qual defendia a renúncia de Pires da Costa e, segundo ele,
alertou o presidente que com a
sua "falta de credibilidade seria
difícil a captação de recursos
para a 28ª Bienal".
No Ministério da Cultura, há
três projetos inscritos para
captação de recursos para a 28ª
Bienal, por meio da Lei de Incentivo à Cultura: um arquivado, no valor de R$ 3,1 milhões;
outro retirado de pauta, no valor de R$ 6 milhões, por "falta
de documentos e para ajustes
na planilha orçamentária"; e o
terceiro aprovado para obter
R$ 3,6 milhões, mas que, até
ontem, segundo o site do ministério, não tinha conseguido
nenhuma captação.
Cortes graves
Em seu email, Mesquita comenta sobre os cortes propostos em seis áreas: educativo, arquitetura, traduções, assessoria de imprensa, documentação
fotográfica da mostra e as performances do coreógrafo Ivaldo Bertazzo, do grupo norte-americano Fischerspooner e da
banda Los Super Elegantes.
"Cortar o educativo é grave.
Esta é uma instituição pública e
que presta um serviço para a
comunidade", escreve Mesquita. Para o curador, "o corte do
mesmo seria extremamente
danoso para a imagem institucional da fundação porque existem recursos alocados para a
Bienal que contemplam especificamente o seu plano educativo e [...] eles até já foram usados
sobre essa rubrica".
Outro trecho relevante da
correspondência aborda o corte proposto para as traduções
no site, no jornal e na tradução
simultânea das conferências.
"Eles [...] mostrariam que a
Fundação Bienal de São Paulo,
mesmo depois de 58 anos de
existência, ainda não se tornou
internacional e bilíngüe", afirma o curador.
Mesquita lembra a Pires da
Costa que quando o empresário precisou da "competência e
confiabilidade" do curador, ele
esteve presente e ajudando a
recuperar a imagem da Bienal.
Diz também que já há compromissos firmados, entre outros,
com os patronos da Tate Gallery, de Londres, e do Museu
de Arte Moderna de San Francisco para que compareçam ao
evento.
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