São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2008

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Pedido de corte ameaça 28ª Bienal

Entre outros itens, presidente da fundação quer cortar performances já anunciadas, programa educativo e traduções

Para secretário-adjunto de Estado da Cultura, obter recursos seria difícil com "falta de credibilidade" de Manoel Pires da Costa


Eduardo Knapp - 23.abr.08/Folha Imagem
O curador da 28ª Bienal de São Paulo, Ivo Mesquita, no pavilhão onde acontece a mostra com abertura prevista para 26 de outubro

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A "Bienal do Vazio", programada para ser aberta ao público em um mês, corre o risco de ficar ainda mais vazia. No último dia 11, o presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Manoel Francisco Pires da Costa, pediu ao curador da mostra, Ivo Mesquita, que cortasse nada menos que 40% do orçamento do projeto, indicando inclusive quais áreas deveriam sofrer redução ou mesmo ser eliminadas, entre elas as performances de Fischerspooner e do coreógrafo Ivaldo Bertazzo.
Tal corte foi contestado num e-mail enviado por Mesquita a Pires da Costa, no dia 12, ao qual a Folha teve acesso. "Agora é chegada a hora da presidência comparecer e fazer a parte dela [...]. Não podemos abrir a Bienal com ela parecendo desfalcada e mirrada", disse o curador na longa correspondência, com nove itens.
"Ajustes e acertos são absolutamente normais nesse processo. Mais ainda em projetos do porte e complexidade de uma Bienal. [...] Praticamente metade do orçamento previsto para a realização da exposição (R$ 8 milhões) já foi captado", afirma Pires da Costa, em nota enviada à Folha, ontem, após ter recebido sete questões da reportagem. Ao invés de responder as questões pontualmente, o presidente mandou um texto genérico, deixando de abordar alguns pontos, como o que se referia à manutenção da gratuidade da mostra para o público mesmo frente aos problemas de captação. (Leia a nota na íntegra abaixo).

Verbas públicas
Nas últimas três edições, a Bienal teve a maior parte de seus gastos custeados pelo governo federal, por meio de emendas da bancada paulista no Congresso ao Orçamento da União. Em 2002, por exemplo, para a 25ª Bienal, foram alocados cerca de R$ 11 milhões dessa forma. Na Bienal passada, a contribuição da União foi de cerca de R$ 8 milhões -para um orçamento divulgado de cerca de R$ 12 milhões, que ainda não foram repassados na íntegra, segundo Pires da Costa.
Agora, em 2008, a Bienal não conseguiu repasse por meio desse dispositivo, já que ele foi alocado para o Projeto Guri, da Secretária de Estado da Cultura. "Isso não foi uma retaliação contra a Bienal, talvez nosso projeto fosse mais bem feito", diz Ronaldo Bianchi, secretário-adjunto de Cultura do Estado de São Paulo. Contudo, no ano passado, Bianchi enviou correspondência aos conselheiros da Fundação Bienal na qual defendia a renúncia de Pires da Costa e, segundo ele, alertou o presidente que com a sua "falta de credibilidade seria difícil a captação de recursos para a 28ª Bienal".
No Ministério da Cultura, há três projetos inscritos para captação de recursos para a 28ª Bienal, por meio da Lei de Incentivo à Cultura: um arquivado, no valor de R$ 3,1 milhões; outro retirado de pauta, no valor de R$ 6 milhões, por "falta de documentos e para ajustes na planilha orçamentária"; e o terceiro aprovado para obter R$ 3,6 milhões, mas que, até ontem, segundo o site do ministério, não tinha conseguido nenhuma captação.

Cortes graves
Em seu email, Mesquita comenta sobre os cortes propostos em seis áreas: educativo, arquitetura, traduções, assessoria de imprensa, documentação fotográfica da mostra e as performances do coreógrafo Ivaldo Bertazzo, do grupo norte-americano Fischerspooner e da banda Los Super Elegantes.
"Cortar o educativo é grave. Esta é uma instituição pública e que presta um serviço para a comunidade", escreve Mesquita. Para o curador, "o corte do mesmo seria extremamente danoso para a imagem institucional da fundação porque existem recursos alocados para a Bienal que contemplam especificamente o seu plano educativo e [...] eles até já foram usados sobre essa rubrica".
Outro trecho relevante da correspondência aborda o corte proposto para as traduções no site, no jornal e na tradução simultânea das conferências. "Eles [...] mostrariam que a Fundação Bienal de São Paulo, mesmo depois de 58 anos de existência, ainda não se tornou internacional e bilíngüe", afirma o curador.
Mesquita lembra a Pires da Costa que quando o empresário precisou da "competência e confiabilidade" do curador, ele esteve presente e ajudando a recuperar a imagem da Bienal. Diz também que já há compromissos firmados, entre outros, com os patronos da Tate Gallery, de Londres, e do Museu de Arte Moderna de San Francisco para que compareçam ao evento.


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