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Obra de Jean Vigo foi alvo de censura
Vanguardista na forma, diretor, que fez apenas quatro filmes, foi visto como antimilitarista e anticlerical na França
Após a Segunda Guerra, trabalhos ganharam uma maior difusão na Europa; inspirado pelo pai, defendia um cinema de viés social
DA REPORTAGEM LOCAL
Jean Vigo era ainda menino
quando moldou para si um sonho improvável para a época:
fazer cinema. Descobrira as
imagens com seu tutor, o fotógrafo Gabriel Aubès. Decidiu
colocá-las em movimento. Auxiliado por amigos do pai, aproximou-se do cinema, em Paris,
mal terminou o liceu. Conseguiu uma vaga como ajudante
de operador na FrancoFilm.
Foi o sogro quem deu a ele o
dinheiro necessário para que
comprasse uma câmera Debrie.
Com o equipamento, saiu às
ruas para fazer o documentário
"A Propósito de Nice". "Em várias oportunidades, ele parecia
buscar uma espécie de simbolismo. Depois, deixou-se atrair
por um realismo duro à Von Sotroheim (...) Mas também se interessava pelas possibilidades
do expressionismo", descreve
Paulo Emílio Sales Gomes.
Os voos formais ganharam
altura em "Zero de Comportamento" (1933), título que se refere à nota que o impedia de
sair do internato. Nascido de
necessidade de "contar" e feito
com amigos, o filme ecoaria em
"Os Incompreendidos" (1959),
de François Truffaut.
Os meninos-atores eram todos do 19º arrondissement,
bairro popular parisiense; os
bombeiros foram vividos por
pintores e o papel de chefe de
polícia coube a um poeta. O improviso se deixa notar. Mas a
poesia espontânea também.
"Se, para uma antologia, fosse preciso escolher uma única
sequência representativa do
seu estilo, teria de ser a abertura de "Zéro de Conduite'", escreve Gomes, citando a "realidade modesta, mas bem cuidada, que termina na fantasia,
passando pelo esquisito".
Visto como instrumento de
agitação política, o filme foi
censurado na França. Vigo
também teria problemas no
trabalho seguinte, "Atalante".
Os distribuidores resistiram ao
filme, pouco convencional.
Com sérios problemas de saúde, agravados durante as filmagens, Vigo mal viu o filme ser
lançado. Morreu após as primeiras exibições. Seu estilo, tão
elogiado quando refutado à
época, passou a ser reconhecimento no pós-guerra. Agora,
chega ao Brasil. Inteiro. Irregular. Epifânico.
(APS)
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